Banco do Brasil prorroga vencimento do custeio do arroz
Medida pode aliviar a pressão de mercado, segundo diretor do Irga, e vem acompanhada de prorrogação de parcela de renegociações e aporte de 200 milhões para financiar a comercialização. Produtor deve pedir alongamento, que por enquanto só vale para o Banco do Brasil
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O Banco do Brasil anunciou no final da tarde de ontem que atenderá, em seus contratos, as reivindicações emergenciais do setor arrozeiro mobilizado nas últimas semanas em função da crise de preços do arroz em casca no Sul do País: o vencimento das duas primeiras – de quatro – parcelas do financiamento de custeio da safra 2014/15 foi prorrogado, passando de 15 de julho e 15 de agosto para os dias 15 de novembro e 15 de dezembro, mantendo a mesma taxa de juros de 6,5% ao ano.
A negociação ainda permitirá o alongamento da parcela vincenda em 2015 da renegociação da dívida de arrozeiros em 10 anos, definida pela Resolução 4161 do Banco Central. O vencimento passará para o ano posterior ao da última parcela fixada nos contratos.
O Banco do Brasil ainda anunciou um aporte de R$ 200 milhões no formado de Financiamento para Estocagem de Produtos Agropecuários (Fepm), chamado pelos produtores de “ex-EGF”, com juros de 6,5% ao ano. A expectativa do setor era da liberação de um valor maior, mas o volume foi considerado “bom”, por algumas lideranças presentes a anúncio dos dirigentes do BB. Os produtores devem procurar suas agências e encaminharem as prorrogações de seus contratos, pois ela não é automática. A medida vale também para produtores de milho e soja.
É importante frisar que a medida não vale para os bancos privados, cooperativos e estaduais e a Caixa. A primeira parcela do custeio do Sicredi, por exemplo, deve vencer já no próximo dia 15 de junho. As entidades estão buscando junto a estas instituições de crédito o acompanhamento da posição do Banco do Brasil, isto é, que também prorroguem os prazos, o que já ocorreu em outras temporadas, mas não há garantias de que isso aconteça.
O diretor comercial do Instituto Rio Grandense do Arroz, Tiago Sarmento Barata, considera que a medida – associada à divulgação de uma exportação de mais de 170 mil toneladas de arroz em base casca em maio – alivia a pressão de oferta no mercado e assegura aos produtores o tempo necessário para que retomem o fôlego. “Estamos passando por um cenário que não era esperado, de baixa liquidez, queda de preços e que escancara um dos graves problemas estruturais da lavoura arrozeira, que é a dependência de crédito de terceiros. Com o atendimento, pelo Banco do Brasil, dessas demandas, a tensão sobre o mercado será menor e haverá mais tempo para que as entidades possam agir junto ao governo federal também no sentido de melhorar as condições de mercado”, entende.
Ele acredita que estas medidas reduzirão a oferta de arroz às indústrias, por parte dos produtores, o que pode estabelecer novos patamares de preços médios no Estado. “O importante agora é que com estes mecanismos disponíveis os preços parem de cair. Com mais tempo para pagar, recursos para ajustar o fluxo de negócios do grão ao longo da cadeia produtiva e uma balança comercial favorável, esperamos que aos poucos o referencial de média no Estado apresente uma evolução positiva. Sabemos que alavancar o caminho inverso à queda é mais difícil, mas estes passos e outras negociações já estabelecidas com o governo podem gerar essa reversão de tendência”, explica Tiago Sarmento Barata, que participou das negociações com os órgãos governamentais nos últimos meses.
Segundo ele, o ideal é que estes recursos de comercialização estivessem disponíveis há mais tempo, o que poderia garantir um cenário um pouco melhor do que o atual. “Mas, considerando as incertezas que levaram o governo a não anunciar pré-custeio, a conjuntura econômica do País, as dificuldades para obter recursos federais, quando estamos vendo cortes até no Pronaf, e o tempo que estes ajustes vêm sendo negociados a orizicultura hoje teve uma conquista importante”, ressalta.
MOVIMENTO
O anúncio no final da tarde desta sexta-feira atende em parte às demandas do movimento independente de arrozeiros iniciado em Uruguaiana, que passou por Santa Maria e resultou em uma grande reunião em Cachoeira do Sul na última sexta-feira para debater a crise no setor, e que neste caminho acabou mobilizando também as entidades setoriais. No entanto, o movimento ainda está buscando espaço na agenda da ministra da Agricultura, Kátia Abreu, para elencar uma lista de 10 itens para curto e longo prazos.
ADIMPLÊNCIA
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Rio Grande do Sul, Carlos Sperotto, considera que as medidas dão ao produtor a possibilidade de assinar os contratos do custeio da safra 2015/2016 sem comercializar apressadamente sua produção, a qualquer preço. O alongamento não ocasiona redução de limites para o próximo custeio, e o produtor permanece adimplente. Francisco Schardong, presidente da Câmara Setorial do Arroz, acredita que o mercado agora tem as bases para buscar novo referencial, e aposta nas exportações ao longo do ano para darem o suporte necessário, bem como a liberação do custeio em volumes e condições adequadas para a próxima safra.