Reflexões sobre a redução da área cultivada na safra 2017/18

Autoria: Ivo Mello – Engenheiro Agrônomo.

 Durante esta entressafra após inúmeras e qualificadas discussões buscando alternativas para a melhoria da rentabilidade da lavoura de arroz do RS, a Federarroz sugeriu uma redução significativa de área cultivada na próxima safra 17/18.

O entendimento de nossos gestores através da interlocução com autoridades e representações de políticas setoriais, está induzindo para que o arrozeiro repense seu negócio e busque nos indicadores de sustentabilidade econômica de seu empreendimento uma relação custo/benefício que permita auferir renda com os preços praticados no mercado atualmente e, principalmente, na tendência de remuneração da próxima safra 17/18 cujos indicadores sinalizam a manutenção dos preços atuais considerando uma safra nas condições normais de clima.

Não podemos deixar de citar que o cenário pode ser ainda pior em termos de preços se a taxa cambial do dólar em relação à nossa moeda estiver mais baixa conferindo maior competitividade ao produto oriundo de nossos vizinhos e parceiros de Mercosul.

Mas e esta história de reduzir área: a quem interessa? Qual a certeza de que os que reduzirem sairão melhores do que quando começaram a safra 17 18? Antes de ir adiante vamos lembrar que se tivéssemos certeza absoluta do comportamento dos mercados, a atividade não correria riscos e, portanto, não seria passível de auferir lucros. Uma lavoura de arroz é um empreendimento, um negócio, uma atividade onde o empreendedor corre riscos e atua de forma a incrementar as possibilidades de obter ganhos ano a ano.

Tendo isto claro, parece lógico que se reduzirmos os 175.000 ha no RS como proposto, as coisas podem se alinhar em termos de custos e produtividade, pois se diminuímos a área, podemos pensar em plantar os talhões mais competitivos da propriedade – áreas onde o nível de investimento é menor e o potencial de produtividade é maior. Se isto funcionar, a rentabilidade pode voltar aos pagos dos Arrozeiros

Mas qual o indicador que vamos utilizar para "escolher" as áreas que vão ficar o verão 17/18 sem arroz e água? Qual ou quais os critérios que devem ser levados em conta para esta decisão? Sem dúvida esta é uma decisão individual de cada gestor de seu negócio, mas pode ter influência do contexto atual através da aplicação de políticas e ações estabelecidas por atores da cadeia produtiva.

Uma boa parte dos comentários em relação a esta temática de escolha de áreas para redução de plantio tem focado naquelas parcelas já comprometidas com invasoras resistentes como o Arroz Vermelho e outras, mas penso que temos outras oportunidades.

A solução sugerida por alguns de aumentar o número de cortes permitindo que uma fração da área possa incrementar seu potencial para arroz deixando uma estação de crescimento com soja por exemplo não é a mais aplicável na Fronteira Oeste onde já temos menos Arroz Vermelho e mais cortes de lavoura. Em média as lavouras da Fronteira Oeste têm mais de dois cortes. São raras as unidades de produção com repetição anual de arroz e podemos encontrar casos de produtores com mais de 4 planos de lavoura onde a rotação de culturas principal são pastagens.

Se formos atrás desta diretriz, a Fronteira Oeste não precisa diminuir muito a sua área.

De certa forma as várzeas próximas aos grandes rios como o Ibicuí e o Uruguai já diminuíram de superfície nos últimos 10 anos. Salvo melhor juízo as lavouras que seguem nas beiras de rio têm sua sustentabilidade econômica, social e ambiental equilibrada – temos vários indicadores disto – por exemplo redução significativa na área de plantio de arroz de Manoel Viana onde uma significativa superfície de arroz era cultivada ano após ano nas áreas próximas ao rio Ibicuí e afluentes.

Sem dúvidas temos muitos desafios a enfrentar para seguir equilibrando a equação da Intensificação Sustentável – Expressão da atualidade que, segundo a FAO, é onde devemos alinhar nossos empreendimentos Agropecuários. Quem assistiu ao Dr Paulo Faccio Carvalho da UFRGS na Noite a Pecuária em Uruguaiana ou na Abertura do Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado em Gramado, pôde refletir sobre os conceitos estabelecidos e como nos enquadramos neles.

E em tempos de reflexões para o futuro da cadeia produtiva do arroz em nosso estado, tendo em conta estes conceitos, podemos sugerir à cadeia produtiva do arroz que priorize o empreendimento que se alinha com esta diretriz de Intensificação Sustentável estabelecida pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura. De uma forma simplista podemos afirmar: Quem não se adequou ainda vai ter que fazer mais dia menos dia.

Foi o tema do Painel sobre Mudanças Climáticas e os Impactos da Lavoura Arrozeira no Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado onde o Professor Cimélio Bayer da UFRGS e os qualificados debatedores, demonstraram como a Lavoura de Arroz do Rio Grande do Sul pode se alinhar à Intensificação Sustentável considerando os conceitos e desafios atuais.

Diminuir área semeada com o aumento de cortes de lavoura nas áreas próximas aos rios pode também diminuir os impactos sobre os recursos naturais. O Conceito de Intensificação Sustentável está embasado nos pilares da Agricultura Conservacionista que estabelece boas práticas de manejo de solo e água sendo o principal a Rotação de Cultivos. Este pode ser um viés interessante para trabalhar de agora em diante.

Mas como medir a Intensificação Sustentável???

Uma oportunidade para isto é o Selo Ambiental do IRGA ou a Certificação através do PIA – Produção Integrada de Arroz com selo do MAPA construído nos últimos anos pela Embrapa e parceiros tratando de alinhar as boas práticas agrícolas à Intensificação Sustentável.

Vamos pensar no que está acontecendo hoje na nossa casa (metade sul do RS): as mais atuantes Indústrias de nossa região estão sinalizando que somente vão fornecer recursos para a condução da lavoura se o arrozeiro plantar variedades de grãos nobres. A comercialização atual do grão nobre (13/09/2017) sinaliza diferenciais de preços que podem ser compensadores dependendo do valor, mas a realidade atual está preocupando demasiadamente os produtores, pois nesta época deveríamos ter procura e valores ascendentes como tem sido o comportamento médio dos preços pagos ao produtor neste período nos últimos anos.

Os que plantam IRGA 424 vão ter que fazer seus cálculos mirando um balizamento de preços na safra por volta de R$ 35,00. Se assumirmos o valor necessário para conduzir uma lavoura do início ao fim estimado hoje em torno de R$ 7.100,00; a 35 precisamos colher no mínimo 10.000 kg/ha para equilibrar as contas.

Sabemos que neste custo de produção tem muita gordura que pode “repensar” sua posição: arrendamento e comprometimento com dívidas anteriores são duas importantes, mas a sede por impostos também influencia demasiadamente o custo de produção em toda a cadeia produtiva. Não são somente os produtores que devem equalizar seus custos e fazer uma reengenharia nos seus processos; nossos governos também precisam agir proativamente neste sentido visando o fortalecimento das atividades gerados de renda e geradoras de impostos.

Retornamos para completar o raciocínio: Já os que plantarem variedades nobres utilizando o mesmo cálculo acima, com uma remuneração a R$ 43 por saco de 50 kg, precisam colher aproximadamente 8.000 kg/ha. Parece mais razoável obter está produtividade, mas temos que considerar a pouca disponibilidade de sementes com qualidade e áreas apropriadas para as variedades com grãos nobres e que as cultivares que mais se aproximam desta combinação, em geral tem custos de produção mais elevados devido, entre outras, a necessidade de aplicação de fungicidas para garantir sua produtividade.

Também é bom considerar nesta equação que a variável do mercado depende de um elo da cadeia produtiva que tem comportamento próprio e também busca sua Intensificação Sustentável através de boas práticas, mas também com práticas de mercado. Quem garante que a indústria vai remunerar na próxima safra de comercialização respeitando esta lógica dos 8 reais de diferença entre o IRGA 424 e as variedades nobres ??

O mercado de arroz agulinha no RS mudou e tudo indica que deverá se adaptar mais ainda à realidade econômica, social e política de nossos tempos. O valor agregado do nobre grão do arroz produzido no RS é muito baixo ainda para justificar investimentos em nichos de mercado, mas com certeza um produto rastreado pode alçar patamares onde o consumidor esteja disposto a pagar mais pela garantia de sustentabilidade da produção.

Arroz livre do fungicida Bin, que não é aceito na Comunidade Europeia, é quase exclusividade hoje em dia das variedades do IRGA tolerantes a brusone.

Será que cabe um movimento no sentido de produzir lotes com esta garantia?

Arroz de 11.000 kg/ha pode ser a matéria prima deste nicho?

O que é arroz nobre: um BR IRGA 409 e/ou uma variedade INTA CL com duas a três aplicações de fungicidas; ou um IRGA 424 (nas suas versões normal e CL) sem nenhum tratamento para fungos????

Se deixarmos os consumidores europeus responder parece que não existem dúvidas, mas o consumidor brasileiro, segundo a indústria gaúcha, prefere o 409 e os INTA com os tratamentos fitossanitários para “garantir” que o arroz seja nobre.

Linda discussão!

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Receba nossa newsletter