El Niño começou a enfraquecer em janeiro
Declarado em junho de 2023, o El Niño fortaleceu-se e chegou à categoria forte no trimestre agosto/setembro/outubro de 2023, com anomalia de +1,6°C, segundo os dados da Noaa (National Oceanic and Atmospheric Administration).
É importante lembrar que o El Niño é caracterizado pelo aquecimento anômalo das águas do Oceano Pacífico Equatorial e causa distúrbios no regime de temperatura, ventos e precipitação pluvial em algumas regiões do planeta. No estado do Rio Grande do Sul (RS), provoca aumento no regime hídrico.
Desde setembro, as precipitações têm estado acima da média, ou seja, com valores superiores aos da normal climatológica (NC) na maioria das regiões do RS.
A alta pluviosidade gerou impactos na cidade e no campo. No caso das lavouras de arroz irrigado, gerou atraso na semeadura, com 74% da área semeada até 15 de novembro, sendo menor que o porcentual (93%) alcançado na safra anterior.
O atraso na época ideal de semeadura do cereal reduz a produtividade do grão devido à menor disponibilidade de radiação solar durante o período reprodutivo. Já para culturas de sequeiro, como a soja, o excesso de precipitação também atrasou a época de semeadura.
No entanto, a maior disponibilidade hídrica verificada na presente safra em relação à anterior, em que ocorreu o fenômeno La Niña, é um fator que deverá elevar a produtividade média de grãos dessa cultura em todo o RS.
O mês de dezembro de 2023 foi o oitavo consecutivo com anomalias de temperatura em patamar de El Niño. A região do Niño3.4 registrou anomalia de +2,0°C, que se caracteriza como de intensidade muito forte (figura 1).
No entanto, para definir a intensidade oficialmente, a Noaa utiliza o índice ONI (Oceanic Niño Index), que é trimestral, e foi de +1,9°C no trimestre outubro/novembro/dezembro de 2023.
Mas, durante o mês de janeiro de 2024, pela análise das anomalias semanais, o aquecimento começou a dar sinais de que estava enfraquecendo, quando a temperatura foi de +1,9°C para +1,7 °C nas duas últimas semanas do mês. Segundo a Noaa, a expectativa é de que o El Niño se mantenha, com 94% de probabilidade (figura 2), até o trimestre fevereiro/março/abril de 2024, influenciando, ainda, o restante da safra de arroz e das culturas de sequeiro, incluindo o período de colheita.
O El Niño não tem grande correlação com as chuvas durante o verão e é por isso que se observam períodos maiores sem chuvas ou, até mesmo, períodos com estiagem regionalizada.
Para fevereiro e março de 2024, alguns modelos preveem precipitação entre a média e abaixo da NC. No entanto, é preciso ter atenção, pois, no outono, o El Niño poderá voltar a ter impacto sobre as chuvas no RS, com potencial para influenciar as chuvas de março. Já para abril, os modelos convergem para uma situação de precipitações acima da NC.
Como as semeaduras do arroz e da soja atrasaram, possivelmente haverá lavouras em período de colheita, e chuvas em excesso poderão vir a ser um problema, pois o ideal é se fazer a colheita dessas culturas no seco, e, até mesmo, para escoamento da safra.
Pensando mais para frente, mesmo que ainda seja um pouco cedo para fazer afirmações, mas a previsão de consenso da Noaa (figura 2) mostra que uma La Niña poderá se configurar para a safra 2024/25. É preciso ficar atento aos prognósticos dos próximos meses.
Com isso, salienta-se que o produtor precisa ficar sempre atento às previsões climáticas sazonais e a previsão diária do tempo, para tomar as melhores decisões no manejo de suas lavouras.
Jossana Ceolin Cera
Agrometeorologista e consultora do Irga.