A conjuntura do arroz no Brasil

 A conjuntura do arroz no Brasil

No atual período de comercialização da safra 2013/14, o comportamento da cotação do arroz nos diferentes mercados estaduais apresentou não uniformidade. No Centro-Oeste, com base no estado de Mato Grosso, observou-se um preço ao produtor desaquecido na maior parte do ano de 2014 devido à boa safra local e às importações advindas dos parceiros do Mercosul. O preço médio do estado em questão entre os meses de maio e outubro foi de R$ 32,75 por saco de 60 quilos de arroz em casca. No Sul do país, todavia, utilizando como proxy o estado do Rio Grande do Sul, as cotações médias do grão mantiveram um patamar elevado durante todo ano de 2014. Cabe ressaltar que a Região Sul é a principal produtora no Brasil, respondendo por mais de 75% da oferta nacional.

Analisando os gráficos 1 e 2, sobre a evolução dos preços no RS ao longo da safra 2012/13, observou-se estabilidade nos preços por volta dos R$ 33,00. Tal comportamento é resultado da retenção da oferta de grandes produtores em busca de preços mais atrativos na entressafra e do estabelecimento de um preço de liberação de estoques, o que igualou as expectativas do mercado frente às intervenções governamentais. Com a proximidade do período de colheita, a baixa oferta do produto, a desvalorização do real diante do dólar e o consequente alto volume de contratos de exportações firmados, os preços do arroz avançaram e atingiram o patamar dos R$ 35,00. Diante deste contexto, o governo federal interviu no mercado por meio de leilões de venda. Em dezembro/13 foram leiloadas 106,6 mil toneladas e em janeiro/14, 241,8 mil toneladas de arroz em casca, o que estabilizou os preços no estado do RS.

Sobre a trajetória dos preços no RS ao longo de 2014, o equilíbrio entre a oferta e demanda do arroz resultou em preços estáveis em bom nível para os produtores. Com a redução, em relação aos últimos anos, da oferta direcionada por parte dos agricultores ao mercado na pós-colheita, os preços em março e abril sofreram menor pressão de baixa, os quais atingiram uma mínima de R$ 32,94 por saco de 50 quilos. Essa gestão da oferta foi possível em virtude da boa situação financeira da cadeia produtora, por meio da diversificação da formação de receita (gado, soja). Apesar da relativa estabilidade relatada, os preços seguem significativamente acima do estabelecido no preço de liberação de estoques públicos pelo governo federal (R$ 33,45 por saco de 50 quilos de arroz em casca no RS).

Em vista da abertura de uma janela de possibilidade para a venda dos estoques públicos e de sua importância para a boa gestão por parte do governo da política agrícola, a Conab comercializou 98,4 mil toneladas de seus estoques de arroz entre os meses de setembro e outubro. Hoje, o estoque de passagem em posse da Conab é de 471,8 mil toneladas. Apesar da realização dos leilões, o preço médio seguiu firme no RS, acima dos R$ 35,00 por saco.

Ainda sobre a oferta do grão, a desvalorização do real no ano anterior, adensada recentemente, aparece como variável inibidora na captação de arroz do Mercosul pelo mercado nacional, comportamento esse observado no superávit acumulado de 194,01 mil toneladas no período comercial 2013/14 (entre março de 2014 e setembro de 2014), de acordo com a Secex/MDIC. Com esses dados, em vista da conjuntura atual e de todo o esforço de promoção do arroz brasileiro no mercado internacional, projeta-se uma manutenção do superávit, com possível expansão para o período comercial 2014/15 para 200 mil toneladas de arroz em casca. Essa conjuntura favorece a manutenção dos preços internos, pois com a moeda nacional desvalorizada, o grão importado perde competitividade, o que reduz a oferta e a concorrência no mercado local.

Como apoio à análise da formação de preços, foi desenvolvido um estudo utilizando o capital asset pricing model (CAPM), no qual o modelo para o mercado nacional de arroz foi estabelecido como:
E(Ri) = taxa Selic + beta x (retorno do Ibovespa – taxa Selic)

Sendo beta igual a covariância entre o retorno do Ibovespa e o retorno do mercado de arroz dividido pela variância do Ibovespa, o beta é o fator que mensura o risco exposto pelo mercado orizícola. Para o cálculo da rentabilidade histórica do setor foram utilizadas séries de dados de custo de produção e os preços médios de mercado disponibilizados pela Conab.
Como resultado do CAPM encontra-se que o retorno ajustado ao risco tomado pelo orizicultor para o arroz é de 13,13% ao ano. Com isso, dado que o atual custo operacional do saco de 50 quilos de arroz em casca é de R$ 29,99 no RS, aplica-se esta rentabilidade no custo citado, chegando a um valor de R$ 33,93 por saco. O resultado encontrado no CAPM é a cotação na qual o retorno desse produto é condizente com os riscos assumidos pelo setor e pode ser interpretado como o preço de equilíbrio.

Por último, destaca-se a importância do volume colhido pela safra nacional de arroz na definição dos preços. Na safra 2011/12, as cotações do produto operaram abaixo do definido no preço mínimo em função da elevada safra colhida. Para a próxima safra, 2014/15, a Conab estima uma produção em torno de 12,5 milhões de toneladas, o que configuraria um volume um pouco acima da média histórica, porém não excessivo a ponto de reverberar em forte desvalorização do produto. Para o curto e médio prazo, há uma tendência de leve desaquecimento em face da quantidade de arroz da safra 2013/14 ainda não disponibilizada no mercado e da possibilidade de novos leilões públicos.

Sérgio Roberto Gomes
dos Santos Júnior

Analista de Mercado/conab

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