A brecha na produção
O mundo consome cada vez mais arroz, mas produz menos .
Pelo segundo ano consecutivo a produção mundial de arroz deverá cair, alcançando o nível de 392,2 milhões de toneladas de arroz branco. A China é o principal responsável por essa queda. Como o consumo mundial para este ano está previsto em 403,7 milhões de toneladas, os estoques mundiais sofrerão uma nova queda, baixando para 126 milhões de toneladas. Entre os grandes exportadores, China, Tailândia e Paquistão apresentam projeções de menores exportações para 2002, enquanto Índia, Vietnã e Estados Unidos deverão aumentar seus volumes exportados.
No Mercosul, as condições climáticas favoráveis antevêem uma boa safra 2001/2002. O Brasil poderá aumentar sua produção em até 10% em relação aos 10,9 milhões de toneladas produzidos no ano passado. Como o estoque inicial está elevado, os preços devem cair. Nos Estados Unidos, os preços do arroz pagos aos agricultores na colheita de 2001 variaram entre 4,10 e 4,40 dólares pelo saco de 50 quilos. Estes preços são os mais baixos desde a safra 1986/1987.
O desenvolvimento tecnológico foi responsável por aumentar a produção mundial de arroz em casca de 257 para 594 milhões de toneladas no período 1966/2001. Por outro lado, a população do planeta deverá passar dos atuais 6,1 bilhões de habitantes para aproximadamente oito bilhões em 2025. Neste contexto, a produção mundial de arroz deverá expandir em 50% até o ano de 2025 para atender as necessidades de demanda.
Sem dúvida alguma, podemos dizer que a pesquisa deverá ser a principal responsável para fazer com que essa demanda seja atendida. As novas variedades desenvolvidas pelos melhoristas, todavia, estão produzindo abaixo do seu potencial genético. Para cobrir essa demanda, as pesquisas devem concentrar-se em estratégias dirigidas a aspectos ligados ao manejo da cultura e à transferência de tecnologias. As instituições de pesquisa possuem resultados que, quando adaptados e economicamente ajustados à realidade dos agricultores, podem diminuir essa brecha. Por outro lado, os mecanismos de transferência devem ser aprimorados e apoiados pelas políticas locais e utilizados rapidamente.
O cenário mundial, a largo prazo, é favorável a investimentos na cultura do arroz. Existem áreas, como a de transferência de tecnologias, que necessitam de atenção urgente para aumentar a produtividade, e o setor público deve seguir sendo apoiado para que o país possa tirar proveito das modernas técnicas que estão sendo desenvolvidas no mundo.
Quem é
Élcio Guimarães é pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão e consultor da FAO, o órgão das Nações Unidas para os assuntos de alimentação.