A força das marcas regionais

Augusto Hauber Gameiro
Projeto Arroz Brasileiro
gameiro@natural.agr.br
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Empacotadoras regionais estão presentes em muitos municípios brasileiros. São empresas que adquirem o arroz já beneficiado nas regiões produtoras, empacotam-no e colocam suas marcas. Essas, bastante conhecidas localmente, gozam da preferência de muitos consumidores. 

Em nossa última análise do arroz no varejo apresentamos um ensaio sobre a presença das marcas de arroz nos supermercados. Considerando apenas o arroz branco tipo 1 em embalagem de 5 kg, foram identificadas 37 marcas em 12 meses, em seis supermercados, em dois estados (RS e SP). Constatou-se, também, que a maioria delas era encontrada em poucos supermercados e sem uma oferta contínua. Dentre essas estão as chamadas “marcas regionais”, oferecidas por empacotadores de pequeno e médio porte com influência local. 

Essas marcas, que muitas vezes levam o nome do próprio município , conquistam a preferência de muitos consumidores, sendo, portanto, importantes na configuração da concorrência no varejo. Nesta matéria são apresentados os resultados de uma pesquisa em dois municípios gaúchos, cujo objetivo foi identificar as marcas regionais.
Os pesquisadores do Projeto Arroz Brasileiro, em passagem pelo município de Torres no mês de janeiro, no litoral norte do Rio Grande do Sul, fizerem um levantamento nos principais supermercados da cidade, de todos os arrozes oferecidos. Essas informações foram comparadas com aquelas obtidas na pesquisa mensal em Pelotas, no mesmo mês.
Na tabela 1 são apresentadas as marcas encontradas em apenas um dos municípios.
Tabela 1. Marcas de arroz (polido ou parboilizado, embalagens de 1 kg ou 5 kg) encontradas exclusivamente em um dos municípios, no mês de janeiro de 2007.

 

 

Casualmente foi encontrado o mesmo número de marcas “exclusivas” nas duas cidades, sete. Torres, por ser divisa com o estado de Santa Catarina, recebe algumas marcas catarinenses. 

Em termos de preços, fez-se as médias dos produtos em três categorias: aqueles exclusivos em Pelotas, aqueles exclusivos em Torres e aqueles encontrados nas duas cidades. Os resultados são apresentados na tabela 2. 

Tabela 2. Preço médio dos arrozes em função de sua localização.

A primeira informação interessante é que os preços médios regionais foram inferiores àqueles dos produtos presentes nas duas regiões. A exceção foi o preço médio do arroz parboilizado em embalagem de 5 kg de marcas observadas apenas em Pelotas e não em Torres (R$ 7,96), que foi superior ao preço médio das marcas presentes nas duas cidades (R$ 7,23). 

Assim, observa-se que as marcas regionais são bastante competitivas. A principal explicação deve ser os custos logísticos inferiores. Mas não apenas isso. As empresas de marcas nacionais têm custos mais elevados com marketing, necessários para manter amplamente a sua imagem. Já as marcas regionais têm, no apelo da “importância de consumir um produto local”, provavelmente sua principal estratégia de promoção. 

Alguns consumidores valorizam muito os produtos da sua região ou cidade. Isso acontece para diversos produtos alimentícios, como o arroz, o feijão, o café e outros. Dessa forma, as marcas locais encontram mercado para sua manutenção. Por esse motivo, há no Brasil um grande número de empacotadoras de arroz. 

Para completar a análise, apresentamos a tabela 3, com um comparativo das médias dos preços das marcas que foram encontradas nas duas cidades (nos três principais supermercados de cada uma). 

Ainda que os dados da tabela 2 possam sugerir que os preços no litoral estavam menores que os do interior, a análise mais completa, por meio da tabela 3, mostra que não há uma tendência bem definida. Considerando todos os produtos e marcas, estatisticamente parece não haver diferença significativa. 

O que se observa é a já consagrada variabilidade de preços, que chega a níveis superiores a 30%, tanto para cima quanto para baixo.
Tabela 3. Comparativo do preço médio das marcas encontradas nas duas cidades, em janeiro de 2007. 

 

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