Ataque surpresa

 Ataque surpresa

Brusone: doença reduz a produtividade da lavoura de arroz

As lavouras de arroz gaúchas e catarinenses voltam a registrar a presença de brusone
nesta safra
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A safra 2012/13 foi caracterizada pela ocorrência de brusone, uma doença fúngica que ataca o arroz em praticamente todas as áreas de cultivo do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, com variações de severidade entre as regiões e entre cultivares, principalmente. A reincidência da doença, provocada pelo fungo pyricularia grisea, pode ser explicada pelas condições climáticas que favoreceram seu surgimento, como a ocorrência de chuvas excessivas e temperaturas mais altas, na faixa dos 28 graus, registradas entre os meses de dezembro e janeiro. Ao mesmo tempo, semearam-se grandes áreas do estado com predomínio de uma cultivar suscetível à brusone.

No Rio Grande do Sul, as regiões mais atingidas foram também aquelas historicamente mais suscetíveis à doença, como o litoral norte, campanha, as planícies costeiras interna e externa e a depressão central. “Aliado a esta condição climática, houve o predomínio de cultivares tolerantes aos herbicidas do grupo químico das imidazolinonas (em torno de 53% da área plantada no RS). Em sua maioria, são extremamente suscetíveis à doença e são utilizadas pelos produtores há vários anos. Isso garante a presença e o aumento do inóculo de brusone na lavoura ou na região”, explicam os pesquisadores do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Felipe Matzenbacher e Gustavo Daltrozo Funck.

A análise é compartilhada pelo pesquisador Cley Donizette Nunes, da Embrapa Clima Temperado, de Pelotas (RS): “Sabemos que o uso continuado de uma mesma cultivar suscetível pode promover o aumento gradativo da incidência e severidade da brusone, como ocorreu nesta safra. Os danos foram grandes, mas ainda não sabemos a extensão das perdas causadas pela doença. No entanto, pelo número de amostras que avaliamos, dá para dizer que é muito maior que nos anos anteriores”, avalia.

O fato é que o inesperado ataque da brusone às lavouras de arroz nesta safra surpreendeu e causou desespero aos produtores. “Foi muito rápido. A lavoura estava bonita e tudo parecia em ordem. Quando percebemos era tarde demais. Levou apenas quatro dias para que o estrago fosse feito”, relata o produtor Paulo Longaray Garcia, de Tapes (RS).

Garcia conta que nunca teve problemas com a doença. Isso até decidir plantar arroz em uma área de 50 hectares, em sua propriedade, que anteriormente havia sido um açude. “Há 30 anos não plantávamos nada neste local. Estamos estimando as perdas, mas calculo que a doença comprometeu de 30% a 40% da lavoura”, lamenta.

Conforme Garcia, a presença da doença, com maior ou menor intensidade, também foi registrada em propriedades vizinhas na região. O prejuízo, segundo ele, só não foi maior em razão do cultivo em rotação com a soja. “Ainda assim, como este foi o primeiro ano em que plantamos soja, cerca de 80 hectares aproximadamente, tivemos alguns problemas e o retorno não deverá ser o esperado. Vamos precisar fazer alguns ajustes para a próxima safra”, observa.

FIQUE DE OLHO
Situação semelhante está sendo vivenciada pelos produtores catarinenses, conforme descreve o gerente de negócios da Cooperativa Agropecuária de Tubarão, Aclis Fortunato: “Faltou chuva em setembro e outubro, época em que a cultura mais precisava. Em janeiro e fevereiro, as precipitações ficaram acima da média, ocasionando temperaturas mais baixas durante a fase de florescimento da planta. Tudo isso contribuiu para o surgimento de focos de brusone. Em algumas lavouras do estado, o impacto da doença foi insignificante. Em outras, comprometeu até 40% da produção”, compara.

CONTROLE E PREVENÇÃO
O pesquisador da Embrapa Clima Temperado Cley Donizette Nunes faz algumas recomendações aos produtores de arroz para que a brusone não volte a surpreender na próxima safra: “É preciso observar a época de semeadura. É recomendado plantar na época indicada, isto é, mais cedo, pois quanto mais tarde, pior. Não plantar apenas a cultivar mais plantada na região, mas trocar por outra com reação de resistência à brusone diferente. Se possível, semear mais de uma com resistência diferente. O produtor tem que focar na escolha correta da cultivar em busca das mais resistentes e produtivas para a sua região, fazer uma avaliação do histórico da lavoura, o preparo antecipado do solo, eliminando o resto de plantas que atua como fonte de inóculo, porque a doença pode voltar na safra seguinte”, explica.

Nunes também chama a atenção para o cuidado com a adubação desequilibrada: “O excesso de adubação nitrogenada predispõe à planta a doença”, alerta. Outra medida de controle que pode ser adotada, segundo ele, “quando há condições favoráveis à doença, como o plantio tardio e semeadura de cultivar suscetível, associadas ao histórico de ocorrência da doença”, é fazer uma aplicação preventiva com fungicida no final do emborrachamento e início da emissão das panículas. “Havendo necessidade por diagnosticar a doença durante o monitoramento da lavoura ou estar ocorrendo brusone nas lavouras próximas, pode fazer uma segunda aplicação 15 ou 20 dias depois”, sugere.

O pesquisador ainda recomenda fracionar a adubação nitrogenada para reduzir o risco de epidemia e observar outros manejos culturais. “Além de plantar na época certa, é importante fazer uso destas medidas de controle integrado para doença por ser mais eficiente do que a adoção de um único método, como a simples aplicação de fungicida. Portanto, fazer uma irrigação adequada, evitando o fornecimento de água de forma intermitente, manter limpos os canais de irrigação, controlar as plantas invasoras e usar sementes de boa qualidade sanitária é importante. As sementes de baixa qualidade são veículos de disseminação de doenças para as lavouras”, informa.

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