Alta carga tributária ou elevada margem de lucro?

Autoria: José Nei Telesca Barbosa.

São uníssonos na mídia brasileira os que vociferam contra a alta carga tributária, que incide sobre os produtos e serviços transacionados no comércio interno. Muitos só repetem o que ouvem, sem saber exatamente sobre o que estão falando, mas seguem numa corrente unidirecional. A nossa formação agronômica, em ciências jurídico-sociais e em agronegócios, tão somente não nos dá elementos suficientes para entestar um confronto direto nesta luta “quixotesca” de tentar desmistificar esta afirmação, que consideramos parcial e destinada a atender alguns poucos “interésses”.

Contamos também com a nossa vivência prática de quase dois milhões de quilômetros rodados pelo interior do Brasil, analisando e conversando com pessoas de todas as ocupações. A função de produtor rural de fim-de-semana e a experiência, por três anos, de empresário de loja de 1,99, aos moldes de nossa Presidenta, como foi alardeado na recente campanha eleitoral. Antes de apontar casos concretos que vivenciamos em nossas andanças, estudamos alguns textos de especialistas na questão tributária, que concluem sobre a incidência de um valor médio de 34% sobre a maioria dos produtos.

Sendo que este índice varia para mais em produtos supérfluos como bebidas e cigarros e para menos nos produtos essenciais.

Vamos aos casos que embasam a nossa assertiva:

1) Em nossa experiência comercial de “tudo por 1,99”, na maioria dos itens das prateleiras, tínhamos que, ao comercializar o produto em seu preço único obtínhamos um lucro de 40%. Comparando, uma mesma jarra de vidro, que vendíamos a R$1,99 era vendida no supermercado a R$ 8,00 ou, um porta-retrato de madeira e vidro vendido em nossa loja, era comercializado num bazar por R$ 13,00.

Ressaltamos que, em nosso ponto comercial de apenas 21 metros quadrados afluíam, diariamente, mais de 200 clientes e nas datas de maior apelo comercial, mais que quintuplicavam as vendas.

2) Lá pelo ano de 1998 em uma exposição agrícola organizada pelo serviço de extensão rural estava exposto à venda um trator fabricado na Polônia de 50 HP ao preço de R$ 8.000,00. Ao seu lado estava uma semeadeira de plantio direto de apenas quatro linhas, de fabricação nacional, oferecida ao preço de R$ 7.000,00 – incomparável na relação custo/tecnologia/produto.

3) Outro dia pensamos em trocar a nossa velha roçadeira de 1,40m de largura e encontramos no mercado preços médios de R$ 5.000,00. No mesmo período, verificamos que dois aparelhos de TV, 42, LED, custavam R$ 4.600,00.

Evidentemente, não compramos a roçadeira! Embora sem poder aprofundarmo-nos no tema, entendemos que, mais uma vez, não há termo de comparação sob os aspectos de tecnologia ou na análise dos componentes.

4) Ainda como pecuarista, fomos comprar arame liso para cerca, dentro do limite permitido pela cota de importação e verificamos que o mesmo rolo de 1.200m, no Brasil custa R$ 380,00 e no país vizinho do Uruguai, R$ 150,00.

Vejam, nem com 100% de carga tributária os preços seriam equivalentes e lá também já vendem com o devido lucro embutido!

5) Outros exemplos poderiam ser citados, como maquinários para o beneficiamento de arroz e outras finalidades agroindustriais, que chegam ao país por cerca de 40% do similar nacional. Ou, em outras épocas, um herbicida para a cana-de-açúcar em Minas Gerais custava R$ 20,00/kg e no RS o mesmo produto era vendido para o arroz irrigado a 60,00/kg.

Na época de nossa loja de R$1,99, verificamos que a indústria e o comércio nacional rearranjaram os custos, mudaram suas estratégias comerciais e o preço dos produtos sofreu forte redução.

Do mesmo modo, mostra-se necessário a redução das margens elevadas de lucro nos equipamentos e insumos agrícolas para que a carga tributária não sirva como desculpa para esconder a alta margem de lucro.

Nas zonas próximas à região da fronteira, já estamos vendo os preços dos produtos da linha branca (splits, ventiladores), reduzindo suas margens de lucro diante da forte concorrência que estão enfrentando.

Pedimos, como “prova emprestada” o texto publicado na coluna Espeto Corrido do Jornalista José Ricardo Castro, no Diário Popular, de 27.02.2011:

– “Ganância –

O Espeto precisou comprar, sexta, luvas de látex. Em uma farmácia, 50 unidades, tamanho médio, R$ 28,00. Em outra, pouco mais adiante, 20 unidades, R$ 6,00. Quer dizer, 50 sairiam, nesta farmácia, R$ 15,00. Produto da mesma marca. Sem comentários.”

Por fim e por justiça, mencionamos que encontramos a mesma reclamação sobre o tema que estamos abordando, de parte dos aficcionados em produtos eletrônicos, que reclamam em seus grupos de discussão na internet sobre as margens elevadas praticadas no comércio nacional em comparação aos importados.

Com a redução de suas margens de lucro, o comércio nacional poderia vender muito mais e as indústrias produzirem mais e gerarem mais empregos. É o que pensamos!

Acesse outros textos: www.josenei.blogspot.com

2 Comentários

  • E a ganância onde fica?(sic)

  • Os brasileiros passaram por longos anos de altas inflaçoes e os preços sao assim, um roubo. Quem viaja para fora do país percebe isso, países onde o salario minino é praticamente o dobro daqui e as mercadorias a metade do preço.

    Um amigo estava orçando um fiat punto 0km, aqui na minha cidade saia quase 5.000,00 reais a mais do que em Porto Alegre.

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