Entre os custos e a resistência
Cultivo mínimo, convencional ou de sementes pré-germinadas. Só muda a espécie predominante, mas lá estão elas comprometendo a produtividade das lavouras de arroz independentemente do sistema de cultivo. E como se já não bastasse ter que manejar uma planta daninha da mesma espécie da cultura junto a outras intensamente competitivas e lidar com as particularidades das terras baixas, o rizicultor precisa se adaptar às mais diversas pressões econômicas e, ainda, aos desafios impostos pela resistência a herbicidas.
Capim-arroz, ciperáceas e sagitária figuram na lista das plantas daninhas resistentes. Dentre os relatos estão praticamente todos os herbicidas inibidores de acetolactato sintase (ALS) registrados para a cultura, betanzon (inibidor de fotossistema II) e quincloraque, que em gramíneas inibe a síntese de celulose. E, é claro, o arroz-vermelho, que é resistente a imidazolinonas e encontra-se amplamente disperso pelas regiões arrozeiras, limitando o uso eficiente da tecnologia Clearfield.
Assim, se inicialmente o objetivo maior do manejo de plantas daninhas era minimizar os impactos da interferência, a resistência agregou complexidade ao sistema. Para contê-la é necessário reduzir a pressão de seleção, a velocidade de evolução e a dispersão pelas áreas de cultivo das plantas daninhas capazes de sobreviver a herbicidas. Isso tudo sob a difícil situação econômica que assola a cultura.
Manejar para conter a resistência pode parecer um trabalho ingrato, uma vez que os resultados não saltam aos olhos, pelo menos, não imediatamente. Mas é um trabalho de pequenas ações que culminam em sustentabilidade. E não existe agricultura que se perpetue sem ela! Afinal, quantas áreas já testemunharam o abandono em razão da infestação por arroz-daninho?
É hora de olhar para dentro da porteira e entender como cada talhão funciona. Quais são as plantas daninhas presentes no banco de sementes e propágulos do solo e como é a suscetibilidade aos herbicidas? As características e a capacidade de drenagem do solo permitem a rotação de culturas? Qual é o manejo da área no período de entressafra? O histórico é o mapa inicial para traçar o melhor caminho a seguir!
Capim-arroz é uma das plantas daninhas resistentes que vêm ameaçando a produtividade e o lucro dos arrozeiros
Primordial também é a compreensão de que a resistência é fruto da capacidade adaptativa das plantas daninhas à pressão exercida pelo uso repetido de um mesmo mecanismo de ação herbicida. Ou seja, mesmo que sob rotação, se continuarmos apoiando o manejo sobre glifosato em ambas as culturas, como é feito na dessecação pré-semeadura, no ponto de agulha do arroz e em pós-emergência da soja, em mais de uma aplicação e muitas vezes misturando com imidazolinonas, em breve teremos novos casos de resistência na lista.
Além da significativa alteração do agroecossistema, a grande contribuição da rotação de culturas é justamente viabilizar o uso de mecanismos de ação que o cultivo exclusivo de arroz não permite, a exemplo do uso de S-metolacloro, muito eficiente no controle de arroz-daninho, capim-arroz, capim-pé-de-galinha e outras gramíneas anuais.
Assim, conscientes das especificidades de cada talhão, é urgente adotar uma maior diversidade de práticas de manejo, uma vez que estamos inviabilizando nossos recursos mais eficientes, fáceis e baratos. Novas plataformas biotecnológicas virão para auxiliar no manejo de plantas daninhas, no entanto, são as nossas decisões que determinarão a extensão e o tempo de eficácia!
KELI SOUZA DA SILVA
DRA. EM AGRONOMIA COM ÊNFASE EM PLANTAS DANINHAS, COORDENADORA DE PESQUISAS EM HERBOLOGIA DA AGRUM – AGROTECNOLOGIAS INTEGRADAS, EDITORA DO WEEDOUT.COM.BR