O quanto deu

Projeção indica uma situação de oferta e demanda apertada

A redução na oferta de arroz no Brasil nesta temporada só não terá maior repercussão no quadro de oferta e demanda da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), porque o consumo deve cair e a exportação não deverá repetir a performance recorde do ano passado. A companhia estima a safra brasileira de arroz 2022/23 em 9,9 milhões de toneladas (base casca), 7,8% menor do que em 2021/22.

Esse resultado reflete a menor superfície de cultivo, causada pela escassa disponibilidade de água para a irrigação e o alto potencial financeiro de outras culturas, feito o milho e a soja, na tomada de decisão.

O relatório da safra de grãos, divulgado pela Conab em maio, apresenta queda do consumo no país em seu quadro de oferta e demanda para 10,25 milhões de toneladas em 2023, isso em razão da perspectiva de recuperação econômica e pelo fato do arroz possuir elasticidade-renda negativa.

Sobre a balança comercial, as exportações na safra 2021/22 apresentaram um significativo volume comercializado, e encerraram o ano de 2022 com 2,11 milhões de toneladas vendidas em razão da boa competitividade no mercado internacional e quebra da safra norte-americana. Também pesou a isenção de barreiras tarifárias em países da América Central e no México.

CENÁRIO
Para a safra 2022/23, em um cenário projetado pela Conab de menor disponibilidade do cereal e, por isso, também prováveis melhores preços internos, projeta-se a retração do volume comercializado com o exterior para 1,5 milhão de toneladas (base casca). Fica próximo da média comercializada ao longo dos últimos anos, com exceção de 2022.
Neste cenário, a estimativa é de crescimento das importações, estimadas em 1,3 milhão de toneladas internalizadas pelo Brasil ao longo de 2023, com saldo de 200 mil t.

O analistas indicam a retração do estoque de passagem para 1,8 milhão de toneladas ao fim de 2023, 500 mil abaixo do ano passado.

PROJEÇÃO
Com este ano, muito ajustado entre oferta e demanda no Brasil, a estimativa é de que o mercado se regule também em termos de preços. Embora seja a primeira safra em muito tempo na qual o país não será autossuficiente, estoques e importações suprirão a demanda com sobras. Mas há outros fatores que deverão determinar o a formação dos preços, caso do câmbio, por exemplo.

Em busca de valorização

Menor oferta ajuda, mas não é o único fator a formar preços

A cadeia produtiva do arroz fez a sua parte para criar uma conjuntura de oferta e demanda capaz de concorrer para levar os preços a patamares remuneradores. Em 2022, houve recorde nas exportações, que geraram saldo de 500 mil toneladas, em um esforço da indústria, tradings e produtores, que contou com a conjuntura, a inflação mundiais e a demanda de países feito o México.

A lavoura também reduziu a oferta ao encurtar a área cultivada e buscar alternativas como soja, milho e pastagens de verão. Mas isso não resolveu tudo. O Brasil já foi um grande importador sem exportar nenhum grão até o início dos anos 2000. A última vez em que o Brasil colheu menos do que consome anualmente foi em 2018/19.

Para 2022/23, a expectativa é de que a produção alcance 9,95 milhões de toneladas frente ao consumo de 10,25 milhões. O suprimento chegará a 13,6 milhões de toneladas, contra 11,8 milhões de demanda, com saldo de 1,82 milhões por causa dos estoques e da balança comercial.

Tiago Barata, diretor do Sindarroz-RS, entende que sobre as cotações ao longo do ano deverá imperar a baixa disponibilidade de matéria-prima no mercado e os preços tendem a ser sustentados e com médias superiores ao ano passado, com pequenas oscilações pontuais. “Para isso, precisamos manter as vendas externas e o mercado doméstico deve seguir dentro de seus padrões de consumo”, explicou.

Para ele, não há muito espaço para que os preços caiam pela relação ajustada de oferta e demanda, embora pontue que câmbio, demanda e os preços internacionais podem interferir.

Arroz de qualidade será disputado

Oliveira: expectativa de preços firmes

O analista da Safras & Mercado, Evandro Oliveira, considera que no lado da oferta, longos períodos de margens apertadas e a forte estiagem no sul do país afetaram a safra em qualidade e quantidade do arroz produzido. “A conversão do fenômeno La Niña (após três consecutivos) para o El Niño é uma questão importante a ser observada na próxima temporada, pois pode impactar a produção”, destacou.

A balança comercial tende a ser mais equilibrada, com a previsão de de safra menor e estoques apertados. As exportações devem ser menores, com um avanço nas compras externas. “Ainda assim, o país iniciou a temporada com um déficit e conseguiu manter volumes satisfatórios de exportação, alcançando um superávit na casa das 40 mil toneladas até abril’, acrescentou. Espera-se o avanço nas vendas no segundo semestre e arrefecimento nas importações, o que deverá impulsionar os indicativos domésticos do cereal.

Para Oliveira, a tendência para os preços é de um cenário de disputa pelo grão de qualidade, o que deve contribuir no avanço dos indicativos internos. As exportações em casca se manterão importantes mecanismos de comercialização para os orizicultores, fornecendo a liquidez necessária e dando ritmo ao escoamento.

Entende, porém, que é importante levar em consideração a indefinição quanto ao rumo do dólar e a forte concorrência com os EUA, que deverá contar com preços atrativos no segundo semestre e capturar mercados relevantes para o Brasil, como América Central e Caribe. Em resumo, o cenário é desafiador para a cadeia produtiva e de forte concorrência internacional no segundo semestre de 2023.

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