Qual a probabilidade de ocorrer a terceira La Niña consecutiva no RS?

A La Niña da safra 2021/22, que causou uma das maiores estiagens da história do Rio Grande do Sul, continua em curso, segundo a Noaa (National Oceanic and Atmospheric Administration). A Noaa leva em consideração que, para haver o fenômeno, o limiar da temperatura da superfície do mar precisa estar abaixo de -0,5 °C. Já o Centro Australiano de Meteorologia (Bureau of Meteorology – Australian Governmental) leva em consideração o limiar de -0,8 °C e, com isso, a atmosfera já se encontra em neutralidade climática.

A La Niña 2021/22 teve seu pico de anomalia em dezembro de 2021, com -1,1 °C, depois disso, iniciou a fase de enfraquecimento (e se esperava que entrasse em neutralidade já durante o outono – é o que normalmente ocorre!). No entanto, em abril de 2022, começou a reintensificar-se, voltando a ter um pico máximo em maio, com -1,1 °C. Agora, em junho, começou a desintensificar-se novamente, como se observa na figura 1, com áreas azuis e brancas no retângulo do Niño 3.4. Porém, é difícil saber os efeitos que isso causará nos próximos meses em relação às precipitações, visto que elas têm ocorrido de forma irregular nos últimos meses no RS, ora com chuvas mais volumosas na metade norte, ora na metade sul.

Figura 1. Anomalia da temperatura (°C) da água da superfície do mar (TSM) no mês de junho de 2022. Fonte: adaptado de CPTEC/Inpe.

Ocorreram duas La Niñas consecutivas (2020/21 e 2021/22), e a expectativa está em se haverá a terceira La Niña, que, como relatado no último boletim, não é muito comum de ocorrer. Certamente, os impactos da temperatura superficial do Oceano Pacífico Equatorial de 2022 deverão ser (e estão sendo) diferentes dos ocorridos em 2021, pois o resfriamento está decaindo agora, enquanto já estava na sua fase neutra na mesma época do ano passado.

Segundo as previsões da Noaa, há maiores chances da temperatura das águas do Oceano Pacífico entrarem em fase neutra no fim do inverno, mas de voltar à fase fria (3ª La Niña consecutiva) na primavera. Entre os trimestre set-out-nov e out-nov-dez de 2022 e nov-dez, de 2022,-jan, de 2023, a probabilidade da La Niña voltar ou persistir é de 60% (figura 2).

Há menor probabilidade de ocorrer a fase neutra e a possibilidade de um El Niño é praticamente descartada, com menos de 10% de probabilidade.

Figura 2. Previsão probabilística (%) de consenso do International Research Institute for Climate and Society (CPC/IRI/Noaa) atualizada no início de junho de 2022, sobre a ocorrência de La Niña (barras em azul), de neutralidade (barras cinzas) e de El Niño (barras vermelhas). Fonte: adaptado de IRI (Columbia University).

 

O modelo do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) prevê que julho e agosto de 2022 fiquem com precipitações abaixo da média, enquanto setembro com precipitações acima da média no RS. Para os meses de outubro e novembro, o modelo traça apenas uma tendência, com precipitações acima da média e dentro da média, respectivamente, ou seja, ainda é um indicativo de irregularidade nas precipitações.

Com relação às temperaturas, o Inmet prevê que julho e agosto fiquem com temperaturas abaixo da média, enquanto setembro fique acima da média. Mas vale ressaltar que as incursões de massas de ar frio de origem polar ainda deverão ingressar no estado e, inclusive, o frio tardio poderá ocorrer devido à influência da La Niña, que ainda está em curso.

Portanto, os produtores daquelas regiões que ainda não possuem seus reservatórios de águas cheios devem ter atenção para o cenário e acompanhar as atualizações da previsão climática até o início da safra para, assim, melhor manejar suas áreas no que diz respeito à disponibilidade de água para a irrigação das suas lavouras.

Jossana Ceolin Cera
Agrometeorologista e Consultora do Irga

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