Arroz e muito mais
Investimento em
integração pode garantir
a rentabilidade e uma propriedade sustentável.
O Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) norteou a gestão tecnológica da lavoura de arroz na última década, sobretudo a partir da implantação de um projeto de ensaios experimentais e difusão de tecnologias que ampliaram a produtividade da lavoura orizícola gaúcha, num conjunto de projetos que integraram o Programa Arroz RS. A partir de 2011 retomou as pesquisas com soja a campo como uma opção de cultivo em rotação com o arroz na Metade Sul do estado.
O resultado deste trabalho foi o desenvolvimento de uma variedade de soja adaptada ao cultivo em terras baixas: a TEC Irga 6070RR. Também desenvolveu o plantio em microcamalhões e o sistema de irrigação por sulcos, além de um conjunto de tecnologias voltadas à diversificação da lavoura gaúcha. Atualmente, as pesquisas com o milho no sistema de rotação de culturas com o arroz segue pelo mesmo caminho.
Para o gerente da Divisão de Pesquisa do Irga, Rodrigo Schoenfeld, este é o momento em que todas as ações convergem para um denominador comum, que é a ILP. “Antes haviam ações isoladas, ou seja, pesquisas com arroz, com soja, com milho. A nova visão da ILP, concebida a partir desse projeto multi-institucional em que o Irga, a Embrapa e a Ufrgs desempenham papel determinante, busca uma mudança de paradigma: não se trata mais de um sistema que une várias atividades agrícolas com o intuito meramente exploratório.
Hoje, busca-se, acima de tudo, a perfeita integração entre a pecuária e a agricultura, com o máximo de qualidade, pois estas podem obter melhores resultados se agirem unidas do que de forma isolada”, pondera. O Rio Grande do Sul cultiva 1,1 milhão de hectares de arroz e, segundo o Irga, praticamente toda a área é propícia à adoção da ILP. Outros 350 mil hectares são cultivados com soja e milho em várzea.
Integrados: arroz e soja se completam no sistema de cultivo em terras baixas
Um amplo conceito de produção
Anghinoni: compatível com as demandas da sociedade
A integração lavoura-pecuária (ILP) é um conceito que não se restringe apenas ao produtor de arroz, mas a todos os tipos de produtores, independentemente do tamanho de sua propriedade. “No caso da cultura do arroz, este ponto assume especial importância pois, até hoje, diferentemente das culturas de sequeiro/coxilhas, poucas alternativas de rotação de culturas têm sido utilizadas. Apenas a soja tem evoluído significativamente nos últimos anos como cultura parceira para rotação nas áreas de arroz do RS. Já a atividade da pecuária, principalmente a de corte, sempre participou dos sistemas de produção da maioria das áreas cultivadas com arroz no RS”, assegura o pesquisador da Embrapa Pecuária Sul, em Bagé (RS), Danilo Menezes Sant’Anna.
Apesar do predomínio da lavoura de arroz no verão, Sant’Anna reconhece que o produtor destas áreas já vem exercitando a diversificação da produção pelo menos com a atividade pecuária, já que a soja cresceu significativamente somente nos últimos quatro ou cinco anos, pulando de 22 mil para 330 mil hectares. “Mesmo com baixos investimentos na média para a pecuária, esta atividade sempre representou uma importante alternativa de diversificação de renda para o produtor de arroz. Evoluir para um sistema realmente mais integrado de produção, onde a ILP tem papel fundamental, significa trazer sustentabilidade à lavoura de arroz e, consequentemente, mais segurança ao produtor rural através de diferentes vetores, como, por exemplo, a diversificação da renda. Temos, portanto, todas as condições para estabelecer este novo paradigma na agropecuária do RS e do Brasil”, ressalta.
A questão principal, e possivelmente o maior dos paradigmas a ser superado na adoção de sistemas ILP, na avaliação do professor da Ufrgs Ibanor Anghinoni, está no fato de que não mais se deve pensar na melhor condição individual para as culturas comerciais ou produção animal, mas sim no somatório dos seus efeitos nesses compartimentos (planta e animal), em adição aos benefícios no solo, o componente base do sistema de produção. “Considerando a integração nos solos arrozeiros gaúchos, tem-se a produção de carne ou leite dominantemente no inverno e azevém, cornichão e/ou trevos em rotação com culturas comerciais como arroz, soja, milho, etc. no verão, resultando em sistema de produção intenso e diverso em que a rizicultura é somente um dos componentes”, avalia.
Anghinoni afirma que a diversificação aportada pelas rotações agrícolas, associada a uma fase de pastagem, recicla melhor os nutrientes e diminui a incidência de pragas e doenças. “A eficiência, em nível de propriedade, é trazida pelo melhor aproveitamento dos nutrientes, pela maior eficiência no uso de maquinário e pessoal, pela maior liquidez financeira, pelo incremento de renda na mesma unidade de área e pela diminuição do risco da operação agrícola”, enumera.
Segundo ele, o resultado final, em nível de sistema, é maior que a soma das contribuições das tecnologias individuais; um sinergismo que resulta em benefícios econômicos e ambientais, produção de alimentos seguros e sustentabilidade na produção. “Nesse sentido, a percepção vigente é a de se tratar de um raro sistema de produção onde o dilema produção versus conservação tem solução compatível com as atuais demandas da sociedade”, resume Anghinoni.