O arroz está bem salgado

 O arroz está bem salgado

Arroz: valorização ao produtor com demanda firme no pico da entressafra

Pacote de cinco quilos teve aumento de 42% em apenas um mês.

 O valor cobrado pelo pacote de cinco quilos de arroz disparou nas últimas semanas, levando os consumidores cachoeirenses a usarem as redes sociais para criticar a alta de preço do produto essencial na cesta básica dos brasileiros e um dos principais da economia de Cachoeira do Sul. O grito dos consumidores inclusive levou o presidente Jair Bolsonaro a pedir aos supermercados para segurar os preços de itens da cesta básica. “Estou pedindo um sacrifício, patriotismo para os grandes donos de supermercados para manter na menor margem de lucro”, enfatizou Bolsonaro.

Há um mês, o pacote de cinco quilos do cereal era vendido a R$ 13,99 no Mercado São Lucas, em Cachoeira do Sul, valor que teve um aumento de 42% e chegou nesta semana a R$ 19,95. O empresário Leandro Gonçalves destaca que precisou reduzir a margem de lucro para evitar que o reajuste fosse ainda maior ao consumidor cachoeirense, que mesmo assim reclama do preço do arroz. Ele observa que o ideal seria trabalhar com uma margem de ganho de 30%, mas enfatiza que reduziu o lucro para 10% para evitar elevar ainda mais o preço aos clientes. “Isso foi possível em virtude de termos feito estoque. Mas a tendência é subir”, frisa Gonçalves.

Vários fatores contribuem para o aumento do preço do arroz. Um deles é a mudança de comportamento do consumidor durante a pandemia, quando grande parte da população deixou de se alimentar em restaurantes e passou a cozinhar em casa, aumentando a demanda pelo produto. O aumento da renda de parte da população com o auxílio emergencial também incentivou a compra de mais produtos, reduzindo a oferta.

DÓLAR VALORIZADO

Além disso, o dólar valorizado ajudou a aumentar as exportações no primeiro semestre. As exportações de arroz beneficiado crescerem 260% entre março e julho deste ano, chegando a 300 mil toneladas. Para piorar, também houve redução de 59% nas importações do produto no período, para 48,3 mil toneladas. O resultado da balança comercial levou a uma menor oferta do arroz no mercado brasileiro, elevando o preço do produto. No início de agosto, a saca de arroz em casca com 50 quilos era vendida a R$ 71,00 em Cachoeira, valor que chegou a R$ 105,00 nesta semana.

Falta matéria-prima na indústria

A Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz) informa que nas últimas semanas a indústria tem sofrido enorme dificuldade de acesso à matéria-prima, decorrente da restrição de oferta do arroz, que está concentrada em poder de poucos produtores. Esse movimento tem resultado em falta de referência para comercialização do arroz e na oscilação generalizada nos preços do cereal para cima, tanto para a indústria como para os consumidores.

A Abiarroz esclarece que, ao perceber a alta descontrolada de preços, comunicou ao setor produtivo e às autoridades competentes, com a preocupação de que seja mantido o abastecimento regular do produto até a próxima safra e de que haja uma estabilidade no preço final ao consumidor, especialmente nesse momento de crise pandêmica. A Abiarroz destaca que a matéria-prima representa parte expressiva do preço de venda do arroz, o que reflete sobremaneira no preço final ao consumidor.

ATENÇÃO

O governo federal anunciou que vai liberar a importação de 400 mil toneladas de arroz (base casca) de países não integrantes do Mercosul, sem a incidência da Tarifa Externa Comum (TEC). A tarifa incide em 12% sobre o arroz beneficiado e 10% sobre o arroz importado comprado de terceiras origens. A medida deve valer até 31 de dezembro. A tendência é de que o volume seja alcançado rapidamente, uma vez que aquisições de pelo menos dois navios graneleiros e 650 contêineres já estão confirmadas por empresas brasileiras nos Estados Unidos e na Índia, enquanto outras cargas apenas aguardam a formalização da medida governamental. O anúncio acontece após insistente pressão dos consumidores, do varejo, do atacado, de indústrias e tradings nas últimas semanas, depois que os preços do grão subiram mais de 100% ao produtor e ao consumidor em vários estados brasileiros.

ENTREVISTA

 

Empresário Paulo Treichel, sócio-administrador da Treichel Alimentos 

A que podemos atribuir esta alta de preço do arroz ao consumidor?

“Em razão do dólar alto, que girou em torno de R$ 5,90 em abril, quando aconteceu um aumento nas exportações fazendo com que o arroz com casca se elevasse em plena colheita, somando a pandemia da covid-19 com o isolamento das famílias que passaram a consumir mais alimentos da cesta básica, ocorrendo com isso um aumento do consumo do arroz. O reflexo de tudo isso estamos sentindo hoje nos preços praticados mesmo não acontecendo mais exportações”.

Existe uma previsão de quanto tempo a alta de preço deve permanecer

“Difícil apontar uma data. Hoje o governo suspendeu a TEC, que é a tarifa paga pelas indústrias para a importação de arroz e isso poderá trazer um reflexo no mercado, fazendo com que o produtor oferte uma parte do volume disponível para as indústrias, pois essa ação do governo poderá vir a inibir novas altas que estão acontecendo quase que diariamente”.

Quanto aumentou o custo do arroz para a indústria nos últimos meses?

“Viemos de um início de colheita em março com preços na faixa de R$ 48,00 a R$ 50,00 para preços hoje nos patamares de R$ 100,00. Isso representa 100% de aumento em seis meses”.

Este reajuste no preço da matéria-prima acaba sendo repassado pela indústria ao mercado?

“A indústria certamente é obrigada a repassar esses preços para o mercado”.

A indústria vem enfrentando dificuldade para comprar arroz hoje? A oferta é pequena?

“Acredito que ainda existe arroz disponível na mão do produtor. Mas em razão da competitividade por parte das indústrias com a necessidade de repor seus estoques a elevação de preços e a falta de oferta de matéria-prima acabou chegando aos níveis de hoje, quando se fala em ofertas de até R$ 110,00 a saca. Talvez com essa iniciativa do governo de suspender a tarifa de importação resulte numa maior oferta de arroz por parte dos produtores”.

O arroz Treichel encareceu muito?

“Temos um mercado muito firme no centro do país, onde nossas marcas têm uma preferência por parte dos consumidores. Em março vendíamos o nosso tipo 1 branco a R$ 90,00 o fardo de 30 quilos e hoje é R$ 140,00, um aumento de 50% enquanto a matéria-prima subiu 100%. Isso mostra que ainda serão necessários novos reajustes no beneficiado”.

“Não existe alimento mais barato no mundo”


 Pinto Kochenborger, presidente da União Central de Rizicultores: considera barato o preço do arroz diante do custo de produção e critica o terrorismo de quem está reclamando / Arquivo JP

O presidente da União Central de Rizicultores, Pinto Kochenborger, destaca que a população estava mal-acostumada com os governos passados onde se comia barato em cima do sacrifício, suor e endividamento do agronegócio. “Neste momento o arroz chegou no preço que ele deveria estar já há vários anos. Acho engraçado que no governo passado a energia elétrica dobrou de preço em poucos meses tirando drasticamente a renda dos produtores e indústrias de arroz. Aí não teve ninguém para fazer boicote, assim como todos os insumos utilizados para produzir, com aumentos absurdos. Mas agora que o arroz chegou no seu real custo de produção querem fazer terrorismo”, dispara Pinto, criticando quem reclama do preço do arroz.

Ele entende que não existe motivo para a gritaria dos consumidores e coloca na ponta do lápis um exemplo de custo de arroz, considerando R$ 24,90 o pacote de cinco quilos do produto, o que representa R$ 4,98 o quilo. “Com este um quilo de arroz se alimenta 10 pessoas muito bem dando um custo por refeição de R$ 0,49, ou seja, o valor de um chiclete”, frisa Pinto.

1,6% DA CONTA DO ALMOÇO

Outro comparativo feito pelo líder arrozeiro é quando se almoça em um restaurante com custo de R$ 30,00 a refeição. “O arroz que compõe este almoço representa 1,6% do valor pago. Não tem alimento mais barato no mundo e de qualidade nutritiva que nem o arroz. É lamentável que existem pessoas tão desinformadas que só enxergam o próprio umbigo”, desabafa Pinto. Ele destaca que está na hora da população entender que o agricultor “não é escravo para continuar produzindo com prejuízo”.

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