Milhões em jogo
Brasil consolida posição de grande exportador e visa dois milhões de t
Apesar de um cenário que começou adverso, o Brasil contou com uma conjuntura global favorável para, mais uma vez, mostrar-se apto à condição de um dos maiores exportadores mundiais de arroz este ano. As exportações brasileiras, em base casca, entre janeiro e outubro, alcançaram 1,68 milhões de toneladas, segundo números do Ministério da Economia, com uma receita de US$ 516,3 milhões. Um crescimento de 68,7% em receita e de 75,8% em volume sobre as 955,3 mil toneladas e os US$ 306 milhões alcançados no mesmo período em 2021.
A Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz) espera que o país alcance dois milhões de toneladas embarcadas no ano civil (janeiro a dezembro). A missão está próxima de ser concluída com 204,8 mil toneladas projetadas na lineup de Rio Grande, apenas em granel, até meados de dezembro, considerando o grão em casca, descascado, branco, parboilizado e quebrados. Não estão nesse rol os contêineres.
Em outubro de 2022, o Brasil bateu seu recorde de embarques mensais, com 388,7 mil toneladas remetidas para dezenas de países, somando US$ 122,5 milhões em divisas. “Mantido o ritmo, as exportações poderão chegar a dois milhões de toneladas ou perto disso este ano”, avaliou Gustavo Trevisan, diretor de assuntos internacionais da Abiarroz.
A retirada de taxas do arroz em casca e das barreiras sanitárias por parte do México foi determinante nesse resultado. Em escalada inflacionária da cesta básica e redução da oferta e altíssimos preços praticados nos EUA, país que dominava até então o seu mercado, a saída do governo mexicano foi buscar fornecedores com qualidade igual ou superior e preços mais atrativos. Com o Brasil como opção para compras do grão em casca e o Uruguai para o beneficiado, o México conseguiu reduzir em 3,3% os preços médios da cesta básica.
Neste aspecto, Trevisan considera que há um ganho no sentido de que o México passou a reconhecer a qualidade do arroz brasileiro. Frisou, porém, que há um esforço da Abiarroz, também por meio do projeto Brazilian Rice, para retirar as taxas de até 20% incidentes sobre o arroz beneficiado brasileiro para ser adquirido no México. “A compra de arroz brasileiro em casca tem o objetivo de valorizar a indústria mexicana”, observou. O governo brasileiro, por meio da Embaixada na Cidade do México, também está mobilizado no sentido de buscar a assinatura de um acordo bilateral para dar acesso ao arroz brasileiro beneficiado ao país hispânico.
BRAZILIAN RICE
Carolina Matos, gerente de Exportação da Abiarroz, destaca as vendas externas de arroz beneficiado, de maior valor agregado que atingiram 448,3 mil t, equivalente a US$ 153,7 milhões, de janeiro a outubro. Os principais destinos foram Espanha, Portugal, Arábia Saudita, EUA, Peru, Bolívia, Venezuela, Trinidad e Tobago, Angola e Curaçao. De janeiro a outubro, as compras brasileiras do cereal alcançaram 1 milhão de t, o equivalente a US$ 294,2 milhões.
Para Gustavo Trevisan, o desempenho do arroz beneficiado, similar ao do ano passado, é demonstração de que o produto e a indústria têm se superado. “Com o custo de contêiner multiplicado por até sete vezes, a indústria e as tradings descobriram outras formas de exportar, que nos deram condições de nos manter competitivos”, finaliza.
O fator mexicano
Sem dúvida, o México fez a diferença nos resultados da exportação de arroz pelo Brasil em 2022. A expectativa é de que esse ímpeto mexicano se mantenha em 2023. De março a outubro foram exportadas para o país hispânico quase 400 mil toneladas, em base casca. A Conab estimava uma exportação brasileira de 1,4 milhão de toneladas no total. Com a “onda mexicana”, deverá ficar em torno de dois milhões de toneladas.
Para Tiago Barata, diretor-executivo do Sindarroz/RS, o ano começou difícil, mas termina com a convicção de que os países que adquirem arroz brasileiro só o substituem por outro a valor muito competitivo. “Hoje, nosso grão se posiciona em patamar superior de qualidade em nível mundial e, mantendo preços competitivos, a tendência é o país manter-se como grande player”, vaticinou. Enquanto uma tonelada de arroz norte-americano com mistura de cultivares e 55% de inteiros, ou menos, chega ao México acima de US$ 460/465 dólares, o brasileiro chegava na faixa de US$ 400/410 e melhor qualidade, isso o tornou muito competitivo”, explicou.
Para Barata, a balança comercial, em vários momentos, é quem regula o mercado. “Até meados de novembro, a indústria não conseguia competir, pois precisava disputar matéria-prima com as tradings, que operam de R$ 2,00 a R$ 5,00 por saca acima do mercado nacional, e o varejo não aceitava o repasse dos valores”, disse o dirigente. Porém, em novembro, as indústrias passaram a reter produto, seguindo exemplo dos arrozeiros. Para o varejo, a alternativa foi aceitar o repasse, ao menos em parte.
“Não era o casca que estava caro, era o fardo que estava barato”, observou Barata, que espera ver a balança comercial definindo os preços do arroz em 2023 com a relação oferta x demanda. “O câmbio, no caso, será crucial para definir nossa participação no mercado externo”.
Juandres Antunes, diretor de exportação da Federarroz, avaliou que a retração da indústria no primeiro semestre, após constatar que a safra não foi tão pequena quanto se presumia, em função das secas, deixou o mercado em stand-by. A expectativa voltou-se à janela de exportação, que, até maio, foi fraca em função do câmbio. “Os preços até caíram, pois ficou evidente que só o mercado interno não sustentaria a elevação das cotações”, reconheceu. Mas, na virada para o segundo semestre, alguns fatos mudaram completamente o cenário.
São eles: a abertura do mercado mexicano, a disparada dos preços norte-americanos por sua safra menor, e a frustração das colheitas asiáticas acompanhada pela suspensão de vendas e sobretaxas criadas pela Índia, maior exportador mundial. “O cenário mundial mudou, e os olhos do mundo se voltaram para o Mercosul, mais uma vez. E o Brasil, nesta condição, é protagonista”, explicou Antunes.
Os preços médios de exportação subiram de US$ 13,50/14,00 para entre US$ 16,50/17,50 e se tornaram muito atrativos para as tradings e produtores. “De dois milhões de toneladas, em base casca, que o Brasil vai embarcar, o México será responsável por cerca de 500 mil”, revelou. O diretor da Federarroz entende que dois aspectos auxiliaram muito o Brasil, além dos fatores já citados de qualidade, disponibilidade e preço do grão. “A frustração de safra da soja deixou mais espaço no porto e favoreceu à logística do arroz e a queda das colheitas e dos estoques em países cruciais do mercado internacional”, observou.