Safra cheia

 Safra cheia

Colheita farta não se traduziu em lucro

Temporada do arroz gaúcho foi cheia de grãos, de problemas,
de custos. E faltou renda
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Quando o Rio Grande do Sul chegou ao final de 2014 com algumas lavouras ainda sendo plantadas e a estimativa de que um terço da área de 1.125.410 hectares havia sido cultivado fora de época, a perspectiva era de uma safra igual ou até inferior às 8 milhões de toneladas colhidas na temporada 2013/14.

Algumas lideranças cogitavam uma colheita em torno de 7,5 milhões de toneladas. Mas o arroz é resistente e tem capacidade de recuperação impressionante. Com clima favorável – sol na cabeça e água no pé – e alguns cuidados, a lavoura obteve a produtividade de 7.711 quilos por hectare e uma produção de 8,638 milhões de toneladas, segundo o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indica 4 mil toneladas a mais.

Segundo o relatório do Irga sobre a safra 2014/15, de 1.125.410 hectares cultivados os gaúchos colheram 1.120.234, ou seja, perto de 5,2 mil hectares foram perdidos. A safra cheia, no entanto, não se transformou em lucro. Altas nas taxas de energia elétrica e combustíveis, mão de obra e serviços e a necessidade de replantio e/ou reaplicação de defensivos fizeram o custo de produção crescer mais do que o arroz nas lavouras e as contas não fecharam.

Sem crédito oficial para financiar a comercialização, a crise econômica bateu à porta com o agravante de uma crise política que dividiu o país e serviu, até o momento, para agravar ainda mais a fragilidade da economia interna e desviar o foco das dificuldades do setor. Os fornecedores de insumos cobraram a conta e o rizicultor, para honrar o que fosse possível, se obrigou a vender o arroz com preços em queda, com negócios abaixo de R$ 32,00 por saca, registrados no sul catarinense e no RS.

Um movimento mundial valorizou o dólar em detrimento das outras moedas. E isso afetou duramente o comércio do arroz. O Mercosul é um dos mercados fornecedores mais atingidos, embora o Brasil tenha conseguido manter o seu superávit. Sem o terminal arrozeiro no Porto de Rio Grande, que pertence à Companhia Estadual de Silos e Armazéns (Cesa), ficou ainda mais difícil.

A classe produtora se dividiu entre as entidades, tentando negociar questões estruturais da cadeia produtiva, e os agricultores, que não conseguiram cobrir seus custos, não pagariam todas as contas e precisavam de solução imediata. O movimento da base arrozeira forçou seus representantes a buscarem renegociações, repactuações de dívidas e prorrogação dos vencimentos do custeio, além da liberação de recursos para comercialização e a formação da nova lavoura. Mas a reação, para muitos, chegou tarde. Em 2015, para boa parte dos arrozeiros, faltou renda e a safra foi cheia, cheia de dívidas, problemas, custos e dores de cabeça.


FIQUE DE OLHO

Embora inicialmente fosse possível estimar que a safra gaúcha de arroz na próxima temporada, em função do aumento do custo e o endividamento, seria menor, as duas primeiras projeções existentes indicam repetição de área. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda) prevê que o Brasil produzirá volume muito similar ao atual e a consultoria Safras & Mercado indica repetição de área no Rio Grande do Sul, que representa mais de 65% da produção nacional.

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