Soja despenca em Chicago

Chegamos a meados de agosto de 2024 e assistimos à continuidade da reacomodação do mercado da soja em Chicago. Após as fortes altas, ocorridas entre 2020 e 2022, elevando o valor do bushel da oleaginosa a recordes históricos em alguns momentos no período, o mercado busca a média histórica. É um movimento natural e esperado, porém, a velocidade do mesmo nos últimos meses chama a atenção.

O mês que baliza os preços do produto no Brasil atingiria apenas US$ 9,47/bushel no dia 13/08. Um mês atrás a cotação estava em US$ 11,34 e, um ano antes, registrava US$ 13,91. Ou seja, em um mês, a soja, em Chicago, perdeu 16,5% de seu valor e, em um ano, 31,9%. E os seus derivados, farelo e óleo, acompanharam o movimento. Aliás, nota-se o mesmo junto ao milho e o trigo cotados em Chicago, embora em intensidades diferentes.

O principal motivo, no momento, é a volta de uma safra cheia nos EUA. Com a colheita devendo se iniciar ainda em setembro, o país norte-americano aponta para uma produção total, em 2024/25, de 124,9 milhões de toneladas, contra 113,3 milhões colhidas na safra anterior. Com isso, os estoques finais locais sobem para 15,2 milhões de toneladas no novo ano comercial, contra 9,4 milhões no ano anterior (cf. Usda). Soma-se a isso a projeção de uma futura safra brasileira em 169 milhões de toneladas e, a da Argentina, em 51 milhões, ambas bem superiores ao produzido no último ano, atingido que foi pelas intempéries regionais.

Assim, em um ambiente onde o consumo chinês diminui, por questões econômicas internas ao país asiático, há sobra de soja no mercado mundial no horizonte de curto e médio prazo. Dito isso, a tendência é as cotações em Chicago se estabilizarem e até reagirem um pouco depois de um recuo tão expressivo, mas em condições normais de mercado e da economia global, o novo patamar de cotações para a soja parece se estabelecer ao redor de US$ 10,00/bushel.

Ajuda para esse movimento a manutenção de juros elevados nos EUA, o que faz parte dos especuladores, na Bolsa, preferirem os títulos públicos estadunidenses. Todavia, mais adiante, tais juros tendem a baixar, podendo inverter a lógica desses operadores e oferecendo mais sustentação às cotações em Chicago.

Por enquanto, o quadro empurra para baixo os preços da soja no Brasil. Esses preços, que já estavam em baixa há praticamente um ano, mesmo com um real, atualmente e novamente, ainda bastante desvalorizado (ao redor de R$ 5,50 em meados de agosto) e da volta de prêmios positivos em nossos portos, chegaram, no momento, nas principais praças gaúchas, a R$ 113,00/saco, após terem trabalhado, semanas antes, entre R$ 123,00 e R$ 125,00/saco nas regiões de produção. Ou seja, confirmam-se os alertas dados dois a três anos antes, de que os preços de R$ 200,00, e acima disso em alguns momentos, não eram sustentáveis e estavam longe da realidade histórica do mercado (ver tabela a seguir). Lembrando que, se o câmbio tivesse permanecido nos valores há pouco tempo praticados (R$ 4,80 a R$ 5,00), o que não se pode descartar que para ali retornem, a soja gaúcha, junto ao produtor, estaria valendo hoje um pouco abaixo de R$ 100,00/saco.

Portanto, todo o cuidado no gerenciamento da próxima safra, especialmente na relação custo de produção/resultado esperado e resultado possível de ser obtido. Especialmente porque a desvalorização recente do real volta a elevar os custos de produção.

EVOLUÇÃO DOS PREÇOS NOMINAIS DA SOJA NA MÉDIA DAS PRINCIPAIS PRAÇAS GAÚCHAS (em R$/saco de 60 quilos na 2ª semana de agosto)
2013 – 66,72
2014 – 64,54
2015 – 76,57
2016 – 77,58
2017 – 65,92
2018 – 84,50
2019 – 81,00
2020 – 118,25
2021 – 160,00
2022 – 168,00
2023 – 136,00
2024 – 113,00
Fonte: Ceema/PPGDR/Unijui, com dados da Emater/RS, Safras & Mercado e Notícias Agrícolas.

Argemiro Luís Brum
Professor TITULAR NO PPGDR/UNIJUÍ
DOUTOR EM ECONOMIA INTERNACIONAL
COORDENADOR DA CENTRAL INTERNACIONAL DE ANÁLISES ECONÔMICAS E DE ESTUDOS DE MERCADO AGROPECUÁRIO, CEEMA/PPGDRUNIJUÍ

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