O Agronegócio e a Tecnologia
Autoria: José Nei Telesca Barbosa, Engenheiro Agrônomo, Advogado e Filósofo.
Estamos vivenciando um período contraditório no agronegócio brasileiro e que teve início já faz alguns anos, ou seja, tivemos uma evolução tecnológica extraordinária e que ainda apresenta um horizonte imenso de possíveis inovações mas, por outro lado, criou-se uma relação custo/benefício negativa, ou próxima disso, no tocante ao resultado financeiro ao produtor.
As técnicas de preparo do solo, plantio, tratamentos fitossanitários e colheita passaram por um desenvolvimento tecnológico admirável. Em consequência, saímos de uma agricultura analógica para a de precisão, com alta tecnologia embarcada e georreferenciada.
Todo esse aparato tecnológico trouxe junto aprimoramentos e facilidades indiscutíveis e necessárias e junto com ela a “força de venda” de bons e treinados vendedores com todo ferramental do que há de mais moderno no marketing de vendas. Ao tempo que na outra ponta encontrou o produtor não tão preparado para lidar com essa pressão de oferta ou do impacto que a nova tecnologia traz ao custo de produção dos seus cultivos.
É importante ressaltar que a maior parte das novas tecnologias que são implantadas traz consigo a necessidade da realização de algum outro investimento associado, seja na aquisição de um novo equipamento para a sua aplicação ou uma nova máquina para tracioná-la ou, até mesmo, um novo operador ou uma nova instalação para acondicioná-la em local seguro.
Num dia de campo para a cultura da soja em terras baixas, em uma estação demonstrativa, assistimos a explanação muito bem fundamentada sobre uma nova técnica a ser executada para descompactação do solo com o uso de um equipamento escarificador com dez hastes de cinquenta centímetros, de modo a permitir um aprofundamento das raízes das plantas para melhorar o crescimento da parte aérea da planta e o consequente aumento da produtividade.
Ficamos inebriados num primeiro momento com a novidade solucionadora e o esplendor da apresentação, mas num segundo o bom senso levou-nos a questionar o custo do equipamento – ao que obtivemos a seguinte resposta : o custo do equipamento é R$ 180.000,00 e há uma necessidade de potencia de tração de 38 HP por haste ou a exigência de um trator agrícola de 380 HP. Como poucas granjas possuem o trator com tamanha potência, a adoção da nova tecnologia apenas no impulso da emoção acarretaria um investimento próximo a R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais).
Pode-se incluir nesse tema a máxima que vem sendo utilizada pelas equipes de vendas, amparadas pelo seu forte relacionamento com o produtor: “bote isso que colhe mais dez sacos”. São tantos os produtos e equipamentos que são ofertados com a promessa do colher mais dez, que o custo aumenta tantas vezes o numero dos mais dez que são prometidos e não ocorre a soma nos quilos nos finais acumulados nas promessas feitas.
Tal afirmação é corroborada pela reportagem do Correio do Povo, de 06.03.2020, em que o Presidente da Fecoagro informa que “o custo era mais baixo, equivalente a cerca de 20 sacas de soja – a metade do que é hoje”. Isso nos mostra que a balança da relação custo/benefício tem pesado em desfavor do produtor, que não consegue controlar a emoção ou o assédio do marketing, chegando ao ponto de alguns se atemorizarem diante da possibilidade de um fracasso na safra caso não sigam a recomendação naquela aquisição.
É importante salientar que todo aumento de valor no custeio ou no investimento a ser realizado terá, obrigatoriamente, que sair do futuro lucro e não do montante a ser apurado. Esta é a chave da questão. Por mais incrível que possa parecer, toda essa evolução tecnológica não resultou em uma maior margem de lucro ao produtor, sobrando-lhe menos do que quando tinha uma menor produtividade. Trouxe, sem dúvida nenhuma, uma maior produtividade e comodidade na condução dos cultivos, só que acompanhadas de uma relação custo/benefício desfavorável. E, como “o que nunca falha é o boleto” , ao longo de alguns anos o debacle chega.
Portanto, está claro para nós, que as empresas fornecedoras de bens ou de novas tecnologias aos produtores precisam ter uma responsabilidade e um cuidado maior com o efetivo resultado da safra do cliente para ter sempre um comprador com sustentabilidade econômica, sem a exclusão dos seus demais pilares.
1 Comentário
Artigo muito bem explicado, muito claro essa é nossa realidade. O produtor não necessita necessariamente de empréstimos e sim de lucro real que deve suprir o capital de giro necessario para o novo plantio que sempre chega com os custos mais elevado na safra seguinte.