La Niña segue influenciando a safra de verão no RS

 La Niña segue influenciando a safra de verão no RS

Figura 1. Anomalia da temperatura da água da superfície do mar (TSM) no mês de dezembro de 2021. FONTE: Adaptado de CPTEC/Inpe

A La Niña vem apresentando um grande impacto na produção agrícola do Rio Grande do Sul (RS) na safra 2021/22. O que se lamenta é que este impacto vem sendo muito negativo.

Esperava-se que com a chegada do verão a situação das chuvas melhorasse um pouco. No entanto, o pico da La Niña ocorreu mais tarde nesta safra que na anterior. E este pode ser um fator para o agravamento da estiagem no estado. Mas um ponto importante e diferente foi a região de maior resfriamento, que nesta safra foi a do Niño1+2, que chegou a ter anomalia de -1,7 °C. Essa região tem influência direta e mais rápida nas chuvas (passagens de frente frias) sobre o RS que a região Niño3.4 (Figura 1). Observe, na Figura 1 como a região Niño1+2 esteve com anomalias negativas bem mais intensas que a região Niño3.4 neste último mês de dezembro. Além disso, esperava-se que as águas mais quentes do Oceano Atlântico Sul favorecessem as chuvas no RS. Porém, isso não ocorreu. Provavelmente devido ao maior peso/força que as anomalias negativas no Oceano Pacífico tiveram neste período.

O fortalecimento da La Niña agravou ainda mais a situação da estiagem no RS, que já vinha preocupando desde a primavera. Vale ressaltar que esta já é a terceira safra com déficit hídrico no RS. Os lençóis freáticos estão mais baixos, e qualquer diminuição no volume de chuvas já traz consequências maiores.

Para se ter uma ideia, as chuvas mais frequentes sessaram no RS já na metade de outubro de 2021 e somente agora, na metade de janeiro de 2022, que tem voltado a ter uma frequência maior, porém, são mal distribuídas, o que não resolve o problema de todos os produtores de forma uniforme. Com isso, pode-se contar que foram três meses de chuvas muito abaixo da média no estado, com consequências graves, como elevados prejuízos na cultura do milho, principalmente, mas também da cultura da soja, que são culturas de sequeiro.

No caso específico do arroz, os reservatórios chegaram a um patamar razoável com as chuvas de setembro de 2021, lá no início da safra. No entanto, esperava-se que ocorressem chuvas pontuais, de bons volumes, no decorrer da primavera e início do verão, o que acabou não ocorrendo. Com isso, muitos reservatórios baixaram o nível rapidamente e muitos rios acabaram secando, trazendo problemas para a irrigação de algumas lavouras.

Outro fator de prejuízo para as lavouras de arroz nesta safra deverá ser as altas temperaturas, que tem passado, e muito, dos 35°C. Entre os meses de dezembro e janeiro já foram três ondas de calor, com temperaturas que passaram dos 40°C, que estão refletindo em esterilidade de espiguetas em algumas lavouras. O fator positivo que temos até então é a radiação solar, que vem se mantendo acima da média no período.

A previsão do IRI (International Research Institute for Climate and Society) aponta que a La Niña deve terminar somente durante o outono. Vale lembrar que mesmo com o término do fenômeno, a atmosfera ainda demora um tempo para voltar à Neutralidade. Com isso, pode acontecer de haver chuvas ainda abaixo da média por todo o outono e parte do inverno, como ocorreu em 2021. Claro que eventos pontuais de chuvas em grande volume podem ocorrer mesmo dentro de um evento La Niña.

A previsão para o trimestre fevereiro, março e abril da maioria dos modelos climáticos é de que as precipitações continuarão abaixo da média no RS. Dessa forma, o momento é de cautela e de se manter atualizado quanto à previsão do tempo e à previsão climática para tomar as melhores decisões no manejo da lavoura.

Jossana Ceolin Cera
Agrometeorologista do Irga

 

Figura 2. Previsão probabilística de consenso do International Research Institute for Climate and Society (CPC/IRI), atualizada no início de dezembro de 2021. As barras em azul significam probabilidade de La Niña, as cinzas de Neutralidade e as vermelhas de El Niño. FONTE: Adaptado de IRI (Columbia University).

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