Fevereiro teve granizo, frio e agravamento da estiagem no Rio Grande do Sul
Autoria: Jossana Cera é meteorologista, doutora em Engenharia Agrícola pela UFSM e consultora do Irga.
A safra 2017/18 de arroz no Rio Grande do Sul iniciou com problemas de implementação, devido às chuvas de setembro e outubro, e depois com a parada brusca das chuvas em novembro. Após, se observou um período melhor, com muita radiação solar, fator importante para a cultura do arroz. Porém, no mês de fevereiro, São Pedro resolveu aprontar novamente…
Fevereiro ficou marcado pelas chuvas abaixo da média em todo o estado, sendo a região Oeste a que apresentou as anomalias de precipitação mais altas em relação à Normal Climatológica (Figura 1). Além da escassez de chuvas, a ocorrência de granizotambém trouxe prejuízos para algumas lavouras, além do frio fora de época. No dia 13/02, dia do Carnaval, a temperatura mínima registrada na estação meteorológica de Jaguarão foi de apenas 8,1 °C (Fonte: INMET). Partes das regiões Sul e Campanha apresentaram danos nas lavouras de arroz causados por esse episódio de frio.
Lembrando que em anos de La Niña é comum termos chuvas abaixo da média, com isso a ‘atmosfera’ fica mais seca, e é por isso que as temperaturas noturnas geralmente são mais amenas. Nesses anoshá tambémmaior ocorrência de chuva de granizo.
Condição oceânica atual e prevista
A La Niña está em fase de enfraquecimento, porém o Oceano Pacífico Equatorial Central continua com anomalias negativas (Imagem 2). A tendência daqui para frente é de que as águas do Pacífico aqueçam e fiquem com as temperaturas dentro do normal.
O retângulo na Imagem 2 mostra a região do Niño3.4, região que os centros internacionais utilizam para calcular o Índice Niño (índice que define eventos de El Niño e La Niña), onde se observa a área com anomalias negativas de temperatura, característica clássica de eventos La Niña. A área marcada pelo círculo, no Oceano Atlântico Sul, mostra que a região está com temperaturas dentro do normal (Imagem 2). O aquecimento/resfriamento no Oceano Atlântico Sul pode favorecer/desfavorecer a precipitação no Rio Grande do Sul, principalmente na metade Leste do estado, devido ao maior aporte de umidade na região.
As previsões do IRI (International Research Institute for Climate and Society, da Universidade de Columbia-EUA) indicam que o trimestre Abr-Mai-Jun já será de Neutralidade climática, ou seja, aos poucos as condições de precipitação deverão se regularizar.
Com o início da colheita do arroz agora em março e que se estenderá por abril, devido ao atraso na semeadura, o ideal seria termos períodos mais longos de tempo seco. Contudo, com a aproximação do Outono, se espera que haja sistemas frontais passando pelo Sul do Brasil com maior frequência (em média 1 por semana). Assim, aumentam as chances de chuva e também de entrada de massas de ar mais frio, lembrando que em anos sob influência de La Niña é esperado que frio chegue mais cedo.
Os modelos se mostram um pouco divergentes quanto às anomalias de precipitação (Imagem 3) mas, de maneira geral, os modelos indicam chuvas entre normal e abaixo do normal. Portanto, o estado ainda é de atenção, já que boa parte das lavouras de soja (de terras altas e baixas) ainda necessitam de água para finalizar o enchimento os grãos. Para as lavouras de arroz, aquelas mais atrasadas, ainda necessitam de boas condições ambientais, ou seja, temperaturas ideias, boa disponibilidade de radiação solar.
Salienta-se, no entanto, que a segunda quinzena de março será de chuvas em boa parte do estado, podendo superar a média do mês em algumas regiões, e não se descartam a ocorrência de temporais com ventos fortes, granizo e muita atividade elétrica.