Lavoura high-tec
Simulação computacional indica melhor época para plantar arroz de terras altas
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Definir a hora certa de semear o arroz pode fazer a diferença entre renda e prejuízo na colheita. Embora a pesquisa ofereça a indicação de épocas mais adequadas para a semeadura, a evolução tecnológica permite precisar o melhor momento de colocar as sementes na terra. Os agricultores de Goiás, Mato Grosso, Tocantins e Rondônia que forem cultivar o arroz de terras altas na safra de verão, por exemplo, devem ficar atentos para semear em novembro de 2015.
Este será o melhor mês para o plantio, pois haverá menor risco de a lavoura ter veranicos na fase mais crítica: o florescimento. As semeaduras que ocorrerem após este período estarão sujeitas a pior distribuição de chuvas, o que pode reduzir a produtividade.
Essas conclusões foram obtidas por meio de modelos de simulação, um programa de computador que permite analisar de forma dinâmica a série histórica de dados diários climáticos (precipitação, temperatura e radiação solar) e características de solos e da cultivar e prever os prováveis cenários.
A interação dessas variáveis permite avaliar os riscos climáticos, distribuição das chuvas, o solo, crescimento e desenvolvimento de plantas, perdas de água para a atmosfera e demanda da lavoura por irrigação. E é possível identificar e avaliar pontos fortes e fracos de forma relacional sobre a produção diante de diferentes cenários e indicar ações preventivas.
Como exemplo pode-se citar uma antecipação de plantio, a escolha de uma cultivar de ciclo mais precoce, semeadura em plantio direto e indicação da quantidade de água estimada para irrigação sem dano à produtividade da cultura e sem desperdício de recursos hídricos, entre outras práticas importantes. A simulação computacional tem sido aplicada pelo pesquisador Alexandre Bryan Heinemann, da Embrapa Arroz e Feijão (GO), especialista em ecofisiologia de lavouras.
A ferramenta permite a realização de análises com muitas variáveis, permitindo a visualização de cenários futuros próximos à realidade a fim de orientar produtores a respeito das melhores épocas de plantio. Os resultados são divulgados em publicações técnicas e artigos científicos.
ANÁLISE
No caso da análise do arroz para terras altas nos quatro estados estudados, a simulação evidenciou que plantar após novembro poderá não ser um bom negócio. “Nesse período, a probabilidade de a estiagem coincidir com a fase reprodutiva da lavoura é maior, o que resultará em redução da produtividade”, explica Heinemann, frisando que o estudo levou em consideração o ciclo médio das lavouras de arroz de terras altas de 110 dias.
Modelo foi adaptado à realidade do Brasil
Para simular a safra de verão da orizicultura de terras altas nos estados de Goiás, Mato Grosso, Tocantins e Rondônia, o pesquisador Alexandre Bryan Heinemann, da Embrapa Arroz e Feijão (GO), utilizou o modelo de simulação do arroz Oryza 2000, desenvolvido pelo Instituto Internacional de Pesquisa de Arroz (Irri), Filipinas, e referendado pela comunidade científica mundial. No Brasil, o Oryza 2000 foi calibrado com dados do manejo de lavouras e crescimento de variedades da Embrapa.
Esse modelo foi também abastecido com informações meteorológicas regionais coletadas por mais de 30 anos em 51 estações climáticas do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). E foram levadas em conta as características de armazenamento de água por sete tipos de solo mais representativos da região de produção do arroz de terras altas e oito datas de semeaduras.
O trabalho evidenciou a importância do componente solo nos sistemas de produção. Entre as variáveis mais relevantes estão as características da estrutura do solo relacionadas à retenção de água, os chamados atributos físico-hídricos. “Esses atributos implicam variação da capacidade de armazenamento da água e aproveitamento da precipitação pluvial, refletindo necessidades diferentes de irrigação”, afirma o cientista.
“Durante a estação chuvosa é comum nesses estados a ocorrência de estiagens. Essa condição, aliada às altas temperaturas e às características de retenção de água do solo, eleva a perda de água pela planta para a atmosfera, ocasionando a deficiência hídrica”, acrescenta Heinemann.
A simulação fornece uma estimativa climática, o que não significa que, pontualmente, todas as localidades dos estados abrangidos pelo estudo tenham aptidão agrícola para o cultivo do cereal. Há situações como as relacionadas ao relevo, por exemplo, que podem indicar um melhor uso das áreas para outras atividades rurais.
Previsão do tempo
O pesquisador Alexandre Bryan Heinemann aconselha ainda que o produtor se municie com dados cotidianos de previsão do tempo, que lhe informarão sobre possíveis ocorrências de chuvas, e outros que auxiliarão nas decisões a curto prazo.
“Esses serviços meteorológicos alertarão, por exemplo, sobre a ocorrência de granizo no dia escolhido pelo agricultor para a semeadura”, ilustra, indicando o sistema Agritempo, da Embrapa, com informações gratuitas em boletins, previsões e mapas meteorológicos.
O trabalho com o modelo de simulação para o cultivo do arroz de terras altas buscou abranger os principais estados onde o produto se faz presente. Essa ferramenta encontra-se em evolução, passando agora pela integração dos modelos de simulação de culturas agrícolas com os perfis econômicos.
Desse modo será possível caracterizar os riscos de produção, desenvolver estratégias de adaptação de sistemas produtivos e subsidiar a formulação de ações de pesquisa, extensão rural e políticas públicas levando-se em conta a variabilidade do clima e mudanças climáticas.