A ditadura do varejo

 A ditadura do varejo

Setor aponta dificuldades para manter seu espaço nas gôndolas

Indústria arrozeira paga pedágio para entrar nos supermercados
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A relação entre a indústria do arroz e o varejo nunca foi das mais fáceis. O argumento de que o cereal, mesmo sendo um produto essencial na dieta do consumidor brasileiro, não é sinônimo de receita para os supermercadistas justifica algumas práticas já conhecidas de toda a cadeia orizícola: a exigência por parte dos supermercados de enxovais ou um percentual sobre a carga destinado a promoções e ofertas com preço de custo ou de graça. Com isso, o varejo busca atrair o público para aqueles produtos que geram renda. Ou seja, o consumidor vai comprar o arroz no supermercado e tem sua atenção atraída para outros produtos onde o varejo tem receita, como hortifrutigranjeiros, entre outros. 

No auge da polêmica que ajudou a forjar a expressão “a ditadura do varejo”, empresários e representantes da indústria no Rio Grande do Sul chegaram a afirmar serem reféns nas mãos do varejo. Mas na prática a experiência mostrou que “bater de frente” com as grandes redes não era a melhor estratégia. Hoje, todos defendem o diálogo e buscam alternativas que facilitem a entrada de suas marcas nos supermercados, inclusive ampliando o mix de produtos oferecidos. 

Na análise do assessor do Irga, Tiago Sarmento Barata, a relação da indústria com o varejo tem sido o ponto que vem determinando a evolução dos preços em toda a cadeia. “Primeiramente porque o varejo é um setor mais concentrado que a indústria – e muito mais concentrado que a produção. Assim, tem um poder de barganha muito grande sobre a indústria”, explica. 

Segundo ele, é no sucesso em conseguir repassar algum valor a mais que a indústria pode ou não ter condições de remunerar melhor os preços do arroz em casca. “A indústria só vai poder pagar mais pela matéria-prima se tiver condições de repassar o aumento do custo do produto nas negociações com o varejo. A alegação é de que os preços estão deprimidos porque o varejo não está aceitando o repasse nessas negociações. Este tem sido o principal argumento para não remunerar melhor o produtor”, informa Tiago Barata. 

Esta conjuntura possibilita que as redes supermercadistas sempre encontrem ofertas mais baratas do produto no mercado para abastecer as prateleiras. “Cada empresa tem a sua própria arquitetura tributária e vantagens logísticas em relação a outras. Assim é muito forte a competitividade entre elas para chegar nas redes varejistas”, avalia o assessor do Irga. Mas reconhece que essa dinâmica acaba favorecendo aquelas indústrias que têm maior escala, em relação às de menor porte. A “saída” encontrada pela maioria dessas indústrias vem sendo ampliar o leque de produtos para facilitar a entrada de suas marcas nos supermercados. 

 

RELAÇÃO DE CONFIANÇA

A exigência de enxovais (carretas de arroz de graça ou um percentual da carga) para abertura de novas lojas de redes de supermercados, presente de aniversário e outras formas de “pedágio” é praticada em todo o país, mas com algumas variações de uma região para outra. “Aqui no Mato Grosso acontece a mesma coisa que no Rio Grande do Sul”, informa o presidente do Sindarroz-MT, Joel Gonçalves Filho. Segundo ele, foram as multinacionais do varejo, como o Carrefour, que implantaram esse “hábito” no estado e as outras empresas acabaram copiando. “Aqui, além das já famosas promoções de aniversário e inauguração, temos também reinauguração”. Ele explica que às vezes é só uma pintura da fachada do supermercado, mas já justifica um ato de reinauguração e, via de regra, implica na exigência de um “agrado” da indústria para a rede varejista. 

O presidente da Associação Brasileira da Indústria do Arroz Parboilizado (Abiap), Alfredo Treichel, lembra que o setor tradicionalmente tem uma margem de 5% sobre os preços praticados, mas que nos últimos anos é preciso fazer uma “ginástica” para alcançar este percentual na maioria dos engenhos gaúchos. “Ora, 5% sobre R$ 35,00 é uma coisa, sobre R$ 22,00 é outra. A diferença é muito grande”, enfatiza. 

Na visão do presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Cesar Longo, este tipo de agrado não parte como uma exigência do setor e defende que as relações entre ambas as partes precisam ser de confiança. “A identificação de bons fornecedores é a primeira premissa para o sucesso das vendas de um estabelecimento supermercadista”, explica. 

Ele argumenta que alguns representantes de diversos segmentos da indústria – e aí não se incluem apenas os da cadeia orizícola – adotam, conforme sua política de marketing e expansão no mercado, medidas para conquista de espaço, ou seja: “É a concorrência dentro da própria indústria do arroz que determina o surgimento deste tipo de agrado. Vale reforçar, entretanto, que estas práticas não são obrigações impostas pelos supermercados aos fornecedores, mas sim uma conseqüência natural da disputa de mercado por parte da indústria”, observa o dirigente.

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