Planejando a próxima safra de arroz: manejo de plantas daninhas para altas produtividades
Echinochloa crus-galli é uma das plantas daninhas de difícil controle nas lavouras de arroz
*Angela Bundt
A cultura do arroz conquistou resultados expressivos no Rio Grande do Sul na safra 2024/25, colhida no primeiro semestre deste ano. O Estado registrou produção de 8,3 milhões de toneladas, um crescimento de 15,9% em comparação à safra passada, com área plantada de 951,9 mil hectares, acréscimo de 5,7% frente à temporada anterior, e produtividade elevada, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Agosto é o mês em que os agricultores avançam no planejamento da cultura. O manejo de plantas daninhas é parte essencial deste planejamento, pois elas estão presentes mesmo durante o período de entressafra – de março a setembro -, e devem ser manejadas já nos primeiros estágios do cultivo, sendo o controle efetivo fundamental para o aumento da produtividade da lavoura.
Os prejuízos causados pelas plantas daninhas vão além dos limites da lavoura arrozeira. No caso dos agricultores, elas interferem de forma direta e acentuada sobre a produtividade e lucratividade da cultura, aumentando os custos de produção. Já nas indústrias, as invasoras contribuem para a diminuição da qualidade do produto colhido, pois aumentam o índice de impurezas e depreciação do produto.
Mesmo em baixas infestações, os prejuízos causados por essas invasoras são grandes e devem ser considerados no curto prazo (pela diminuição da produtividade da cultura) e em médio e longo prazo (pelo aumento do banco de sementes no solo e/ou infestação de áreas vizinhas).
Outro ponto importante é o surgimento de biótipos resistentes aos principais herbicidas e/ou mecanismos de ação, o que aumenta a dificuldade de controle dessas plantas, causando sérios prejuízos para o agricultor. A ocorrência de resistência cruzada (resistência a mais de um grupo químico dentro de um mesmo mecanismo de ação) e/ou de resistência múltipla (resistência a mais de um mecanismo de ação) está cada vez mais presente nas lavouras de arroz irrigado, principalmente em áreas com cultivo intensivo ao longo dos anos.
As principais invasoras, sobretudo no Rio Grande do Sul e Santa Catarina (que concentram mais de 70% da produção), são o arroz vermelho (Oryza sativa), capim-arroz (Echinochloa spp.), as ciperáceas (Cyperus spp.) e as espécies de folhas largas, como o aguapé (Sagittaria montevidensis) e angiquinho (Aeschynomene denticulata). O capim-arroz e arroz vermelho são altamente competitivos por luz, água e nutrientes, podendo reduzir a produtividade do arroz em mais de 50%, quando não controlado no início do ciclo; as ciperáceas germinam em muitos fluxos e elevadas populações que dificultam o manejo e competem diretamente com o arroz, prejudicando o perfilhamento e a uniformidade da lavoura, enquanto o aguapé é uma plantas aquática muito problemática no sistema pré germinado que, devido a altas populações e potencial germinativo, competem por espaço e nutrientes, causando reduções em produtividade.
O orizicultor deve levar em conta, em sua estratégia de manejo, não só os seis meses em que o arroz está plantado, mas também a entressafra – compreendido de março, quando a cultura é colhida, a setembro, quando acontece o novo plantio. Neste período, são necessárias algumas ações, como a aplicação de uma cultura de cobertura – seja pastagem, aveia ou azevém -, que reduzem o banco de sementes de plantas daninhas, protege o solo contra erosão e perdas de nutrientes, melhora a estrutura e a matéria orgânica, favorecendo a retenção de água e a atividade biológica, e quebra o ciclo de pragas e doenças específicas do arroz, diminuindo a pressão para a safra seguinte.
A rotação de culturas também é uma prática recomendada – a soja surge como uma excelente opção, pois permite mecanismos de ação diferentes dos normalmente utilizados durante o ciclo do arroz. A rotação da oleaginosa com o arroz favorece o solo, pois promove estruturação e maior fertilidade, além de fornecer complemento financeiro à renda do produtor.
No início do ciclo do arroz, junto à semeadura já deve ser realizada a aplicação de herbicidas pré-emergentes – que acontece, na maioria das vezes, no início da primavera. O defensivo escolhido precisa ter seletividade e controlar o maior número de alvos possíveis, já que o arroz tem como característica a presença de grandes populações e de espécies diferentes de daninhas na mesma área, além de aumento na resistência, o que demanda uma necessidade de evolução na pesquisa e desenvolvimento, por parte da indústria, de novas soluções direcionadas à cultura. Esta aplicação já na semeadura proporciona diversos benefícios ao orizicultor, como a limpeza da área e a diminuição do número de invasoras na pós-emergência, reduzindo a quantidade de aplicações de herbicidas na pós-emergência e, consequentemente, reduzindo os custos do produtor.
Aliada ao controle químico, a inundação da área também é prática fundamental para o sucesso no manejo de plantas daninhas e produtividade da cultura. O estabelecimento da irrigação logo após a aplicação dos herbicidas pós-emergentes auxilia na sua performance de controle e melhora a produtividade de grãos da cultura, já que o atraso de entrada de água na lavoura possibilita a reinfestação, sobretudo de espécies como capim-arroz, arroz vermelho e ciperáceas.
Com estas ações, o orizicultor terá uma lavoura com vigor, uniformidade e com altos tetos produtivos e rentáveis, aumentando o protagonismo do Rio Grande do Sul e do Brasil na produção de arroz.
*Angela Bundt é Engenheira Agrônoma, Mestre e Doutora em Fitossanidade de Plantas Daninhas pela UFPel e gerente de projetos de Herbicidas para arroz e Bioestimulantes na Corteva Agriscience.



1 Comentário
Muito bem esplanado o assunto, do jeito q tá ,melhor voltar pra enchada, tem muito herbicida q mais serve de vitamina pras plantas daninhas.