Arroz: um ritmo que precisa ser quebrado
Autoria: Carlos Cogo é analista de mercado de grãos.
O Rio Grande do Sul tem, atualmente, 11.937 orizicultores, sendo que 70% são arrendatários e 30%, proprietários. Do total de produtores de arroz, 54% plantam até 50 hectares. Ou seja, estamos falando sobre uma cadeia produtiva em que predomina o plantio em áreas arrendadas, a um custo exorbitante de arrendamento da terra & água, de até 25% da produção, incompatível com os custos e as margens deste segmento. O predomínio é de pequenos e médios produtores, concentrados por toda Metade Sul do nosso Estado. O setor já passou por inúmeras crises, cada uma com suas peculiaridades.
Nos anos 1990, o lançamento do Mercosul foi um marco, com a exposição do nosso mercado ao produto isento de TEC (Tarifa Externa Comum), ou seja, sem impostos, oriundo do Uruguai, Argentina e, mais recentemente, do Paraguai. Esse último só cresce em área e produção e destina a maior parte da mesma para o Brasil, respondendo, nos últimos quatro anos, por mais de 50% das importações brasileiras de arroz. A partir da safra 2010/2011, o Brasil encontrou o caminho das exportações de modo firme, com produto de altíssima qualidade, passando a se tornar um exportador líquido, ou seja, passamos a exportar mais do que importar.
Os estoques internos recuaram gradativamente e os preços ganharam uma estabilidade um pouco maior, mas ainda insuficiente para acabar com situações de preços abaixo dos custos de produção. Nossa posição de exportador líquido permanecemos até a temporada 2014/2015. Já na safra passada (2015/2016), o Brasil importou 293 mil toneladas (base casca) a mais do que exportou. Tivemos uma quebra de safra e as torneiras da importação foram reabertas. Nesta safra 2016/2017, com a recuperação da safra gaúcha, que cresceu 19% sobre a anterior, o fantasma dos baixos preços voltou a assombrar a cadeia produtiva.
Não bastasse essa recuperação da safra, as importações se agigantaram na atual safra. No acumulado desta safra, enquanto as exportações minguaram e caíram 53% em relação ao mesmo período da temporada anterior, as importações cresceram 50%. Desequilíbrio fatal, que congelou os preços ao redor dos R$ 39 a R$ 40 por saco de 50 Kg desde o início da colheita. Para se ter uma ideia, o preço atual já está 20,8% abaixo do mesmo período do ano anterior em termos nominais. Deflacionados pelo IGP-DI (em valores reais), os preços tombaram 24,5% nestes últimos 12 meses.
Os valores atuais estão abaixo dos custos de produção e a situação pode piorar em 2018, se a balança comercial do setor não se inverter. No acumulado desta safra, as importações superam as exportações em 237 mil toneladas. Se esse ritmo não for quebrado, os estoques podem crescer até a chegada da próxima safra e colocar o setor produtivo numa encruzilhada de preços estagnados e custos de produção em alta. O consumo interno está estagnado, embora não faltem esforços em todas esferas da cadeia produtiva para reaquecê-lo. De qualquer modo, só a retomada firme das exportações pode assegurar um futuro menos volátil para a cadeia produtiva.
Artigo publicado originalmente no Caderno Campo & Lavoura, do jornal Zero Hora, na edição do dia 06/08/2017.
1 Comentário
com o indice de desempregados beirando 20 milhoes de brasileiros sem receber salario fica dificil repassar os preços a nivel de comecio vaejista,que gira lentamente seus estoques de todos os produtos e a cessta basica é a mais atingida por haver migração para arroz de ,menor preço aoconsumidor