Funrural, Recuos e Hipocrisias

Autoria: Tarso Francisco Pires Teixeira | Presidente do Sindicato Rural de São Gabriel | Vice-presidente da Farsul.

 A recente polêmica em torno de um aparente recuo da posição do Presidente Jair Bolsonaro a respeito da cobrança do Funrural, com destaque para algumas declarações do atual Secretário de Política Agrária do Ministério da Agricultura, Nabhan Garcia, colocou mais combustão num barril de pólvora já aceso no meio rural brasileiro. Acusações de traição ao setor, de mudança de postura, de "lado" e assim por diante. Nestas horas lembro de um ditado de meu pai, João Nepomuceno: "quando todos gritam ao mesmo tempo, ninguém está pensando".

É preciso reconhecer que, a época dos fatos, o Supremo Tribunal Federal modificou seu entendimento a respeito da cobrança do funrural, e a indignação ganhou a solidariedade do então presidenciável Bolsonaro. O caminho que se buscava era auxiliar o projeto consistente e heróico do deputado federal Jerônimo Goergen, que poderia disciplinar de uma vez essa questão. No entanto, o projeto não avançou, e isso basicamente por absoluta falta de mobilização geral da classe. Os poucos movimentos que foram a Brasília não tinham condições de falar em nome de toda a classe, e os deputados compreenderam muito bem isso. Aliás, como seria diferente, quando a própria CNA emitiu uma nota considerando a constitucionalidade da cobrança do Funrural?

quando Bolsonaro, Nabhan Garcia e outras lideranças do setor agropecuário se pronunciaram a respeito, ainda havia uma esperança para a votação do projeto de Jerônimo, hoje paralisado na Câmara dos Deputados. Não poderia o presidente hoje simplesmente dar de ombros para uma jurisprudência do STF e dar um "canetaço" na dívida, sob pena de ser acusado de renúncia de receita e improbidade administrativa, abrindo caminho para um processo de impeachment, ou seja, tudo o que a Rede Globo e a esquerda organizada querem. É honesto criticar o presidente por preservar a instituição do seu mandato quando quem mais falhou na hora em que o funrural poderia ser revertido foram justamente as nossas lideranças maiores? É justo colocar no colo do governo federal uma imperícia que é totalmente nossa, do agronegócio como um todo?

A saída mais viável, até onde conseguimos enxergar, é incluir a discussão do Funrural no tema maior da República hoje, que é a reforma da Previdência. Não esqueçamos que o Funrural é uma contribuição previdenciária, e a justo que sua resistência seja objeto de análise quando a Nova Previdência está sendo discutida para o país. Este pode ser um caminho que a Frente Parlamentar da Agropecuária pode e deve discutir no âmbito do Congresso. mas não é justo queremos que aquele que nós elegemos para governar o país como um todo fique agora cuidando de interesses da nossa classe que deveriam ter sido defendidos por nossas lideranças corporativas, no tempo devido.

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