Reflexo do câmbio

Valorização do dólar
ajuda a manter as
exportações de arroz.

O analista da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Sérgio Roberto dos Santos Júnior, explica que atualmente observa-se no mercado uma tendência de alta em função da baixa oferta frente à demanda. “Esse desequilíbrio ocorre também pelo expressivo saldo positivo de 442,4 mil toneladas (base casca) entre os meses de março e setembro de 2015, volume esse superior ao observado no período comercial 2014/15, de 381,1 mil toneladas”.
Segundo ele, para o final do ano comercial 2015/16 a Conab estima um superávit de 650 mil toneladas.

Ou seja, com a provável manutenção do consumo interno em 12 milhões de toneladas e com a produção da safra 2014/15 consolidada em pouco mais de 12,4 milhões de toneladas, a diferença entre o saldo produzido e consumido não será suficiente para responder ao avanço do produto brasileiro no mercado externo, o que vai reduzir os estoques de passagem.

“Como resultado, observamos no segundo semestre de 2015 um viés de alta na cotação do grão em casca. Para o terço final do ano comercial espera-se que este movimento continue de forma menos intensa do que observado entre setembro e outubro”, explica.

Para Santos Júnior, a expectativa para próxima safra é de preço médio acima do observado na atual. “Naturalmente, com a entrada da safra 2015/16 para comercialização nos meses de março e abril de 2016 espera-se uma reversão do viés de alta da atual entressafra, mas gradativamente os preços devem se ajustar acima dos praticados no primeiro semestre de 2015”, considera.

Também para Antônio da Luz, economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), a expectativa é de que os preços do arroz continuem em alta no mercado brasileiro, pois há diversos fatores que contribuem para isso. “A procura está aquecida e os preços em setembro e outubro estão mais altos do que estavam nesses meses do ano passado.

A segunda razão é as fortes altas no mercado internacional. Em maio desse ano o arroz estava cotado em Chicago a US$ 9,5/Cwt e para maio do próximo ano os contratos futuros estão em US$ 12,40/Cwt, uma alta de mais de 30% que reflete a perspectivas de quedas nos estoques mundiais”, destaca.

Ainda de acordo com o economista, outra razão para otimismo é a taxa de câmbio, que ao encontrar os preços internacionais mais altos faz com o produto brasileiro chegue competitivo no mercado externo e ainda torna a importação quase inviável. “Uma prova da força dessa combinação foram as exportações de setembro, que cresceram 178% em relação ao mesmo mês em 2014”, enfatiza.

Além disso, há uma expectativa de redução de área plantada e produtividade que se concretizada poderá fazer com que o preço ganhe ainda mais fôlego. Ele alerta, no entanto, que a safra que está sendo semeada apresenta o maior aumento de custos de produção desde que foi criado o Plano Real, principalmente em energia elétrica, combustíveis e mão de obra. Levantamento realizado em junho pela Farsul para a safra 2015/16 de arroz indicou um aumento de 21%, mais do que o dobro da inflação do período. E desde junho o câmbio subiu mais, as condições da economia pioraram e o custo seguiu aumentando.

FIQUE DE OLHO
Hoje, a Conab possui cerca de 126 mil toneladas de estoque de arroz, na qual parte significativa é proveniente da safra 2010/11. Em face de uma oferta restrita do grão nos principais mercados, os preços encontram-se aquecidos, o que apresenta um bom cenário para a comercialização, uma vez que a empresa também visa lucro.

Todavia, o volume é considerado estratégico para dar suporte a programas sociais e doações humanitárias a um programa da ONU. Por outro lado, a legislação de política agrícola brasileira não autoriza operações de compra por parte do governo federal em mercados com cotações acima do preço mínimo de garantia estabelecido anualmente.

A possibilidade de compra ocorreria apenas com uma autorização legislativa extraordinária, a qual apresenta-se ser improvável na atual conjuntura. Desta forma, o governo não tem ideia de retomar os patamares antigos de estoques acima de 1 milhão de toneladas.

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