O desencanto dos arrozeiros com a situação atual

Autoria: Ademar Leomar Kochenborger – presidente da União Central de Rizicultores (UCR).

O arrozeiro gaúcho está completamente desmotivado com a situação atual da lavoura de arroz, com a elevação acentuada no custo de produção e a queda inexplicável do preço no mercado, desde o inicio da colheita da safra 2015/2016. Antes da colheita, o mercado estava na faixa de R$ 42,00 a R$ 45,00 por saco e, mesmo com a divulgação do levantamento do IRGA de uma quebra de 15,1% no RS, na produção de arroz, os preços estão em queda livre, chegando na faixa de R$ 39,00, para um produto de qualidade média.

Em relação à quebra de 15,1% no RS, entendemos que é uma das maiores da história, sendo impactante a nível de mercado, o que viabilizaria a elevação do preço, suficiente para cobrir os custos de produção. Claro que este percentual é uma média a nível de Estado, pois, a quebra somente no Município de Cachoeira do Sul é na faixa de 30%, em função das enchentes no final do ano passado, que inviabilizaram muitas lavouras de arroz na região da Depressão Central.

A grande maioria das empresas, independente do porte, possui as planilhas referentes aos custos de produção, determinando margens de lucro em relação à realidade de mercado no seu segmento de atuação. Neste contexto, somos obrigados a fazer alguns questionamentos:

Qual é o custo de produção do arroz?

Qual é a margem adequada para a indústria?

Qual é a margem ideal do produtor?

O risco do negócio está na mão da indústria ou do produtor?

A margem deveria ser proporcional ao risco?

O consumidor final compra até que valor?

Quanto representa na cesta básica o item arroz?

A quem cabe a função de organizar e coordenar a cadeia produtiva do arroz?

O governo tem interesse que o arroz suba de preço?

Está cristalino que o arrozeiro está descapitalizado, literalmente sem recursos para administrar seu negócio, recorrendo, invariavelmente para a indústria e fornecedores de insumos, pois, foi alijado do crédito oficial. Com isso, não comanda mais a sua lavoura, podendo ser considerado um “escravo” deste “perverso” modelo de financiamento, que acaba por enriquecer poucos empresários (ou seriam agiotas e oportunistas) e destruir o sonho de produzir alimentos de milhares de arrozeiros no RS.

O número oficial indicava a existência de 18.500 produtores de arroz no RS, gerando 232.000 empregos diretos e indiretos na cadeia produtiva, respondendo por 65% da produção brasileira, compreendendo 133 municípios no RS.

Em relação a estes números, cabe, uma profunda reflexão: a sociedade civil organizada e os governos estão preocupados com a situação calamitosa enfrentada pela lavoura arrozeira, especialmente nas últimas safras, com forte indicativo de redução acentuada na área de plantio e o gradativo abandono desta atividade, eis, que, completamente inviabilizada.

As entidades representativas deste segmento, como FEDERARROZ, FARSUL e IRGA estão cientes da gravidade da situação?

O governo brasileiro, da mesma forma, é sabedor do problema?

A resposta, claramente, é que “não sabem de nada”, aliás, este é um slogan bastante usado pelas autoridades brasileiras.

É inaceitável que a nossa principal entidade, que é a FEDERARROZ não esteja atuante no encaminhamento de soluções para a cadeia produtiva, viabilizando, pelo menos, a continuidade dos produtores nesta atividade, gerando renda e empregos, para que o produtor possa resgatar sua auto-estima, podendo quitar suas dívidas, honrar os compromissos assumidos, poder investir no negócio, e, ao final, alcançar uma vida digna. 

A nossa associação de arrozeiros, que foi fundada em 19/12/1939, com tantas histórias de lutas e conquistas, diante do quadro atual, assistindo os colegas arrozeiros abandonando esta atividade, eis, que foram excluídos do sistema produtivo, tem o compromisso institucional de fazer este DASABAFO, direcionado a todas as pessoas, políticos, entidades e governos, que conhecem a lavoura arrozeira, mas, que atualmente não estão defendendo os interesses verdadeiros desta importante cadeia produtiva, assistindo silenciosamente e de forma omissa o ocaso do arroz no RS. 

4 Comentários

  • Ademar, uma coisa eu lembro, quando estudava, na cadeira de Economia se afirmava que certos produtos seu comportamento econômico seria inelastico, no caso o arroz. O que significa isso? Significa que o seu preço, levando em conta não valores estratosféricos, não importaria muito pois os consumidores continuariam ainda comprando mesmo com elevação de preço. Vejamos o seguinte com o preço ao consumidor a R$4,00 o kg, o custo de um prato de arroz, seria de R$0,20, um kg de arroz alimenta 20 pessoas ou seja 50gr por pessoa. Se considerarmos esse preço R$0,20 vemos que uma bala hoje custa mais que isso donde se conclui que não existe alimento mais barato que o arroz. É muito barato. Se considerarmos R$4,00 e existe marcas vendendo a esse preço, um saco de arroz adquirido a R$38,00 se transforma em R$128,00 na ponta para o consumidor, isso dá 336%, retirando o custo de aquisição dá uma margem bruta de 236% , veja bem 236% para dividir entre 2, industria e varejo, mais de 100% para cada um, qual seria o líquido? 30%, 40%, isso em 12 giros ao ano passa longe dos 1500% líquido ao ano, negócio da China.
    Lógicamente, existem marcas, os pequenos engenhos que mal e porcamente conseguem uma margem líquida de 4 a 10%, a diferença se faz no poder de compra, poder de barganha e capital para ganhar por todos os lados, entretanto ainda com 4% líquido ao mês, ainda ganham um pouco de dinheiro se considerarmos 12 ou 11 giros ao ano, isso rende próximo aos 50% líquido ao ano, ainda um bom negócio. E o produtor, com prejuízo de 10% ao ano ou pequeno lucro de 10%, talvez os grandes. Quantos giros um produtor tem, 1 (um) ao ano, só colhemos uma safra ao ano. Isso tudo é muito injusto, quem produz não ganha nada, quem atravessa ganha milhões. A uma conclusão se chega, os membros de cartel estão ganhando tanto que não sabem mais o que fazer com o dinheiro e o produtor cada vez mais pobre e muitas vezes entregando suas terras aos donos de indústrias, façam uma enquete e vejam quantos produtores perderam suas terras e hoje são arrendatários de donos de engenho. Um detalhe quando existe mais de um giro, calcula-se como juro composto ou seja juros sobre juros.

  • Sr. Ademar. Gostaria de entender a sua afirmação que é inaceitável que a Federarroz não seja atuante no encaminhamento de soluções para cadeia produtiva. Isso porque considero essa afirmação carregada de equívocos.Vamos aos fatos. Primeiro,como entidade, o que está ao alcance da Federarroz é encaminhar pleitos, e isso é indiscutível, que seja a mais atuante, reconhecimento esse, nacional. Nenhuma outra entidade de produtores é tão atuante quanto a Federarroz na defesa dos seus produtores. Isso é indiscutível!!!!
    Em dezembro de 2013, somente a lavoura de arroz, foi brindada com uma renegociação do passivo por 10 anos, fruto de uma atuação ferrenha da FEDERARROZ!!!!! Aí mesmo na sua região, a poucos anos, e mesmo em contrariedade com parte dos produtores de outras regiões, a FEDERARROZ buscou, e conseguiu o alardeado PRODUSA, que permitia até renegociar dividas privadas. Agora, mais uma vez, e com a sua presença, lá em Alegrete,a FEDERARROZ trouxe o secretário de política agrícola, para mais uma vez propor políticas para auxiliar os produtores atingidos pelo EL NINO. Poderia seguir dando exemplos mas gostaria de ouvir um pouco mais……

  • Ok Sr. Ricardo, mais uma vez o Sr. fala em renegociação tudo isso proposto pela FEDERARROZ, ótimo, espero que falem algum dia em custo de produção, senão daqui uns tempos estaremos pedindo renegociação da renegociação que os produtores de arroz não conseguem pagar.

  • Renegociacòes e renegociacões, muito fundamental, mas isso pouco vai resolver qdo não se fala em discutir um preco justo, renegociar é dar mais linha pra se enrolarem mais ainda, melhor seria perdoar as dividas, como fazem qdo liberam bilhões pra salvar o ativo de bancos. E a questão preco tem que ter mais enfaze pela entidade, PORQUE MESMO COM QUEBRA DE PRODUCÃO OS PRECOS BAIXANDO SÓ PROVA A ARQUITETURA DESLEAL DA INDÜSTRIA COM O PRODUTOR, É UM VÍCIO COSTUMEIRO E CORRUPTO QUE SÓ O PRODUTOR PODE MUDAR, MAS NÃO ACOMODADO E PARADO COMO ESTA! TEM QUE PRESSIONAR AS ENTIDADES PRA ATENDEREM O ANSEIO DOS PRODUTORES. E QDO ALGUÉM SE ACHA ENTENDIDO EM GESTÃO NA LAVOURA DE ARROZ, GESTÃO HOJE É ABANDONAR ARROZ E PLANTAR SOJA E CRIAR GADO .SDS.

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