Soja: preços despencam em 2023
No início de janeiro do corrente ano, escrevemos um artigo para esta revista alertando que o mercado da soja, para 2023, exigia cautela. Passados os quatro primeiros meses do ano, o aviso se mostra pertinente. Os preços da oleaginosa no Brasil despencaram no período.
No Rio Grande do Sul, a soja encerrou abril valendo R$ 125,00/saco nas principais praças do estado. Nesta mesma época, em 2022, o valor foi de R$ 190,00. Em 2021 e 2020, tais valores foram de R$ 168,50 e R$ 101,00/saco, respectivamente. Ou seja, o mercado está retornando aos valores nominais de três anos atrás.
Uma série de fatores explica tal comportamento, desde a demanda mundial mais contida, associada à oferta em crescimento, passando por prêmios portuários negativos no Brasil até um real mais valorizado. A partir de agora, a grande dúvida que se instala entre os produtores brasileiros é o que virá pela frente?
Não se descarta a possibilidade de preços um pouco melhores para o segundo semestre, especialmente vindos dos prêmios. Entretanto, haverá muita soja para comercializar no segundo semestre, pois, até o fim de abril, pouco menos da metade da safra 2022/23 havia sido comercializada. Essa grande oferta e a expectativa de uma safra normal nos EUA derrubam Chicago para os meses futuros. A cotação de setembro fechou abril em US$ 12,84/bushel, contra US$ 14,44 para maio.
Outro problema para carregar a soja até o segundo semestre na busca de melhores preços, é que não se tem certeza de melhorias substanciais no valor do saco de soja. Sem contar o fato de que o carregamento causa custos financeiros, de armazenagem, quebra técnica, etc. O quadro piora para os gaúchos diante de mais uma safra frustrada.
Assim, para quem deixar para vender no segundo semestre, “será preciso que os prêmios estejam muito positivos para não perder dinheiro. É uma conta que precisa de muita atenção” (conforme Notícias Agrícolas). Ou seja, o quadro de preços tende a ser melhor no segundo semestre, porém, pode não ser compensador para muitos.
Senão, vejamos: considerando o câmbio se mantendo ao redor de R$ 5,00, Chicago ao redor de US$ 12,70/bushel e prêmios melhorando para US$ 0,80/bushel positivos (no fim de abril estavam ao redor de US$ 1,50 negativos), o preço da soja no Rio Grande do Sul, na média, tende a ficar ao redor de R$ 128,00/saco na primeira parte do próximo semestre, ou seja, praticamente nos mesmos níveis de hoje, todas as demais variáveis não se modificando. Portanto, será preciso uma melhora bem significativa nos prêmios para compensar a espera, especialmente diante dos atuais juros praticados no Brasil.
Com isso, cada produtor deverá rever suas estratégias, fazer suas contas e definir um rumo a tomar, sabendo que se trata de tendência, pois certeza ninguém tem. Pelo sim ou pelo não, um contexto que recupera a importância do arroz nas regiões de sua produção.
Argemiro Luís Brum
Professor titular junto ao PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris (França), coordenador da Central Internacional de Análises Econômicas e de Estudos de Mercado Agropecuário (CEEMA/PPGDR/UNIJUI)