Recuperação no radar

Preço e custo em ascensão exigirão muita cautela neste segundo semestre

“Em algum momento, a colheita de um milhão de toneladas a menos no Rio Grande do Sul e avanço nas exportações trarão efeito de alta às cotações do arroz no país, e isso será neste segundo semestre”.

A opinião é do economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz. Assim, o mercado do arroz retomaria a trajetória típica de recuperação do meio para o fim do ano comercial, após dois anos anormais, refletindo a pandemia.

cadeia produtiva terá grandes preocupações, a começar pelos custos da nova safra e as operações de plantio. “Tenho muitas dúvidas do que esperar por causa dos custos e das restrições ao crédito verificadas desde fevereiro. Consumo estável, dependência do câmbio para exportar, custos em alta e necessidade de reduzir área formam uma equação difícil. Se a seca não reduzisse um milhão de t, teríamos preços de R$ 50,00, um cenário horroroso”, alertou.

Antônio da Luz entende que se aumentar a demanda não está ao alcance do produtor, e nem é provável, a solução que resta para o arroz ser valorizado é a redução de área semeada e a consequente equalização da oferta.

“Não era possível há sete, oito anos, mas hoje temos tecnologia para outros cultivos, como soja, milho e pastagens. E isso muda a nossa perspectiva”, disse o economista.

“No início de julho, um saco de 50 quilos de arroz em casca, para ser produzido com o mesmo rendimento por área da última safra, custaria R$ 84,00, e as cotações estavam em torno de R$ 75,00. Plantar perdendo não é negócio, por isso, esperamos que as cotações avancem até superar o custo de produção para fechar as contas ainda da safra passada, obter alguma renda e tentar fazer frente aos custos que vêm agora”, reconheceu.

Um ano marcado por incertezas

Dificil equação entre custo e preço e entre velocidade e volume no mercado do arroz

O mercado brasileiro de arroz chegou ao meio do ano cercado de incertezas. Enquanto commodities agrícolas feito soja, milho, trigo, carnes e até sorgo valorizaram nacional e globalmente, e se mantiveram no alto, o arroz subiu e desceu desde o fim de 2020. Leve reação neste primeiro semestre ficou longe do ideal se comparada ao preço de custo

Neste período, as margens de boa parte da cadeia produtiva, inclusive produtores e algumas indústrias, foram negativas se comparados preço de venda e custo de produção.

Tiago Sarmento Barata, diretor do Sindicato da Indústria do Arroz, (Sindarroz-RS), disse que apesar da safra menor, o estoque inicial foi maior, bem como as importações do primeiro semestre. A tarifa CDO indica que o escoamento está menor este ano no estado, apesar de uma posição de 80 a 100 mil toneladas de arroz a mais do que havia no mercado nos dois últimos anos.

“O grão está na mão do produtor que aguarda elevação das cotações para vender”, observou. Para Barata, essa restrição da oferta mantém o mercado sustentado e com referência nos valores de exportação, viabilizados pelo câmbio mais firme. Mas esse comportamento, aliado às regras ficais, estão fazendo o Rio Grande do Sul perder espaço nos mercados.

Daqui pra frente, o comportamento dependerá da intensidade das vendas, que são influenciadas por muitos fatores além do câmbio.

No entendimento do executivo, a velocidade e o volume adequados dos negócios podem manter os preços sustentados. “Se houver velocidade e volume compatível com a demanda, mas o problema é carregar um grande volume e, depois, ocorrer uma concentração de oferta, o que é ruim pra todo mundo”, disse.

A oferta restrita não é culpa do agricultor, ele está fazendo o dever de casa em busca de preços que remunerem seu custo de produção e lhe deem segurança para a próxima safra.

MAIS PREOCUPAÇÕES
O segmento industrial tem três outras grandes preocupações importantes além da restrição da oferta no mercado interno e os preços da matéria-prima que não consegue repassar ao varejo. A primeira diz respeito ao frete, que impacta bastante nos preços do arroz beneficiado. É uma carga volumosa, e a indústria está distante dos principais centros consumidores.

Outra questão é a retração em mais de 30% no movimento de venda do arroz beneficiado brasileiro para o mercado externo em comparação ao ano passado. “Mais um impacto do custo do frete, o que fez a indústria aumentar sua taxa de ociosidade, o que prejudica toda a região arrozeira gaúcha, municípios e a economia setorial”, frisou.

Também o governo do Estado não aceitou a redução da alíquota do ICMS incidente sobre o arroz para aproximar a tarifação gaúcha da isenção total de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo, o que permite que o arroz paraguaio, já com vantagens competitivas, entre nessas regiões a valores bem mais baixos do que o grão gaúcho. A oportunidade seria adotar o sistema do Paraná, que agora passou de 1% para 2,3% de ICMS por causa da queda de receitas pela isenção dos combustíveis. Ainda assim, é melhor do que os 4% e 7%, que, na média, fica em 5,3%. É mais do que o dobro.

Para Tiago Sarmento Barata, a consequência inevitável dessa conjuntura será uma concentração ainda maior no setor industrial e a migração de unidades para outros estados e países, feito o Paraguai.

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