A acessibilidade do arroz brasileiro em comparação aos mercados mundiais
O impacto da intervenção equivocada no mercado do arroz no Brasil
Introdução
O arroz é um dos alimentos básicos mais consumidos no Brasil e em muitas outras partes do mundo. No entanto, ultimamente, a dinâmica do mercado no nosso país enfrenta desafios significativos, especialmente no contexto de intervenções governamentais. Este artigo discute a acessibilidade do arroz brasileiro comparado aos mercados mundiais e os impactos adversos das intervenções sobre os produtores de arroz.
A sustentabilidade do arroz brasileiro
O custo de produção do arroz no Brasil é algo em torno de R$ 100,00 por saca, considerando uma produtividade 8.500 kg/ha, ou seja, se operar com esse patamar de preço “líquido“, desconsiderados todos os descontos industriais, frete, impostos e taxas, temos que mais de 80% dos produtores terão dificuldades para honrar seus compromissos. A sustentabilidade é um fator crucial para a segurança alimentar do país, proporcionando um alimento básico a um preço competitivo em relação a outros mercados internacionais.
Comparação com os outros mercados mundiais
Em comparação com o arroz produzido em outras regiões, como a Tailândia, por exemplo, o arroz brasileiro destaca-se não apenas pelo preço final acessível, mas também pela alta qualidade.
As últimas importações de arroz tailandês para o Brasil mostraram que, embora eventualmente possa o grão asiático estar mais barato, a qualidade não se equipara ao padrão do arroz brasileiro, levando inclusive as maiores indústrias a não empacotarem o cereal da Ásia nas suas marcas de ponta devido à baixíssima qualidade identificada no produto importado.
Intervenção equivocada e seus impactos
A intervenção dos governos no mercado de arroz, e as vezes apenas a ameaça de intervir por parte também do governo brasileiro, tem trazido e continua a trazer grandes dificuldades aos produtores.
Medidas regulatórias, políticas de subsídios e outras interferências têm criado um ambiente de incerteza e pressão financeira sobre os agricultores.
Dificuldades para os rizicultores
A produção de arroz é uma atividade de alto risco que exige um retorno financeiro adequado para ser sustentável. Quando a remuneração não é compatível com os custos e riscos envolvidos, os produtores tendem a abandonar a cultura.
Este fenômeno pode ser observado nos últimos anos, nos quais por conta da baixa ou insuficiente renda, a lavoura arrozeira do Rio Grande do Sul (RGS) caiu de mais de 1,2 milhão de hectares para pouco mais de 800 mil hectares semeados por temporada.
O Caminho da desmotivação está traçado
Acima registro do gráfico resultante da média mensal do preço do Arroz Casca em Pelotas (RS), a principal praça industrial arrozeira do Estado, mostra claramente a desmotivação do orizicultor. Este gráfico evidencia quando uma intervenção extra mercado é aplicada: a primeira entre janeiro e fevereiro de 2024, quando em meio a tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul, o governo federal anunciou um desnecessário leilão de importação de arroz; e a segunda em novembro do mesmo ano, quando foram anunciados leilões internos de contratos de opção, juntamente com anúncios equivocados, pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) de super safras e aumento de mais de 60.000ha na área plantada, números esses com forte divergência do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga).
O papel do Irga
O Irga é uma instituição que, há 85 anos, trabalha com levantamentos detalhados das lavouras de arroz e tem tido sucesso em suas previsões sazonais. A tentativa de descreditar os dados fornecidos historicamente pelo instituto demonstra certo despreparo e, em certo ponto, até uma desfeita ao trabalho técnico e científico realizado pela entidade ao longo de mais de oito décadas, gerando ainda mais incertezas e insegurança no setor.
Consequências futuras
Ainda que ocasionalmente, pela conjuntura de clima e mercado no inverno, a intenção de cultivo tenha crescido, a diminuição na área plantada de arroz, de fato, pode ter consequências sérias para a segurança alimentar do nosso país e das dezenas de nações para as quais fornecemos parte importante de seus suprimentos deste importante cereal. Com a redução da produção nacional, o Brasil pode, eventualmente, tornar-se mais dependente de importações de arroz de qualidade inferior produzido sem as rígidas normas fitossanitárias exigidas no país, que estão entre as mais restritivas do mundo, e acima de tudo sem nenhum comprometimento social, colocando em risco a tradição culinária brasileira e a satisfação dos consumidores.
Qualidade do arroz gaúcho
O Rio Grande do Sul é conhecido por produzir senão o melhor arroz longo-fino do mundo, um dos melhores, uma reputação que é fruto de anos de dedicação dos produtores locais à qualidade e à excelência. Abandonar essa cultura não apenas afetaria a economia local, pois a indústria de arroz é uma das raras que impulsionam a economia da Metade Sul gaúcha e de algumas regiões brasileiras, mas também privaria os brasileiros de um produto de alta qualidade que é um pilar da dieta nacional sem contar que as prateleiras dos supermercados nacionais ofertam esse arroz de excelente qualidade a preços muito acessíveis, tendo um custo entre R$ 0,20 e R$ 0,25 por refeição, por pessoa, um dos menores de todo o planeta.
Conclusão
A produção de arroz no Brasil é uma atividade que enfrenta muitos desafios, mas que também oferece muitas oportunidades. Eventuais intervenções, se não forem cuidadosamente administradas e realizadas em consonância com o setor, ameaçará a sustentabilidade dessa cultura vital. É imperativo que se encontrem soluções que equilibrem a necessidade de intervenção com o suporte adequado aos produtores, assegurando assim que o arroz brasileiro continue sendo acessível, de alta qualidade e um pilar da segurança alimentar do país.
Elton Machado
Agropecuarista