É preciso ler o mercado
Recuperar as cotações é grande desafio para o ano comercial 2022/23
As perspectivas para as cotações do arroz pelo menos até o fim do primeiro semestre de 2022 são preocupantes e desafiadoras. Diante de um custo médio de produção que subiu entre 25% e 40%, dependendo da estratégia de aquisições de insumos pelo produtor e seu sistema de cultivo e gestão do crédito, entre outros fatores, as referências oficiais demonstram que em boa parte da próxima temporada os preços de mercado do grão em casca poderão ficar abaixo do desembolso, em especial para quem não obtiver boas produtividades nas lavouras.
“Se os preços estão abaixo da projeção de custo em plena entressafra, a lógica demonstra que o quadro pra colheita deve ser de cotações possivelmente abaixo do custo de produção”, avaliou Antonio da Luz, economista-chefe da Federação da Agricultura e Pecuária do RS (Farsul).
A pressão sobre os preços deverá ocorrer em função das causas tradicionais: um estoque de passagem mais alto, a oferta mais forte na colheita e alguns produtores precisando honrar contratos de financiamento que vencem na colheita.
Mas ele não acredita, contudo, que é o caso de perder as esperanças. “A saída é focar em reduzir essa oferta, encontrar o ponto de equilíbrio, exportar o que for possível e assegurar médias superiores aos custos e renda, ao menos no segundo semestre de 2022, em especial quem tem mais produtos no portfólio”, frisou.
Tiago Sarmento Barata, diretor executivo do Sindarroz-RS, considera que se o Brasil arrancar bem nas exportações, e há uma possibilidade, a tendência é que seja gerado ao menos um equilíbrio nos preços ao longo do ano.
“As exportações estabelecem um piso. Um bom volume de embarques até agosto pode ser fator de recuperação na segunda metade do ano, mas é preciso atenção ao fluxo e o volume de oferta. Em 2021, quando todos adotaram a estratégia de segurar as vendas, o rebote derrubou um nível histórico de preços”, observou.
DEMANDA
Cleiton Santos, analista da AgroDados/Planeta Arroz considera difícil uma recuperação importante no consumo interno, embora avalie que o Bolsa Família de R$ 400,00 e baixos preços praticados no varejo possam gerar uma demanda mais firme.
“Os indicadores de consumo se mantêm praticamente estáveis. A inflação e o alto custo de produtos sucedâneos, como milho e trigo e as proteínas, podem ajudar o arroz a recuperar um pouco da demanda, mas não a ponto de mudar o cenário”. O Brasil precisará ter um grande superávit na balança comercial para chegar ao segundo semestre em valores remuneradores aos arrozeiros.
O mercado interno e externo funcionam como contrapeso, volume e valor se limitam. “Se o país exporta bem e os preços internos sobem, cai a competitividade. Se exportarmos pouco ou importarmos muito, os preços internos caem e voltamos a competir. O mercado se regula”, disse.
Exportações e garantia de renda não dependem só do sucesso de gestão e produtividade do rizicultor, mas também de fatores externos, do clima e até o câmbio, a evolução da pandemia, a crise logística e a condição da Ásia, EUA e Mercosul atenderem aos importadores.
E também dependerá da capacidade da cadeia produtiva entender o mercado, o que poucos conseguiram nas duas últimas temporadas. Em 2020, boa parte dos produtores não conseguiu melhores preços por medo da queda, em 2021 por esperar alta.