O círculo vicioso da lavoura de arroz

Autoria: Victoria Jardim – Engenheira e associada do IEE.

Está iniciando mais um ano preocupante para o produtor de arroz. A rápida e tímida recuperação de preços perdeu fôlego devido ao início da colheita no Paraguai e ao pagamento da primeira parcela da prorrogação dos custeios. Assim, conforme dados do IRGA (Instituto Rio Grandense do Arroz), a tendência é que, pelo quarto ano consecutivo, o custo médio de produção fique acima do preço de venda do produto.

Um dos agravantes dessa situação é a mentalidade do próprio produtor rural, que, em vez de tentar compreender as verdadeiras causas da sua falta de competitividade tanto no mercado interno quanto no externo, e agir a respeito disto, prefere pedir presentes ao papai Estado. De subsídios e alongamentos de prazos até barreiras de importação, o produtor pleiteia de tudo, menos a redução da intervenção estatal, seja ela direta, seja indireta.

Segundo estudo da Farsul, os produtores brasileiros pagam em média 86% mais caro por insumos, devido à alta carga tributária e aos custos burocráticos. O arroz é o grão mais afetado por esses impostos, que correspondem a cerca de 30% do seu custo de produção. Adubos, pesticidas e fungicidas poderiam ter diminuição de 20% não fosse a taxação. Além disso, os subsídios para compra de máquinas, tão requisitados por todos, são mera ilusão, já que essas poderiam ser aproximadamente 25% mais baratas caso houvesse isenção para aquisição de bens de capital, como ocorre em outros países.

Por fim, considerando os outros custos que mais pesam no bolso do agricultor, podemos observar que todos são altamente regulados: a energia elétrica, que é a sexta mais cara do mundo, o combustível e os custos com mão de obra. Está na hora de o produtor romper com esse círculo vicioso que se instaurou na atividade e solicitar mudanças estruturais, em vez de tapar buracos que só contribuem para a ineficiência do setor.

(Publicado originalmente em O Sul)

2 Comentários

  • De certa forma estão corretas as ponderações da articulista, mas que foram abordadas parcialmente. Está corretíssima ao apontar a falta de compreensão ou a falta de enfrentamento das verdadeiras causas da falta de competitividade do setor. É histórico os pleitos por subsídios, preços mínimos, políticas de comercialização, prorrogações, perdões etc. No entanto, quando deriva para as causas relacionadas aos tributos, isenções, energia elétrica, acaba caindo no lugar-comum dos mesmos produtores que está criticando, no famoso “uso do cachimbo”. Quando fala da mão-de-obra, nem se fala, como se as lavouras se fizessem sozinhas!
    Não falou nada sobre o custo do arrendamento (terra e água), que consome 25% da produção seca e limpa e que inviabiliza o negócio no nascedouro de cerca de quarenta por cento dos produtores. Outro ponto crucial deixado de fora é a comercialização ou a relação atávica produtor-engenho, que precisa um sopro para não dizer tufão de modernização. (produtor já vender beneficiado; pagamento do preço com base no tipo 1; integração produtor-engenho). Também tem que ser apontado o alto valor das máquinas, que não é somente tributos, mas margens altíssimas de comercialização. E, por fim, a modernização do velho e guerreiro saquinho, com seus cinquenta anos bem vividos, mas que o consumidor está a querer mais inovação, comodidade praticidade um banho de marketing (comidas prontas, pães, biscoitos, bolachas, massas, cervejas)! Mais: josenei.blogspot.com ou no livro “Sobre arroz em casca e milho em espiga – uma interpretação da socioeconomia da zona sul do RS”

  • Realmente a lavoura arrozeira (e principalmente seu produtor) devem promover uma nova adaptação para adequar-se aos novos custos e valores de venda;
    Isso vai desde melhorias no manejo da cultura, integração com outros cultivos, variação de princípios ativos para controles de invasoras e doenças, sem contar em formas de otimizar a mão de obra (sistematização das áreas, maneiras distintas de preparo) e planejamento de comercialização da produção;
    Outra grande controvérsia é a presença dos proprietários de engenhos dentro das associações de produtores, visto que hoje hoje existe um antagonismo forte entre os objetivos de cada um.
    Como disse o colega Josenei, para haver alguma integração entre industria e produtores, isto somente será possível se os beneficiadores fossem cooperativas dos produtores, porém não temos a real cultura do cooperativismo, que inviabiliza esta modalidade de associação, se isto acontecesse o setor poderia promover por exemplo o desenvolvimento de novos usos para o arroz, campanhas de marketing para crescer o consumo, buscando novos posicionamentos tais como livre de glúten, produto saudável, fácil de utilizar, etc;
    Apresentar a sociedade como uma cultura que resgata carbono da atmosfera e cuida do meio ambiente;
    Assim o foco deve ser produzir o máximo possível com o menor custo por unidade produzida, adequando cada item do custo;
    E finalmente o entendimento de que a lavoura é um negócio como outro qualquer, sem a romantização de que somos produtores de alimentos e por isso devemos ser protegidos, o foco deve ser somos importantes para o país, e precisamos ter remuneração compatível com nossa importância, e temos de transformar nosso negócio em rentável e perene, nos anos bons e nos anos não tão bons!! Abraço e boa semana!!

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