Gargalo nacional
Com uma produção de grãos que em breve pode chegar a 200 mil toneladas ao ano, o Brasil tem capacidade para armazenar apenas 67% do que produz
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A FAO, órgão das Nações Unidas para agricultura e alimentação, recomenda que os países tenham pelo menos 20% a mais de capacidade estática de armazenagem. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), no Brasil, só 15% da produção de grãos agrícolas é armazenada na propriedade rural. Já em países desenvolvidos, isso ocorre com no mínimo 35% da produção.
Para o engenheiro civil e diretor da Agrocult Consultoria e Treinamento em Armazenagem, Adriano Mallet, esta assimetria entre a produção e a infraestrutura de armazenamento faz com que os produtores tenham que escoar a maior parte da produção no momento da safra, deixando de negociar melhores preços. “Isso também acaba acarretando um caos nas estradas e comprometendo inclusive a capacidade de recebimento nos portos”, argumenta.
Armazenagem sobre rodas
A falta de locais para armazenagem, segundo ele, sobretudo em nível de fazenda, é agravada pelo próprio crescimento da agricultura. “Enquanto a produção cresce em torno de 5% ao ano, a capacidade de armazenagem amplia em média apenas 2,5%. Com o passar do tempo o déficit vai ficando maior”, assegura.
Mallet lamenta que atualmente toda a movimentação da safra esteja em cima de caminhões. “É o caso da produção de arroz no RS, por exemplo. Em nível nacional, ao que tudo indica, daqui a 10 anos a produção brasileira de grãos pode chegar a 300 milhões de toneladas e o déficit de armazenagem, que hoje é de 60 milhões de toneladas, estará em 143 milhões. Para atender esta demanda será necessário dobrar a frota de caminhões, além do sistema de ferrovias e hidrovias, em função destas 100 milhões de toneladas de grãos a mais”, estima o especialista.
O desafio da armazenagem de grãos ganha proporções ainda maiores diante do sucateamento da infraestrutura logística do país. A ausência de ferrovias nas principais regiões produtoras brasileiras, as péssimas condições das estradas e o estrangulamento dos portos criam um ambiente em que, sem ter como transportar e sem locais para armazenar, o prejuízo é sempre uma variável a ser levada em conta pelos produtores.