Geotecnologias: um atalho para o sucesso na diversificação do sistema produtivo em terras baixas
José Maria Barbatt Parfitt
Pesquisador Embrapa
Antoniony Severo Wincler
Eng. Agrônomo e doutorando UFPel
Sabe-se que os problemas decorrentes do excesso ou deficiência hídrica para a soja, milho e outros cultivos em rotação com arroz irrigado são dos principais fatores limitantes para que estas culturas possam expressar seu máximo potencial produtivo. As questões que corroboram com este cenário são a deficiência de drenagem, ausência de um sistema de irrigação e falta de sistematização da superfície do solo.
Como os solos das terras baixas do Sul do Brasil apresentam baixa condutividade hidráulica, a configuração da superfície do terreno assume grande importância uma vez que define a necessidade de sistematização e a forma de ser realizada, bem como os projetos de irrigação e de drenagem para as culturas de sequeiro. Nesse sentido, uma ferramenta básica e inovadora para o sistema de produção nas terras baixas é a utilização de receptores GPS (global position system) e base RTK (real time kinematic) para a obtenção do modelo digital de elevação do terreno (MDE). A partir do MDE é possível realizar uma avaliação da drenagem natural para o dimensionamento do sistema de drenagem superficial e também definirem-se diferentes projetos de sistematização em ambiente SIG (sistema de informações geográficas).
No sentido de ilustrar a potencialidade deste sistema, na figura 1A apresenta-se um MDE de uma área de 38 hectares no município de Dom Pedrito (RS) com a avaliação do sistema de drenagem natural. Esta avaliação permite o dimensionamento dos drenos superficiais que posteriormente deverão ser executados com GPS e piloto automático garantindo desta forma a eficiência do sistema de drenagem.
Ainda explorando o MDE original da área, na figura 1B é apresentada uma proposta de alocação de camaleões respeitando dois princípios básicos: o sistema de drenagem natural (figura 1A) e que os camaleões não apresentem declividade negativa ao longo da linha, garantindo desta forma que a partir de seu ponto mais alto até o mais baixo os mesmos não apresentem zonas de armazenamento de água. Os camaleões propiciam melhores condições de drenagem bem como permitem a irrigação por sulcos. No caso da irrigação, a utilização de mangueiras plásticas é uma ferramenta fundamental que facilita o manejo da água na cabeceira dos sulcos.
Com vistas à sistematização da superfície do solo são apresentados dois projetos de sistematização para referida área, sendo o primeiro (figura 2A) o sistema tradicional de sistematização da lavoura arrozeira do sul do país, ou seja, sem declividade comumente chamada de “cota zero”, e o segundo (figura 2B) o método de sistematização com declividade variada. O projeto em “cota zero” necessitou ser subdividido em seis talhões para que as áreas com cortes superiores a 0,2 metros não fossem maiores que 10 % da área de corte e também para que o movimento de solo fosse menor, 513 m³ha-1 neste caso.
Para o projeto de sistematização em superfície com declividade variada a área apresentou cortes maiores que 0,2 metros em 2,5 % da área e movimento de solo de 201 m³ha-1 e não necessitou de subdivisões em talhões. Este novo método de sistematização se diferencia dos métodos planos com e sem declividade por somente poder ser executado utilizando-se receptores GPS com RTK. O método de sistematização sem declividade privilegia fundamentalmente a cultura do arroz, entretanto, a drenagem da área não é beneficiada, não podendo ser considerada uma tecnologia que contribua para a diversificação do sistema produtivo nas terras baixas. Obviamente que estamos analisando uma área específica com relevo suavemente ondulado e, portanto, áreas com características topográficas diferentes podem apresentar resultados diferentes aos demonstrados. Também na figura 2B pode-se observar como ficaria a alocação dos camaleões na área sistematizada em superfície com declividade variada.
A Embrapa Clima Temperado, de Pelotas (RS), através do pesquisador José Maria Barbatt Parfitt e do doutorando da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), o engenheiro agrícola Antoniony Severo Winkler, realizará neste ano dias de campo ao público interessado e treinamentos de curta duração onde poderão ser aprofundados os conceitos referentes à utilização desta ferramenta.