O Analista de Mercadinho

Autoria: Nelson Mucenic – engenheiro agrônomo.

– E aí, Macega, cumé qui tá as cousa?

– Óia, Badaiota, vô ti contá: a gente não viu tudo. E esse ano, braboleta, chê…

– Nem me fala. Tá vendo que eu já tô careca, né? E essa safra perdi o resto dos cabelo, pelo da cara e do zóio pelo caminho…

– Credo! De primero a chuva não parava. Dispois foi a mardita da bruisonha…

– E cumé qui tá a lavôra? A minha tá metade espigando, uma parte dobrando e otro pôco lorando…

– Vô começa a colhê na virada do mês, mas tem lavôra do tarde também. Tá masomêno. Eu tô é com medo desse tal de impíxima…

– Credo, que peste é essa? Isso tem remédio prá controlá? Nem me fala em praga. Já tô ingatado um tanto na AgroCarca e outro tanto na AgriGruda.

– Eu também num sei, só oví falá.

– Vai secá ondi o arroiz? Na Fodal?

– Não, me incomodei com eles ano passado. Vou secá nesse engenho novo que tá chegando. Parece que os cara são sério.

– E cumé o nome?

– É Fodil!

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Embora as dificuldades com que se defronta safra após safra, sejam elas econômicas, técnicas ou climáticas, o produtor dispõe de conhecimento e flexibilidade para combater ou contornar suas limitações. Nessa safra, e de modo geral, mesmo que de forma improvisada em algumas propriedades, o plantio foi superado e, ainda que com perdas de áreas, atrasos e maior incidência de plantas daninhas, a quebra de produção não deve se situar em um índice fora da curva histórica, embora seja significativa. Claro, para isso colaborou um fevereiro bastante favorável.

Daqui para frente o que interessa e o que pode interferir no balanço da safra para cada produtor é o comportamento do preço de mercado. Fala-se de preço justo, mas o que é preço justo? Remonta aos tempos de São Tomás de Aquino a definição de que o preço justo é o preço determinado por demanda e oferta no momento da venda, sem coerção, sem imposição e sem intervenção de nenhuma outra natureza, ou seja, sem o uso da força, da fraude ou da proteção. O conceito é geral e se aplica também àquilo que se paga pelo insumo ou pelo serviço e o benefício daí advindo. E aqui faça-se justiça com a estória que introduziu esse texto: tal como o mercado, o choro é livre.

Com relação às expectativas, sabe-se de antemão que alguns parâmetros que fundamentam preços, como taxa de câmbio, estoques e relação produção/consumo, estão em posição favorável à manutenção de boa remuneração. As informações são prontamente disponíveis nesses tempos modernos e o produtor tem acesso a diversos canais, cada vez menos pela rádio peão, e mais pelas redes sociais. Assim, o mercado não mais se parece com um bicho de sete-cabeças, embora alguns tratem-no ou lhe atribuam o papel de praga e busquem alguma forma de controle. Na condição ideal o mercado sempre será honesto, embora possa ser perverso, maquiavélico.

A praga maior da lavoura, no entanto, não causa danos apenas no curto prazo, de forma imediata. Ela é conhecida e muito falada pois se perpetua e causa estragos ao longo das safras. E consome insumos, não para evitar danos, mas em troca da promessa de entrega de serviços e benefícios. Essa praga, caros produtores, é a praga política, são os políticos de toda a espécie.

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