A evolução do manejo no sistema de produção de arroz irrigado

 A evolução do manejo no sistema de produção de arroz irrigado

 Nos últimos vinte anos, houve um salto na média da produtividade do arroz no Rio Grande do Sul, passando de 3776 kg/ha para 8402 kg/ha. Diversas modificações no manejo da lavoura foram os responsáveis por este desempenho. O fator fundamental, porém, determinante na construção dessa média, foi o melhoramento genético.

Estudo conduzido pelo Irga determina que quase 70% do aumento da produtividade do arroz gaúcho deveu-se ao melhoramento genético, passando de cultivares com potencial de 6 t/ha, como o Bluebelle, na década de 70, para BR IRGA 409, na década de 80, com potencial de 9 t/ha, chegando a cultivares como IRGA 424RI, nos dias atuais, com potencial de 14 t/ha. Os demais 30% foram influenciados pelas modificações do manejo cultural.

Dentre os diversos mecanismos, não podemos deixar de citar a época de semeadura como o cerne da produtividade do arroz. Em segundo plano, mas não menos importante, a irrigação que passou a ser realizada nos estádios V3-V4, em detrimento ao V6.

Além disso, pequenas modificações foram fundamentais para se extrair todo o potencial genético das plantas: adequação da densidade de semeadura, de 200 kg/ha para menos de 100 kg/ha; tratamento de sementes; fertilização considerando a extração de plantas mais produtivas; e manejo de adubação de nitrogênio, agora aplicado na maior parte em solo seco e fracionado (duas a três vezes) no ciclo da planta, buscando eficiência de elementos empregados.

Atualmente, apesar de cultivares de alto potencial genético no mercado (híbridos podem chegar a 16 ton/ha), a média de produtividade é recorde, mas atinge pouco mais de 50% do potencial disponível. Quer dizer que pode não haver necessidade de plantas mais produtivas no futuro próximo, mas foco no manejo cultural para extrair o máximo potencial genético.

TENDÊNCIAS E DESAFIOS
Quando nos referimos a sustentabilidade, falamos no eixo ambiental, econômico e social. Ambientalmente falando, a lavoura de arroz irrigado tem três gargalos principais: (1) uso da água; (2) emissão de gases do efeito estufa (GEE); e (3) utilização de defensivos.

Nos próximos 20 anos, assistiremos a procura por tecnologias de irrigação alternativas focadas no menor uso de água, através de métodos de irrigação como aspersão (pivô), cultivares superprecoces de alta produtividade, adoção de sistemas de intermitência, todas visando uma menor dependência da água no ciclo do arroz. Lavouras que competem com a cidade por água (ex: na região do rio Gravataí) ou se adaptarão ou tendem a buscar novas culturas.

A irrigação ocupará o lugar de destaque que a época de semeadura teve por décadas, na definição do potencial produtivo do arroz, sendo o planejamento da lavoura no sentido de plantar “no cedo” e irrigar “no cedo” ou seja, antes mesmo do estádio hoje recomendado, V3-V4. Estudos indicam que a irrigação nesses estádios já trazem prejuízos ao arroz, podendo ser realizada, com segurança a partir de uma folha, tamanha a afinidade da planta com a água.

Em relação a emissão de GEE, teremos que quantificar mais a interferência de cada manejo, pois uma parcela crescente da população busca a história do alimento que consome e sua relação com o meio ambiente. Assim, sistemas de preparo do solo, tipos de planta e a irrigação devem ser coordenadas para maior produção de arroz com menor impacto ambiental.

A pesquisa buscará plantas resistentes a doenças e, talvez, insetos, para diminuir uso de defensivos. Essa é uma realidade há tempos, mas espera-se que a biotecnologia facilite a identificação e inserção desses mecanismos no processo de melhoramento genético.

Deve intensificar-se o processo da lavoura de arroz passar por diversificação de culturas, assim como o domínio, pelo agricultor, da parte econômica da atividade, que será mais empresarial, com decisões baseadas no retorno econômico e não em questões culturais. Exemplo: a predileção pelo uso da grade, em aplainar o solo até não haver mais torrões, apesar do desembolso de R$ 300,00/ha, em detrimento de R$ 20,00/ha quando colhe no seco e faz plantio direto. É comportamento mais cultural do que necessidade de correção de microrrelevo.

Todas essas modificações serão antecipadas pela sustentabilidade social. Como manter atividade dependente de mão de obra, com dificuldades de manter a população na zona rural, realizando atividades às vezes não muito confortáveis? Se adaptando. Adaptando a irrigação para não necessitar de tantos aguadores, modificando o sistema de preparo do solo a fim de evitar intervenções; utilizando menos defensivos para evitar contaminações; investindo em tecnologias que facilitem os processos e mantendo as pessoas no campo, afinal o maior desafio, independente da atividade, será a gestão de recursos humanos.

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