O seu boi já comeu arroz hoje?

Autoria: José Nei Telesca Barbosa.

Em algumas regiões da Ásia o consumo de arroz é tão popular que as pessoas costumam se cumprimentar dizendo: “Você já comeu o seu arroz hoje?”, que equivale ao nosso “Tudo bem?”. No Brasil, o arroz já teve um consumo mais elevado, sendo que a maioria das famílias da minha geração foi criada com o saboroso “arroz com feijão”.

No entanto, nestes últimos anos, o Brasil desenvolveu um crescimento econômico que resultou em um significativo aumento na renda das famílias. Com maior poder aquisitivo, as pessoas alteraram uma série de hábitos fazendo com que o consumo do arroz decrescesse significativamente. Não bastasse isso, as técnicas de cultivo do arroz foram muito aprimoradas e foram pouco trabalhadas as alternativas de consumo, o que resultou num grande excedente de produção.

No município de Dom Pedrito-RS, região com pequena produção de milho, um produtor de arroz e pecuarista, para atender a demanda de entrega de animais prontos em um período que a região atravessava forte estiagem, resolveu racioná-los com uma dieta composta com arroz em casca. O trabalho foi assessorado por especialistas em nutrição animal e apresentou excelentes resultados e teve ampla divulgação em seminários e na mídia especializada.

Num primeiro momento essa informação causou grande impacto, pois se tratava da quebra de um paradigma, tirando a visão de um produto sempre direcionado à “panela” e que passa a ser redirecionado para o “cocho” animal. Devido ao “quadrado” em que o nosso pensamento foi moldado, houve uma dificuldade inicial muito intensa de aceitar esta inovação, pois se tem que o arroz é um produto nobre e deve ser direcionado para a alimentação humana. Agora, já fora do “quadrado” cabe-nos ver o arroz compondo a ração animal. E que, o que temos que enxergar é que o arroz, tendo este novo uso, resultará em um produto também nobre e mais valorizado, que é a carne. E a carne atinge um consumidor com maior renda e sedento por proteína animal.

Além do uso do arroz para a alimentação de bovinos, já está confirmada por pesquisas existentes a possibilidade de entrar na composição da ração de suínos e aves.

O simples cálculo comparativo com o saco de milho não é suficiente para que o produtor consiga vencer este dilema e passe a adotar esta nova ferramenta. O fato do saco de arroz ter 20% a menos de peso que o saco de milho e com isso teria que ter uma diferença de 20% a menos no preço, não é indicativo necessário e suficiente para ver se o negócio é compensador. Há outros raciocínios não meramente matemáticos que irão estimular o produtor a usar o arroz para o “arraçoamento” dos animais, tais como:

– O uso do arroz desvalorizado na ração de bovinos de corte é compensado pelo excelente preço alcançado pelos animais no momento da venda; 
– Normalmente, as granjas de arroz não produzem milho para a suplementação alimentar da pecuária de corte;
– Nos períodos de inverno, as vacas de cria e os terneiros sofrem uma enorme perda de peso em decorrência da escassez de alimentos, chegando estes últimos a retardar em um ano o seu tempo de abate;
– O arroz de menor rendimento de engenho, que possui baixa cotação no mercado sofre altos descontos na hora da comercialização, é submetido a parboilização e tem recuperado o seu maior valor, só que agora já na mão do engenho. Este “novo arroz” acaba concorrendo com o produto de melhor qualidade que ficou com o produtor.
– O arroz quando destinado ao consumo animal acaba sendo retirado do mercado, contribuindo para o controle da oferta e valorizando o produto ainda no estoque do produtor;
– Com a destinação do arroz para a ração animal será reduzido o alto custo governamental com o pagamento de subvenções de prêmios para o escoamento da produção;
– Também diminuirá o alto custo com o aluguel de depósitos pela CONAB para o armazenamento do arroz, que hoje chega a R$0,26/mensal por saco depositado;
– Reduzirá as perdas de qualidade do arroz nos armazéns, visto que alguns permanecem já por mais de quatro anos estocado;
– Não há necessidade de políticas públicas para o uso do arroz na ração animal, basta apenas uma atitude dos produtores na alimentação do seu gado ou através da parceria com outros criadores;
– Com essa nova destinação dada ao arroz será possível prosseguir na busca do aumento da produtividade e da produção e ter-se o pleno aproveitamento das várzeas com o plantio do cereal, já que haverá uma nova demanda por arroz.

Para que o propósito seja alcançado é necessária uma grande e “difícil” mudança no comportamento do produtor, que até então vinha direcionando o seu produto apenas para o engenho e, agora, também deverá levá-lo na direção dos seus potreiros.

Esta é mais uma alternativa que se apresenta, das tantas que já foram sugeridas!

Tudo bem? Já deu arroz para o seu boi hoje?

7 Comentários

  • Meu pai comprou um cavalo puro sangue Inglês muito magro. Após dois meses tratando apenas arroz triturado e cana de açúcar esse animal ficou muito bonito. Seu pelo ficou lustroso e sedoso, muito lindo. Isso comprova que não só para gado mas também para cavalo o arroz é um ótimo alimento para animais. ( só precisa ser bem triturado)

  • Com certeza o arroz traz beneficios na alimentação do gado, porém, deve ser feita com acompanhamento de um profissional agronomo ou veterinario, pois esse arroz fornecido em grandes quantidades pode gerar problemas como acidose ruminal entre outros tipos de infermidades.

  • Gostaria de saber qual a proporçao de arroz pode se fornecer na raçao,por animal dia.(No meu caso o boi)

  • Prezado Oscar, o ideal seria fazer uma analise dessa amostra de arroz e fazer o calculo em funçao da acidez e proteina bruta mas alguns experimentos indicam até 20% da raçao. Em uma propriedade trabalhamos com o arroz moido sorgo tbm muido silagem de milho e junto para equilibrar o ph e ajudar a digestao adicionamos um pouco de calcario.

  • Concordo com o autor, concerteza o arroz é uma opção para a alimentação animal, inclusive de bovinos, pois fiz meu trabalho de doutorado com dieta de alto grão na terminação de bovinos em confinamento, tendo como ingrediente o arroz em casca. Este trabalho foi realizado no ano de 2012. Utilizei duas categorias (novilhos de 2 anos de idade e novilhas de 3 anos de idade), no qual a dieta era 85% de arroz em casca + 15% de núcleo proteico, os outros tratamentos eram 85% de aveia branca em casca + 15% de núcleo e 85% milho grão inteiro + 15% núcleo. Os resultados foram satisfatórios em relação ao arroz. Qualquer dúvida que tiverem, posso mandar alguns resultados para a revista. Obrigada.

  • Concordo com o autor, concerteza o arroz é uma opção para a alimentação animal, inclusive de bovinos, pois fiz meu trabalho de doutorado com dieta de alto grão na terminação de bovinos em confinamento, tendo como ingrediente o arroz em casca. Este trabalho foi realizado no ano de 2012. Utilizei duas categorias (novilhos de 2 anos de idade e novilhas de 3 anos de idade), no qual a dieta era 85% de arroz em casca + 15% de núcleo proteico, os outros tratamentos eram 85% de aveia branca em casca + 15% de núcleo e 85% milho grão inteiro + 15% núcleo. Os resultados foram satisfatórios em relação ao arroz. Qualquer dúvida que tiverem, posso mandar alguns resultados para a revista. Obrigada.

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