Pressão na outra ponta
Alimentos subiram 14%, e o arroz saltou 76% em preços ao consumidor
No início de 2020, poderia parecer “fake news” a publicação de uma fotografia de um pacote de cinco quilos de arroz branco, Tipo 1, em um supermercado ao valor de R$ 40,00. Ninguém poderia esperar. Mas, em setembro, impulsionados pela antecipação da demanda na pandemia e a aceleração as exportações – que chegaram a bater recordes – ninguém mais duvidava, embora as queixas tenham tomado espaços enormes na imprensa e no dia-a-dia dos consumidores. O isolamento social adotado pelas famílias geraram forte busca pelo abastecimento das despensas, ao mesmo tempo em que muitos restaurantes fecharam as portas.
“O consumidor percebeu que não ia faltar arroz no supermercado. A indústria e a cadeia produtiva fizeram um esforço, principalmente de logística, para garantir o abastecimento normalizado o ano todo”, explica José Mathias Bins Martins, presidente da Cooperativa Arrozeira Palmares, de Palmares do Sul. “A questão é que o arroz vinha com os preços represados, considerando a inflação desde 2008 deveria estar valendo cerca de R$ 75,00 por saco ao produtor, e vinha em R$ 40,00 a R$ 50,00. Em algum momento o mercado se ajustaria”, diz Anderson Belloli, assessor da Federarroz.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) os preços dos alimentos foram os que mais subiram em 2020. Enquanto a inflação ficou em 4,52% no ano passado, o custo de produtos alimentícios subiu 14%. O impacto no índice de preços foi de 2,73 pontos percentuais. O arroz foi um dos produtos que encareceram ao consumidor, com 76% de janeiro a dezembro. Em setembro o governo federal liberou as importações de fora do Mercosul com isenção da Tarifa Externa Comum (TEC) de 10% para o arroz em casca e 12% para o beneficiado até dezembro. Havia temor de desabastecimento e estabilização dos preços, em escalada de alta. Entraram menos de 300 mil toneladas.
O presidente da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), João Sanzovo Neto, declarou em setembro que os supermercados não podem ser considerados “vilões” pela alta dos alimentos da cesta básica pois apenas repassaram os custos. Em 2021, a expectativa é de estabilidade. “É um novo patamar. O produtor não tinha mais como pagar a conta. Este ano a relação comercial mudou. Agora a indústria está procurando os agricultores, e não o contrário como acontecia até agora”.