Impacto imediato
A crise pela qual atravessa a lavoura de arroz está embasada em problemas estruturais que afetam a competitividade do setor
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O impacto da recessão econômica atingiu o setor de forma inesperada, já que a cadeia produtiva trabalhava com uma expectativa de safra menor do que ela acabou sendo na realidade. “A cultura foi estabelecida com grande parte da área plantada fora da época recomendada. Além disso, foi um verão de mais baixa luminosidade. Todos esses fatores apontavam para uma safra menor e um início de ano com o menor estoque da história, tanto público quanto privado. Mas apesar de todas essas dificuldades tivemos a segunda maior safra da história e produtividade recorde”, explica Barata.
Somado a isso havia também, segundo ele, toda uma conjuntura cambial muito favorável à exportação, com o dólar valorizado e a expectativa de importações menores. “Porém, países concorrentes, como a Tailândia, a Índia e o Vietnã, desvalorizaram suas moedas em relação ao dólar e com isso ficaram mais competitivos. Com isso, o Brasil acabou ficando mais competitivo em relação a ele próprio no passado, mas não em relação a seus concorrentes”, compara o diretor comercial do Irga.
A crise pela qual atravessa a lavoura de arroz, na análise do economista-chefe do Sistema Farsul, Antônio da Luz, está embasada em problemas estruturais que afetam a competitividade do setor, como os altos custos de produção, as questões tributárias e os gargalos de infraestrutura. “São problemas crônicos, que em alguns anos se tornam mais evidentes, principalmente quando os preços caem. Assim, temos anos bons e anos ruins. Este é ruim”, justifica.
Ele lembra que até o final de 2014 não havia crise. “Em nível global, este é o terceiro ano consecutivo em que o consumo de arroz é maior que a produção mundial. São também três anos seguidos de redução nos estoques mundiais.
Ocorre que a Tailândia, maior exportadora de arroz do mundo, com 11 milhões de toneladas anuais, estava com estoques recordes e em 2015 decidiu reduzi-los pela metade, inundando o mercado mundial de arroz. Para tanto, desvalorizaram a própria moeda, derrubando os preços mundiais em apenas 45 dias. Com isso, a competitividade do arroz brasileiro acabou sendo prejudicada”, pontua.
Embora as exportações venham ocorrendo dentro da normalidade ao longo destes primeiros meses de 2015, Tiago Barata ressalta que elas não vêm sendo favorecidas pela alta da moeda americana. “O dólar vem sendo importante sim para segurar as importações. Este ano importamos bem menos arroz do que neste mesmo período no ano passado”, pontua.
Para Antônio da Luz, o superávit nas exportações brasileiras de arroz é fato consolidado, entretanto, ele ressalta que o Brasil carece de acordos bilaterais para alavancar sua participação no mercado externo. “Na verdade, o único acordo bilateral do Brasil é com o Mercosul, que nem é tão bom assim.
E especialmente no caso arroz, é péssimo. Há muito espaço para trabalhar o arroz brasileiro na América Latina e Caribe, mas a indústria também precisa ser mais ativa nas exportações. Não é mais o arroz em casca, e sim o beneficiado, que sai em maior volume”, afirma.
Já o consultor Carlos Cogo, da Carlos Cogo Consultoria, lamenta que este superávit venha caindo em volume nos últimos anos. “Na safra 2010/11, a diferença na balança comercial a favor do Brasil foi de 1,3 milhão de toneladas.
A ANALOGIA DO MILHO
Se a cadeia produtiva do arroz trabalhava com a expectativa de colher uma safra menor do que ela acabou sendo na realidade, o mesmo pode ser dito em relação aos produtores de milho do Mato Grosso.
E pelas mesmas razões, conforme explica o diretor administrativo e financeiro da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Nelson Piccoli: “A área plantada em 2015 foi a mesma de 2014, porém fora da janela recomendada e com clima desfavorável. Mesmo assim, a produtividade acabou sendo mais alta, em média 15% superior à safra anterior. Como isso gerou uma super oferta, os preços caíram no período da colheita de R$ 15,00 e R$ 16,00 para R$ 13,00.
A diferença em relação ao arroz é que os preços do milho voltaram a subir devido ao grande volume de chuva registrado nos EUA, que comprometeu parte da produção americana. Com isso, o produto brasileiro se valorizou, houve uma melhora nos preços e nessa retomada ainda conseguimos vender 5% da safra para 2016”, argumenta.