Menos arroz no prato

 Menos arroz no prato

Pesquisa aponta queda no consumo de arroz nos domicílios brasileiros
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A Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) – Aquisição Alimentar e Disponibilidade de Alimentos -, divulgada em 16 de dezembro de 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que o volume per capita de arroz adquirido pelas famílias caiu 40,5% nos domicílios entre os anos 2003 e 2009. O mesmo foi constatado em relação à aquisição de feijão, que apresentou um recuo de 26,4% em igual período. 

Os números levantados pela pesquisa são preocupantes, sobretudo em um ano em que o Rio Grande do Sul se prepara para colher uma de suas maiores safras, em torno de oito milhões de toneladas do grão, e busca alternativas para ampliar o consumo de arroz no país. 

Em termos absolutos, a aquisição de arroz pelas famílias recuou de 24,5 quilos anuais per capita observados pela POF referentes aos anos 2002 e 2003 para 14,6 quilos na POF dos anos 2008 e 2009. Já o feijão teve redução de 12,4 quilos para 9,1 quilos em igual período. 

O analista socioeconômico da POF, José Mauro de Freitas, explica que o resultado mostra o avanço da alimentação fora de casa. Em 2002/2003 as famílias brasileiras destinavam 24,1% dos seus gastos com alimentação para a refeição fora de casa. No POF 2008/2009 esse percentual saltou para 31,1%. O maior aumento foi na Região Sudeste, com as despesas com alimentação fora do domicílio passando de 20,9% do total gasto com comida e bebida para 37,2% entre 2003 e o ano passado. 

Segundo ele, os dados mais abrangentes e definitivos poderão ser analisados no primeiro semestre deste ano, quando o IBGE divulgará o último questionário da POF 2008/2009, que incluiu a anotação em uma caderneta dos hábitos alimentares – qual refeição, quantidade, modo de preparo e horário – de 25% da amostra da pesquisa. “No momento temos apenas uma indicação do que será visto quando analisarmos o último questionário da POF”, afirma.

FIQUE DE OLHO

O analista do IBGE também lembra que a queda na aquisição de arroz pelas famílias chega a 60% entre as POFs de 1975 e 2008/2009. No caso do feijão o recuo é mais suave, de 49%. Freitas também citou o crescimento da aquisição de alimentos congelados e industrializados, que, segundo ele, explicam parte da queda da aquisição de arroz e feijão pelos consumidores.

Em busca de mais respostas

Para o gerente da pesquisa do POF/IBGE, Edilson Nascimento da Silva, é preciso deixar claro que o foco do trabalho foi detectar os hábitos alimentares da população no domicílio especificamente. “Desde 2003 já tínhamos nos deparado com esta realidade, a de que a alimentação fora do domicílio tem aumentado, principalmente nos grandes centros urbanos. Naquele ano os gastos com a alimentação fora de casa, tomando São Paulo como exemplo, eram de 26%. Em 2009 subiram para 39%”, destaca. 

Segundo ele, é neste contexto que deve ser interpretada a redução do consumo de arroz pelas famílias brasileiras. “Não estamos dizendo que o consumo de arroz está caindo no Brasil. O IBGE ainda não tem calculado o quanto é consumido fora do domicílio, mas este será o foco de um novo modelo de pesquisa desenvolvido para apontar esta tendência”, afirma. 

A analista do mercado de arroz e gerente de alimentos básicos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Regina Célia Gonçalves Santos, observa que a pesquisa do IBGE é muito interessante e norteadora, mas para ela faltam dados detalhados de consumo em âmbito de Brasil, pois o IBGE analisa dados regionalizados. “Seria mais eficiente e realista se fosse elaborado um levantamento sobre o consumo de arroz no país. Precisamos que o estudo mensure o consumo dentro e fora de casa, levando em conta o quanto fatores como o aumento do salário mínimo e a mudança de classe social influenciam quantitativamente no consumo. Aí sim o estudo seria completo”, considera.

Mudança de hábito 

Arroz com feijão: prato nacional em baixa nos domicíliosNa visão do economista da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Sistema Farsul), Antônio Newton Corrêa da Luz, a interpretação de pesquisas como esta divulgada pelo IBGE precisa ser analisada dentro de um contexto mais amplo. “Este, por sinal, é um problema sério no agronegócio brasileiro e mais sério ainda no caso do arroz. É como se a POF fosse uma sentença de morte para o setor e não a fotografia de um momento específico do mercado”, alerta. 

Para Antônio da Luz é preciso levar em consideração aspectos como dados levantados em cima de uma realidade de preços, no caso do arroz, com picos históricos no varejo. Se o preço varia, o consumo também varia. Ainda é cedo para dizer se a queda no consumo é uma tendência. “Se o preço cair e o consumo acompanhar esta queda, aí sim teremos um fato preocupante”, pondera. 

De acordo com o economista, a pesquisa reflete uma mudança de hábito da população urbana, principalmente nos grandes centros. “O hábito de comer fora é irreversível. As indústrias têm refeitório para seus funcionários e as pessoas que trabalham no comércio almoçam fora, em restaurantes. É complicado voltar para casa na hora do almoço e preparar uma refeição porque o tempo é curto”, argumenta.

EQUAÇÃO 

Esta mesma abordagem é compartilhada pelo socioeconomista da Embrapa Arroz e Feijão de Santo Antônio de Goiás (GO), Carlos Magri Ferreira. “O volume per capita de arroz adquirido pelas famílias, em termos absolutos, recuou de 24,5 quilos anuais per capita para 14,6 quilos na POF. Se for assim, a conta não fecha. O consumo per capita de arroz no Brasil é de 26,50 quilos, então faltam 10 quilos. Estes 10 quilos continuam sendo consumidos fora de casa e não foram contabilizados na pesquisa”, calcula.

 

 

 

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