Fungo pode ser primeiro bioinsumo para controle biológico do percevejo em arroz de SC

 Fungo pode ser primeiro bioinsumo para controle biológico do percevejo em arroz de SC

(Por Renata Rosa, jornalista bolsista da Epagri/Fapesc) Pesquisadores da Estação Experimental da Epagri em Itajaí estão alcançando resultados promissores na pesquisa “Prospecção e bioprospecção de microrganismos para controle do percevejo do grão na cultura do arroz irrigado em Santa Catarina”. A pesquisa pretende desenvolver o primeiro bioinsumo para controle biológico do arroz irrigado em SC. Bioinsumos são produtos, processos ou tecnologias de origem vegetal, animal ou microbiana utilizados na agricultura para promover a produção, proteção, armazenamento e beneficiamento de produtos agropecuários.

O percevejo do grão é a maior praga das lavouras de arroz irrigado em Santa Catarina. O fungo que ataca o inseto tem potencial para reduzir o custo de produção, melhorar a qualidade do grão e reduzir o risco de contaminação da água e solo, abrindo novos mercados para o arroz catarinense.

É um trabalho conjunto e complementar de três pesquisadores da Estação: os engenheiros-agrônomos Marcos Lima Campos do Vale, Alexandre Visconti e Eduardo Hickel. Marcos conta que o predador do percevejo foi percebido, inicialmente, pelo entomologista Hickel em sua rotina de experimentos realizados a campo, durante o período de dormência do cultivo de arroz, na entressafra. Ele observou que os insetos morriam envoltos por um fungo nos meses frios. Então, fez a coleta dos insetos infectados e avaliou a capacidade de controle do percevejo do grão através do fungo.

Depois foi a vez de Visconti entrar em cena. Ele ficou responsável pela identificação do fungo Beauveria, multiplicação do microrganismo e pelos testes de compatibilidade com os principais agrotóxicos utilizados na fase de enchimento de grãos, em experimentos no laboratório.

Nos testes foram analisados o nível de mortalidade do inseto, a capacidade de reprodução em ambiente controlado, sua adaptabilidade a processos industriais e compatibilidade com defensivos agrícolas utilizados no sistema de cultivo de arroz pré-germinado, já que o objetivo é fazer um controle integrado químico e biológico.

Campos do Vale fez a formalização do projeto junto às cooperativas e indústria e a avaliação do controle do percevejo do grão promovido pelo uso do fungo em condições de campo. A pesquisa está em fase de validação do produto no campo, que será realizado na próxima safra 2025/26, numa propriedade rural.

Redução de inseticida aumenta segurança do alimento e do trabalhador

O pesquisador explica que a utilização do bioinsumo reduz o custo de produção porque diminui a necessidade de reaplicação de inseticidas, que poderia acarretar em contaminação do solo, da água, do trabalhador rural e do próprio alimento. O uso excessivo de defensivo agrícola prejudica, inclusive, o desempenho comercial do arroz em mercados exigentes como a União Européia e Estados Unidos, que já devolveram lotes com resquícios de inseticida.


Santa Catarina tem 145.294 hectares cultivador com arroz irrigado (Foto: Aires Mariga / Epagri)

Por esta razão, gigantes da indústria de arroz, como a Urbano Alimentos, de Jaraguá do Sul, com 65 anos de tradição no mercado, entrou como co-patrocinadora da pesquisa, junto com as cooperativas Cooperja, Coopersulca e CooperJuriti. A empresa que deve desenvolver o produto comercial a partir da cepa do microrganismo é a paulista Ballagro.

Para aumentar a efetividade do produto, a pesquisa vai iniciar uma nova fase em 2026 com objetivo de testar a incorporação do método autoinoculativo, quando o inseto é contaminado pelo fungo em laboratório e colocado na lavoura de teste para contaminar os demais. Se a experiência tiver sucesso, a fórmula é adaptada. Outra pesquisa com objetivo de potencializar a efetividade do bioinsumo nas lavouras de arroz irrigado é com o uso de feromônios.

Além de projetar o arroz produzido no Estado, o bioinsumo pesquisado pela Estação Experimental de Itajaí, em parceria com as cooperativas e indústria, tem um grande potencial comercial para outros estados que adotam o sistema de cultivo de arroz irrigado. O vizinho Rio Grande do Sul, o maior produtor do Brasil, tem 1 milhão de hectares plantados, além dos parceiros do Mercosul, Uruguai (180 mil hectares), Argentina e Paraguai (200 mil hectares cada). De acordo com o Observatório Agro Catarinense, Santa Catarina tem 145.294 hectares plantados em cinco mil propriedades, com maior concentração no Sul do Estado.

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