Embrapa envia sementes de milho e arroz para o Banco de Svalbard, na Noruega
Segundo a pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Marília Burle, que está coordenando a ação, serão enviadas ao banco genético norueguês as coleções nucleares de arroz e milho.
A Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária vai enviar na primeira semana de setembro 264 acessos de milho e 541 acessos de arroz para o Banco Global de Sementes de Svalbard, situado na cidade de Longyearbyen, Noruega. Acessos são amostras de sementes representativas das espécies. A iniciativa é decorrente do acordo assinado entre a Embrapa e o Real Ministério de Agricultura e Alimentação da Noruega, em 2008, e as sementes a serem enviadas compõem as coleções de arroz e milho de três unidades de pesquisa da Embrapa: Arroz e Feijão (GO), Milho e Sorgo (MG), e Recursos Genéticos e Biotecnologia.
Segundo a pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Marília Burle, que está coordenando a ação, serão enviadas ao banco genético norueguês as coleções nucleares de arroz e milho. O termo coleção nuclear, ou core collection, é definido no meio científico como um grupo limitado de acessos derivados de uma coleção vegetal, escolhido para representar a variabilidade genética da coleção inteira. Tradicionalmente, as coleções nucleares são estabelecidas com tamanho em torno de 10% dos acessos de toda a coleção original e incluem aproximadamente 70% no acervo genético.
A seleção de genótipos para a obtenção de uma coleção nuclear utiliza estratégias que envolvem diversas intensidades e métodos de amostragem. “São coleções pequenas, mas estratégicas. Apesar do número reduzido de acessos, representam grande parte da variabilidade genética das espécies vegetais e normalmente não contém duplicatas”, explica Burle. No caso do milho, por exemplo, o banco genético da Embrapa Milho e Sorgo contam com cerca de quatro mil acessos e a coleção nuclear a ser enviada a Svalbard contém 264 acessos, ou seja, aproximadamente 7%. Já em relação ao arroz, essa porcentagem é ainda menor, visto que dos aproximadamente 10 mil acessos que fazem parte do banco da Embrapa Arroz e Feijão, estão sendo encaminhados 541 acessos, o que corresponde a 5%.
Na verdade, as coleções nucleares são recomendadas pelo Banco de Svalbard, como deixou claro o coordenador de operações, Ola T. Westengen, visto que garantem a conservação das espécies e ocupam menos espaço no banco, que tem capacidade para quatro milhões e quinhentas mil amostras de sementes de todas as partes do mundo.
As coleções que estão sendo enviadas são provenientes dos Bancos Ativos de Germoplasma de Arroz e Milho, situados na Embrapa Arroz e Feijão e na Embrapa Milho e Sorgo, respectivamente. As amostras foram preparadas pelos curadores de arroz, Paulo Hideo e de milho, Flávia Teixeira. Depois, foram encaminhadas à Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília, onde as sementes foram conferidas, desidratadas, documentadas e embaladas pelo analista e Curador de Cereais, Leonel Neto.
O material, que teve que seguir todo o trâmite regular de intercâmbio exigido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) seguirá para Oslo, capital da Noruega, de onde será enviado para o arquipélago de Svalbard, provavelmente na primeira semana de outubro.
A escolha dessas culturas atende a uma das recomendações do Banco de Svalbard quanto à relevância para a segurança alimentar e agricultura sustentável. Além disso, como afirma Burle, são culturas que apesar de não serem originárias do Brasil, são cultivadas no país há séculos e, por isso, possuem características de rusticidade e adaptabilidade às condições nacionais.
A próxima cultura agrícola a ser encaminhada para o banco norueguês será o feijão, o que deve acontecer até o fim de 2012. Segundo a pesquisadora, os responsáveis pelo banco genético da Embrapa Arroz e Feijão estão finalizando a multiplicação das sementes da coleção nuclear do produto.
Banco norueguês garante ainda mais segurança para a conservação das sementes brasileiras
A conservação das espécies vegetais de importância alimentar é uma preocupação da Embrapa desde a sua criação em 1973. Prova disso é que a Empresa possui hoje o maior banco genético vegetal do Brasil e da América Latina, com mais de 110 mil amostras de sementes de cerca de 670 espécies agrícolas de importância socioeconômica conservadas a 20ºC abaixo de zero na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.
O envio de amostras para Svalbard é mais uma garantia de segurança, já que o banco nórdico é o mais seguro do mundo em termos físicos e ambientais. Além de estar situado dentro de uma montanha na cidade de Longyearbyen foi construído com total segurança para resistir a catástrofes climáticas (enchentes terremotos, aquecimento gradual, etc.) e até mesmo a uma explosão nuclear.
O acordo prevê cooperação contínua entre as duas instituições e, por isso, “futuramente, sementes de outras espécies serão enviadas ao Banco Global”, como explica Burle, lembrando que a prioridade será a mesma, ou seja, sementes de importância para a alimentação da população brasileira.
A caixa forte da Noruega
A caixa forte norueguesa tem capacidade para quatro milhões e quinhentas mil amostras de sementes. O conjunto arquitetônico conta com três câmaras de segurança máxima situadas ao final de um túnel de 125 metros dentro de uma montanha em uma pequena ilha do arquipélago de Svalbard situado no paralelo 780 N, próximo do Pólo Norte.
As sementes são armazenadas a 20ºC abaixo de zero em embalagens hermeticamente fechadas, guardadas em caixas armazenadas em prateleiras. O depósito está rodeado pelo clima glacial do Ártico, o que assegura as baixas temperaturas, mesmo se houver falha no suprimento de energia elétrica. As baixas temperatura e umidade garantem a baixa atividade metabólica, mantendo a viabilidade das sementes por um milênio ou mais.