Lavoura de ano
Antecipar o preparo é um segredo de bom manejo na safra .
Na busca de altos índices de produtividade, os produtores de arroz do Rio Grande do Sul, de uma maneira geral, estão acrescentando ao seu nível de conhecimento algumas regras já conhecidas, pouco inovadoras, mas que quebram paradigmas tradicionais e estão gerando um impacto positivo nos resultados da lavoura. Há muito se fala da necessidade de observar a época de plantio do arroz de acordo com a orientação agroclimatológica disponível. Mesmo assim, tradicionalmente, os orizicultores gaúchos optavam pelo chamado “preparo de inverno” ou o sistema convencional, dando início aos preparativos da nova safra a ser plantada somente a partir de agosto.
O preparo de inverno aproveitava, tradicionalmente, veranicos ocorridos nos meses de julho e agosto para adiantar o preparo. No caso do sistema convencional, os produtores entravam preparando o solo e plantando em seguida, a partir do final de setembro. O problema é que tradicionalmente, entre julho e os primeiros dias de outubro, é alto o volume de precipitações pluviométricas no estado, o que atrasa muito o preparo.
A dependência do clima é total e, normalmente, desfavorável ao produtor, pois ele acaba realizando boa parte da etapa de semeadura completamente fora de época na maioria das safras. “Este é o problema. O agricultor não pode depender sempre da boa vontade de São Pedro para formar sua lavoura”, explica o gerente da Divisão de Pesquisas do Irga, Maurício Fischer.
Para evitar esta incômoda situação de atraso no plantio e a perda da melhor época de luminosidade para o desenvolvimento da lavoura, nos meses de novembro, dezembro e janeiro, a orientação dos pesquisadores é para que os arrozeiros adotem o preparo antecipado (de verão). Após a colheita, a equipe entra na área que será trabalhada na próxima safra, realiza o entaipamento e o envaletamento e prepara antecipadamente o solo. Assim, há menor dependência do clima no segundo semestre, quando em algumas regiões já é possível iniciar o plantio de acordo com o clima e a temperatura do solo.
Seguro contra as chuvas que atrasam a semeadura
O pesquisador do Irga, Valmir Gaedke Menezes, um dos defensores do preparo antecipado, lembra que num ano em que ocorram chuvas mais intensas no Rio Grande do Sul o procedimento de preparo da lavoura pode ser prejudicado, com reflexos na produção final. “Se não sabemos o que vai acontecer com o clima na outra safra, que posição devemos tomar? Correr riscos e esperar para tentar fazer o preparo de inverno ou convencional, ou recorrer ao preparo de verão e deixar a lavoura pronta?”, questiona.
O próprio pesquisador responde: “O mais recomendado é ter 100% da área preparada antecipadamente, pois no primeiro momento em que houver condições de plantar na época adequada, será nessa tarefa que estarão concentrados os esforços dos produtores”, frisa. Segundo Menezes, a primeira atitude para manter a produtividade da lavoura é efetuar a semeadura na época certa. “Não adianta aumentar a quantia de fertilizantes, nitrogênio ou irrigar de forma mais precoce se perder a época ideal de plantio. O prejuízo estará estabelecido e todas as demais fases da lavoura estarão prejudicadas. O que começa errado, termina errado”, explica.
Questão básica
Embora reduza bastante o risco de interferência negativa do clima na formação da lavoura, o preparo antecipado de verão exige alguns cuidados importantes. Entre eles está a necessidade de estabelecer um bom sistema de drenagem, permitindo que mesmo após muita chuva, a água escoe normalmente sem o risco de enxurradas e erosões. A dessecação da área depende da cobertura vegetal, mas deve ocorrer de 20 a 30 dias antes da semeadura da lavoura. Essas recomendações se aplicam aos sistemas de cultivo mínimo ou plantio direto.
No caso do sistema convencional, o plantio segue sendo determinado no ritmo que o clima permitir. No caso de pequenas propriedades, como o modelo da depressão central gaúcha, onde predomina o cultivo convencional com capina para controle do arroz vermelho, a orientação é de uma gradual sistematização seguida pela adoção do sistema de cultivo pré-germinado. A tecnologia Clearfield também é recomendada como alternativa.
Uma receita para cada propriedade arrozeira
O tipo de preparo do solo, no Rio Grande do Sul, é muito variado e depende do equipamento disponível, das condições econômicas do produtor e da criatividade de cada comunidade, além dos sistemas de plantio e cultivo que são empregados. São utilizados desde o aplainamento, passando pelo gradeamento até a aração. “Pouco importa o sistema. O que interessa mesmo é que a lavoura esteja pronta na época de plantio adequada, para aproveitar os fatores climáticos favoráveis, facilitar o manejo e permitir que as cultivares possam expressar integralmente o seu potencial produtivo. E para isso, a opção que elimina riscos é o preparo antecipado de verão”, decreta o pesquisador Valmir Gaedke Menezes, do Irga.
Ele, porém, ressalva o caso das grandes lavouras, principalmente da campanha e fronteira-oeste, onde o sistema está sendo adotado gradualmente. “Pode ocorrer de, numa área de 500 hectares, o produtor ainda ter 50 hectares para preparar durante o inverno ou em setembro. O risco de problemas com o clima é menor, mas existe”, acrescenta.