Futuro incerto
Cautela e atenção ao mercado serão fundamentais para a busca de renda em 2011.
A grande pergunta do produtor de arroz em 2011 é como ter renda diante de um quadro que não indica recuperação de preços. Os especialistas consideram que a primeira medida já foi tomada no planejamento da safra, quando foram priorizadas áreas de menor custo e mais eficientes em produção e produtividade e de fácil irrigação.
Além do planejamento da lavoura, da eficiência no cumprimento das etapas de manejo e colheita é importante evitar perdas no transporte, secagem e armazenagem. Na hora de comercializar, porém, os problemas têm sido de mais difícil solução. Em primeiro lugar, o arrozeiro deve estar informado sobre o mercado e seus cenários e para quem vai vender. “Os mecanismos de comercialização ora disponíveis são importantes e o produtor deve aproveitar”, diz Tiago Sarmento Barata, da Agrotendências Consultoria em Agronegócios.
Também é importante que o rizicultor tenha cautela no mercado e estabeleça uma estratégia de comercialização que busque fazer uma média de preços. “Ter o custo na ponta do lápis é vital nessa hora”, explica. É importante pesar bem o custo de alongamentos de custeio e EGFs, diante de um mercado que já não garante a valorização do arroz no segundo semestre.
Élcio Bento, da Safras & Mercado, destaca que o auxílio à comercialização é sempre paliativo. Mas se for bem utilizado pode ao menos garantir o preço mínimo ao produtor, o que o mercado não vê há quase três meses. “Medidas governamentais que auxiliem a redução dos custos de produção são necessárias para aumentar a competitividade do setor.
O produtor precisa alcançar lucro vendendo arroz dentro da realidade de preços internacionais, entre 10 e 12 dólares por saca”, avisa Bento. Isso em fevereiro/2011 quer dizer R$ 16,70 a R$ 20,00 por saca.
FIQUE DE OLHO
Apesar do câmbio desfavorável, o Brasil conseguiu exportar 628.825 toneladas, base casca, de janeiro a dezembro de 2010. Em contrapartida importou 1.086.812 toneladas. O resultado, que inicialmente parece negativo, é até considerado bom pelos especialistas. Pelas características do câmbio, é quase um milagre.
Agricultura de imprecisão
Cada vez mais o produtor investe em tecnologias de ponta, aperfeiçoando sistemas de produção. Mas na hora de comercializar, o arroz se torna uma “agricultura de imprecisão”. O trocadilho se justifica: em 2010, entre janeiro e dezembro, a média de preços no mercado gaúcho foi de R$ 27,54, segundo Safras & Mercado. Um valor que fica abaixo do custo de produção de R$ 29,01, calculados pelo Irga, por saca de arroz. E é 2,8% menor que a média de R$ 28,32, de 2009. E em 2008 a média fechou em R$ 30,90/saca.
Em outubro de 2008, por exemplo, a mesma saca de arroz que estava avaliada em R$ 21,85 em parte das praças gaúchas na primeira semana de fevereiro/2011, valia R$ 35,78.
Antes da alta internacional, no início de 2008, as cotações oscilaram de R$ 22,00 a R$ 25,00, o que demonstra que no início de 2010 os preços médios voltaram ao patamar anterior à crise mundial. O indicador Esalq/BVM&F aponta média de R$ 28,05 em 2009 e R$ 27,34 em 2010.
“O câmbio, com valorização do real, associado à queda gradual dos preços internacionais, retirou aos poucos a competitividade do arroz brasileiro”, cita Élcio Bento, analista da Safras & Mercado. Lembra que em 2011 o Mercosul, incluindo o Brasil, terá produção de 15,815 milhões de toneladas (aumento de 1,6 milhão de toneladas), montante que supera o consumo em 2,13 milhões de toneladas, o maior excedente em uma década. O grande desafio da cadeia orizícola na próxima temporada é escoar uma safra cheia em condições externas adversas. A presença mais efetiva do governo para dinamizar a comercialização será vital.
Mantido o comportamento do mercado mundial e o câmbio, o governo brasileiro terá que ser mais agressivo se quiser garantir o preço mínimo aos produtores.