À espera de um milagre
Com preços de 2012, esperanças estão no câmbio e no governo
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Nenhuma safra é igual a outra e nenhum cenário é sólido o bastante que não possa mudar. É unanimidade entre os analistas de mercado e a cadeia produtiva que os preços do arroz no restante de 2017 e em 2018 devem permanecer baixos mesmo confirmada a retração de área e de produção importante no Brasil, na Argentina e no Uruguai.
As causas apontadas: estoques de passagem brasileiros em torno de 1,5 milhão de toneladas e safra acima de 11,3 milhões de toneladas, o que deve gerar uma oferta doméstica similar à de 2017; a disponibilidade de mais de 2,5 milhões de toneladas do Mercosul; o câmbio, que deve seguir favorável às importações; o custo de produção nacional, que deve permanecer alto; e a competitividade maior do produto paraguaio, uruguaio e argentino.
O endividamento do setor, a falta de acesso ao crédito oficial e o alto custo do financiamento privado também complicam a vida dos rizicultores.
Para mudar este quadro, a cadeia produtiva tem apenas duas esperanças: um câmbio que leve o dólar para R$ 3,50 e a intervenção do governo no sentido de enxugar mercado, seja por mecanismos como Prêmio de Escoamento de Produto (PEP) e Prêmio Equalizador Pago ao Produtor (Pepro) ou por incentivos à exportação.
Do ponto de vista estrutural, os arrozeiros seguem demandando redução da carga tributária, isonomia do ICMS para produtos da cesta básica e cumprimento de regras fitossanitárias sobre o arroz do Mercosul, mas a imobilidade do governo federal não gera muita expectativa. A elevação do preço mínimo pode dar respaldo à comercialização.
O preço do arroz longo fino em casca para Rio Grande do Sul e Santa Catarina teve aumento de 2,97%, de R$ 34,97 para R$ 36,01 a saca de 50 quilos, na safra 2017/18.
Para as regiões Sudeste e Nordeste e os estados do Paraná, Mato Grosso do Sul e Goiás, subiu 2,95%, de R$ 41,97 para R$ 43,21 a saca de 60 quilos. Em ambos os casos, as cotações estiveram abaixo destes patamares em setembro e outubro de 2017.
Voltando a esses padrões, forte possibilidade durante e após a colheita – entre fevereiro e julho de 2018 –, os preços exigirão que o governo intervenha. Até o início de novembro, embora algumas regiões estivessem abaixo do patamar da Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM) em vigor em 2017, o governo federal não promoveu nenhuma intervenção no mercado porque o Ministério da Fazenda argumentou que a média de preços ficou acima dos R$ 34,97 válidos. E houve pequena reação em outubro, para mais de R$ 36,50.
Henrique Dornelles, presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), considera a situação preocupante. Segundo ele, em 2017 o arrozeiro não teve renda e em 2018 há grande chance de operar também no prejuízo.
“No primeiro semestre, dificilmente avançaremos a um patamar de preços acima do custo, levando em conta o panorama que se apresenta, a menos que o governo atenda nossas demandas e obtenhamos algum êxito nas ações para restringir o mercado ao arroz barato do Mercosul, que usa defensivos proibidos no Brasil”, reconhece.
Para o dirigente, só um milagre, como uma grande quebra na produção de algum dos países do Mercosul, uma alta inesperada nos preços internacionais ou alteração no câmbio, pode mudar o cenário. “Ou uma intervenção do governo no mercado e na exigência de verificação das regras do Mercosul, que não estão sendo observadas pelo Paraguai, por exemplo”, considera.
Tiago Sarmento Barata, diretor comercial do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), considera que o custo de produção nacional é o maior problema enfrentado pelo setor, pois retira a capacidade do arroz gaúcho de concorrer e é contra a redução de área como estratégia. “Reduzir a área aqui aumenta no Paraguai”, afirma.
Barata diz que há uma substituição do arroz brasileiro pelo ingresso do grão paraguaio em São Paulo e Minas Gerais, que pode ser mostrada em números. Por isso a Federarroz ingressou na Justiça para fechar as portas a este produto.
As regras do Mercosul permitem a adoção de salvaguardas – como taxas de importação e cotas – em situações especiais. A Federarroz considera que o atual quadro configura uma destas situações. E há também as questões sanitárias que embasam a demanda da entidade.