Arroz bate em R$ 80,00 no Litoral Norte e pressão da demanda se mantém

 Arroz bate em R$ 80,00 no Litoral Norte e pressão da demanda se mantém

Colheita gaúcha está rendendo lucros para o produtor que ainda tem arroz

A saca de arroz com 63% de grãos inteiros, acima, registrou negócios de R$ 80,00, à vista no Litoral Norte e Planície Costeira Externa, diante da oferta restrita e das indústrias disputando pequenos lotes.

A referência do mercado de arroz no Rio Grande do Sul se tornou exclusivamente o valor pedido pelo produtor que ainda dispõe de estoques. Nesta quarta-feira foram reportados negócios no Litoral Norte e na Planície Costeira Externa a R$ 80,00 para a saca de arroz de 50 quilos, em casca, com 63% de grãos inteiros, acima, e de variedades nobres. Há uma semana o mercado operava a R$ 73,00 e em meados de julho entre R$ 67,00 e R$ 68,00. A forte presença de compradores de fora do Rio Grande do Sul e de regiões como a Zona Sul, têm forçado a disputa dos pequenos lotes negociados – até 30 mil sacas, em média – pelas empresas locais.

Na semana passada, o mercado regional abriu a R$ 73,00 para as variedades nobres, mas os compradores externos começaram a disputar e pagaram estes valores “a varrer’, ou seja, para produtos de 58% de inteiros pra cima e também de variedades “comuns” e híbridos. Em outras regiões já está se tornando comum a oferta de preços de R$ 80,00 pelas indústrias para a aquisição de maiores volumes com pagamento parcelado até dezembro.

Em Cachoeira do Sul e região Central, que costumam ter algumas das cotações mais baixas do estado, tradicionalmente, há negócios reportados entre R$ 71,50 e R$ 72,00 para grão com 60% de inteiros. Chegaria no porto entre R$ 77,00 e R$ 78,00 final, por saca, contando o frete. São lotes adquiridos para que a empresa não perca a oportunidade, mas para colocar o fardo em São Paulo em nova negociação e mantendo as margens, precisaria estar comprando a R$ 63,00 a R$ 64,00. A diferença ou a indústria vai bancar e diluir com o estoque adquirido por valores menores antes, ou vai ter que repartir com o varejo. O certo é que sua média de custo subiu.

“A leitura de boa parte das indústrias é de que há pouco produto disponível no mercado livre, e o que existe em maior volume está na mão de pouquíssimos produtores. O medo de muitos destes agentes é não conseguir comprar arroz em novembro, dezembro. Ou seja, ainda que os números do Rio Grande do Sul em processamento e venda de arroz em casca, incluindo parte das exportações, apontem para um avanço de 20 dias no primeiro semestre no giro do produto pela antecipação da demanda e aumento do consumo por causa do Covid-19, as indústrias estão operando para antecipar a compra prevendo uma falta de matéria-prima daqui a três, quatro meses”, observa Cleiton Evandro dos Santos, analista da AgroDados Inteligência em Mercados de Arroz e Planeta Arroz.

Para ele, aquele efeito manada que levou milhões de pessoas aos supermercados em março e abril, hoje apresenta um cenário muito parecido em outro elo da cadeia produtiva. “As indústrias querem garantir estoque para cruzar o ano comercial sem maiores sobressaltos. O complicado, e talvez o maior dos desafios dos beneficiadores, agora, vai ser repassar este custo de matéria-prima para um varejo que vem mostrando sinais de lentidão e para um consumidor acostumado a pagar valores irrisórios pelo arroz”, observa Cleiton Evandro dos Santos, analista da AgroDados Inteligência em Mercados de Arroz e Planeta Arroz.

Para Santos, os preços seguirão firmes enquanto o produtor tiver fôlego para segurar as vendas. “A questão é que o mercado, por si, busca se regular. Teremos mais importações no curto e médio prazos, não estamos exportando e agora estão se acentuando os riscos de interferência do governo federal. Nas últimas semanas, pelos contatos com os elos produtivos, o MAPA tem cobrado um posicionamento das indústrias sobre o abastecimento futuro e alertado para o quadro de oferta e demanda muito apertado”, assegura o analista.

Conforme Santos, na reunião da Câmara Setorial do Arroz, esta tarde, ficou bem claro que o governo monitora o mercado e não descarta intervir com mecanismos que favoreçam exportações. “O governo não tem estoques importantes, que anda abaixo de 25 mil toneladas, o equivalente a um navio. O que lhe restaria seria facilitar a importação. Um exemplo de medida, que vem sendo bastante ventilada por traders, seria a suspensão da Tarifa Externa Comum (TEC) de 12% que existe para compras de países extrabloco”.

De acordo com o analista de AgroDados/Planeta Arroz, para a maioria das tradings, que são empresas internacionais, não importa muito se o movimento é de exportação ou importação, o que interessa é o volume de negócios e o retorno que isso vai dar. “Para quem está na expectativa de dois, três meses sem exportar, importar é uma janela de oportunidade”, lembra.

Nas últimas semanas, diversos agentes de negócios brasileiros receberam amostras de arroz da Índia, da China Há um bom volume de amostras de arroz asiático – em especial da Índia – na mão de negociantes brasileiros. Por enquanto, mesmo o 5% beneficiado, estão sendo considerados com baixo padrão de qualidade, com muito gesso, um grão muito distante do agulhinha que o brasileiro consome e só se encontra no mesmo padrão aqui no Mercosul”.

O analista resume o mercado: “enquanto houver quem pague o valor pedido, o mercado terá firmeza. O problema, para ela, virá na hora de convencer o varejo de que deve remunerar nestas bases e o consumidor deve pagar de R$ 5,00 a R$ 6,00 por quilo quando estava acostumado a pagar R$ 2,50 a R$ 3,50”.

BOA NOTÍCIA

Os preços rentáveis são uma boa notícia para o setor produtivo, afinal estudos do Irga mostram que nas últimas 10 safras apenas três haviam dado resultados positivos com base nas médias de custo de produção, produtividade e preço médio de venda. “Lucrou quem teve custo abaixo da média, produtividade bem acima da média e alcançou preço de venda muito bom, o que não é a realidade de 60% a 70% dos arrozeiros. A queda na área plantada e no número de lavouras demonstra isso claramente”, argumenta.

Lembra ainda que uma boa parte dos arrozeiros não está recebendo os valores atuais, pois teve que cumprir contratos de CPR´s entregando o grão assim que colheu. "Majoritariamente essas vendas nos patamares atuais são uma condição da agricultura empresarial ou de um agricultor melhor estruturado produtiva e econonomicamente, que vende no segundo semestre, tem outras fontes de renda e um portfólio variado com soja, pecuária e, eventualmente, alguma cultura de inverno. Em geral, este é um fornecedor que está mais capitalizado e pode segurar as vendas e fracionar seus lotes de forma a fazer uma boa média de preços". 

Santos também afirmou que a Agrodados Inteligência em Mercados de Arroz está refazendo a sua pesquisa de intenção de plantio, para ter uma dimensão mais exata. A pesquisa que indicou uma intenção de aumento de 7,1% da área, para 1,006 milhão de hectares, foi realizada no início de maio, com preços ainda na volta dos R$ 60,00. “Hoje, a realidade é completamente outra e o sentimento é de que vamos ultrapassar de forma importante essa marca prevista”, alerta.

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