Alternativa para o excedente

 Alternativa para o excedente

Apesar da evolução produtiva, África ainda é um mercado promissor para o Brasil

Continente africano ainda depende de importações para cobrir a demanda
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Destino de 78% das exportações brasileiras de arroz no ano safra 2010/11, de acordo com levantamento da empresa de consultoria Agrotendências, a África também pode ser a saída para absorver não apenas o excedente da produção nacional, mas o crescimento da oferta do grão nos países do Mercosul.

Este foi o tema central do painel “Desafios e oportunidades para o arroz do Mercosul no mercado internacional”, um dos mais concorridos da Expoarroz 2011, em Pelotas (RS). Os palestrantes Patrício Méndez del Villar, pesquisador do Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (Cirad), e Tiago Sarmento Barata, diretor da Agrotendências Consultoria em Agronegócios, fizeram uma análise das possibilidades de colocação do arroz do Mercosul no cenário mundial, destacando principalmente a África Subsaariana e a Ásia.

Méndez del Villar focou-se na evolução produtiva de arroz nos últimos 10 anos na África Subsaariana. Nesta região, a crise de 2008 revelou condições promissoras para o desenvolvimento da produção arrozeira, mostrando o crescimento significativo na produção dos países, mas ainda sem possibilidade de tornar-se autossuficiente. “Apesar dessa evolução, o continente ainda depende de importações para cobrir sua demanda”, disse.

O estudo realizado pelo analista do Cirad mostra que esta região da África apresenta consumo relevante, com alto índice de crescimento, superior a 5% ao ano. Segundo ele, trata-se de um mercado altamente deficitário, onde as importações representam 40% do consumo total do grão. Complementou falando sobre o crescimento da população mundial, que tem projeção de aumentar em 50% nos próximos 40 anos. “O desafio será como alimentar essas 9 bilhões de pessoas a mais em 2050”, questionou.

MERCOSUL

Já o mestre em Agronegócio pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) Tiago Barata começou salientando que discutir sobre o mercado internacional ainda é uma novidade, pois o Brasil sempre trabalhou com déficit de produção e precisava importar do Uruguai e Argentina para cobrir sua necessidade.

Também apresentou dados da safra de 2010/2011 onde, juntos, Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai aumentaram sua produção de arroz em 3.406 milhões de toneladas, sendo o Brasil líder neste acréscimo, com aumento de 2,24 milhões. Ele citou o exemplo do Rio Grande do Sul, dizendo que, se fosse um país, teria a maior média de produção do mundo. “Com certeza, seria o país com maior necessidade de escoamento”, disse.

Barata também lembrou que o Mercosul é uma região considerada segura pelas traders do segmento. Disse que a Ásia é responsável por 90% da produção mundial de arroz e que a vantagem do cereal produzido no Brasil e demais países do bloco econômico seria basicamente a safra não coincidir com a asiática. Por isso, a possibilidade de ação complementar para o mercado externo. Para o consultor, mais do que nunca, a exportação para terceiros mercados será necessária para minimizar o impacto dos excedentes nos preços do mercado doméstico.

Mercado promissor

A África Subsaariana é a região que abrange os países africanos situados ao sul do Deserto do Saara. Nesta parte da África estão localizados os países (33 dos mais pobres que existem) com grandes problemas estruturais, sofrendo os graves legados do colonialismo, do neocolonialismo, dos conflitos étnicos e da instabilidade política.

Os países que formam a região são Congo, República Centro Africana, Ruanda, Burundi, África Oriental, Quênia, Tanzânia, Uganda, Djbouti, Eritreia, Etiópia, Somália, Sudão, África Ocidental, Benin, Burkina Faso, Camarão, Chade, Cote d’Ivoire, Guiné Equatorial, Gabão, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné Bissau, Libéria, Mauritânia, Mali, Níger, Nigéria, Senegal, Serra Leoa e Togo.

Patrício Méndez del Villar explica que, com a liberação do comércio nos anos 1990, verificou-se na região um crescimento expressivo no consumo de arroz. “O consumo per capita, que era de 12 quilos nos anos 1960, passou para 17 quilos nos anos 1980 e 25 quilos nos anos 2000. Com a crise dos preços internacionais em 2008, houve a implementação de programas de incentivo para o crescimento da produção arrozeira, com resultados positivos, mas ainda insuficientes, justificando a forte demanda”, argumenta o pesquisador do Cirad.

Importações de arroz nos principais países africanos

Mais de 500.000 t

Nigéria (2.000.000 t)

Costa do Marfim (900.000 t)

África do Sul (750.000 t)

Senegal (700.000 t) 200.000 a 500.000 t

Moçambique (400.000 t)

Ghana (320.000 t)

Camarões (310.000 t)

Quénia (300.000 t)

Angola (250.000 t)

Libéria (250.000 t)

Guiné (225.000 t)

Fonte: Patrício Méndez del Villar

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