Embrapa contribui para sustentabilidade da orizicultura africana

Predominantemente, o arroz de terras altas é cultivado em Moçambique no ambiente de savanas, equivalente ao cerrado brasileiro.

A Embrapa Arroz e Feijão (Santo Antônio de Goiás, GO) e a Fundação Aga Khan (Portugal) conseguiram aumentar em três vezes (3,5 mil quilos por hectare) a produtividade do arroz de terras de altas (sequeiro), plantado por agricultores familiares moçambicanos. Esse salto é atribuído ao sistema de manejo em sucessão de culturas, com plantas de cobertura do solo na entressafra e o cultivo do cereal na safra principal. As plantas de cobertura do solo são responsáveis por melhorar o ambiente das lavouras, além de servirem de alimento para a população, como é o caso das leguminosas comestíveis, principalmente, os feijões.

O Projeto está em andamento há dois anos nas localidades de Cuaia, Nacuta e Nambaua, povoados próximos à cidade Pemba, capital da província de Cabo Delgado, à noroeste do país. Foram testadas plantas já utilizadas pelos agricultores da região, como milheto, caupi, mucuna preta e lab lab, culturas que, além de produzirem cobertura do solo, fazem parte da alimentação da população, abrindo oportunidade, para a segurança alimentar e melhoria de renda. Nesse sistema, após o final do ciclo das espécies de cobertura e a colheita de seus grãos, resta a palhada sobre a superfície do solo, onde o arroz é cultivado, entre outubro e novembro.

O pesquisador Adriano Nascente (Embrapa Arroz e Feijão) é um dos coordenadores do Projeto e afirma que as plantas de cobertura de ciclo curto, anuais, se espalham rapidamente e protegem o solo com uma densa camada de biomassa. Após esse cultivo inicial e a colheita dos grãos, os produtores semeiam o arroz em viveiros e realizam o transplante manual de mudas sobre a palhada, em sistema plantio direto.

Os benefícios são que as plantas de cobertura ajudam a suprimir o surgimento de plantas daninhas e, durante seu processo de degradação como palhada, há a liberação de nutrientes para o solo, que podem ser absorvidos pela cultura do arroz, sendo que, no caso das leguminosas, existe ainda a fixação de nitrogênio atmosférico no solo.

De acordo com Adriano Nascente, um dos resultados é o aumento da produção de alimentos pela colheita dos grãos das plantas de cobertura. O feijão caupi, por exemplo, produziu em média 1,7 mil quilos por hectare. Além disso, foi possível obter aumento de produtividade e de rentabilidade da lavoura de arroz de terras altas, pois o custo de produção foi reduzido, haja vista que não foram utilizados insumos como inseticidas, herbicidas, fungicidas e fertilizantes.

Ainda segundo Adriano Nascente, as pesquisas foram conduzidas em campos experimentais dentro das comunidades, o que facilitou o contato dos agricultores com as tecnologias, porém esse sistema de cultivo pode ser estendido para outras regiões onde o cereal é cultivado em Moçambique. Para tanto, ele disse que está sendo programada uma série de eventos de demonstração das técnicas empregadas para 800 produtores familiares de diferentes localidades.

O Projeto conduzido em Moçambique agrega ainda ao cultivo do arroz de terras altas uma característica primordial na busca pela sustentabilidade. Conforme José Dambiro, da Fundação Aga Khan, está sendo validado um sistema orizicultor que possui caráter de tecnologia social, que une o saber popular ao conhecimento científico, que é simples, de baixo custo, de fácil aplicabilidade e impacto comprovado. Junto com Adriano Nascente, José Dambiro é um dos idealizadores do Projeto em execução.

Cooperação técnica internacional

Intitulado: "Intensificação da produção sustentável de arroz em Moçambique", o Projeto integra o Programa Marketplace, uma iniciativa internacional apoiada por diferentes parceiros do setor público e privado, com o objetivo de fomentar a agropecuária em países em desenvolvimento, articulando trabalhos entre pesquisadores do Brasil e outros cientistas na América Latina, África e Caribe.

Ao longo de cinco anos de execução, o Programa Marketplace já financiou 76 projetos de 48 países, resultando em 147 tecnologias, produtos e serviços; 131 publicações técnico-científicas; 1.177 profissionais treinados; 93 eventos realizados e 924 materiais genéticos intercambiados.

Importância do Arroz

Predominantemente, o arroz de terras altas é cultivado em Moçambique no ambiente de savanas, equivalente ao cerrado brasileiro. A produção é feita por pequenos produtores no modelo de agricultura de subsistência, com baixo uso de tecnologias e que proporciona uma produtividade média de mil quilos por hectare. O país tem déficit anual de 400 mil toneladas do grão, ou seja, cerca de 40% do consumo interno. Para reverter esse cenário, uma das condições desejáveis é proporcionar à agricultura familiar maior produtividade e a independência de insumos externos às propriedades rurais (adubos e agrotóxicos).

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