A gestão de pessoas no agronegócio. Um paradigma a ser mudado

As organizações passaram a compreender que todo o processo tem sua funcionalidade por meio das pessoas. Assim, passam a reconhecer que as pessoas são importantes e que são capazes de produzir com qualidade, gerando lucratividade para a empresa, ao mesmo tempo em que deixaram de ser vistas como mera mão de obra braçal, passando a colaboradores ou parceiros do processo. Nesse sentido, os recursos humanos também passam por um processo de transformação dentro das organizações e ganham força, inclusive no agronegócio.

Esse contexto introdutório a respeito das projeções e atuação no agronegócio nos induziu a refletir sobre a construção de um processo produtivo dependente das pessoas e, dessa forma, identificar a relevância da gestão de pessoas nesse setor a fim de garantir um ambiente qualificado e produtivo de trabalho. A partir de um levantamento sistemático das publicações nacionais percebemos que será importante aprofundar estudos nessa área de gestão de pessoas, pois o aumento de produtividade passará obrigatoriamente pela gestão dirigida ao trabalhador campesino e sua família. As novas tecnologias em máquinas e produtos visando aumento de produtividade necessitarão de um trabalhador qualificado que possa desenvolver suas capacidades e seus talentos, com a valorização do trabalho no campo.

Os estudos realizados trazem à discussão o comportamento, em termos organizacionais, que as empresas agrícolas atualmente se utilizam, ou seja, controle de pessoas (um manda o outro faz). Elas necessitarão muito em breve criar condições para a mudança haja vista a forma como processos de gestão de pessoas vêm sofrendo alterações, que deverão ser implementadas na busca de melhorias nas condições de trabalho e novas formas de valorização dos serviços realizados pelo trabalhador rural, onde a participação nos resultados e a gestão por competências são exemplos de formas novas na gestão de pessoas. Este é um tema que, apesar da demanda nas empresas estar crescendo, ainda não tem a devida atenção, mesmo considerando-se a literatura que descreve maneiras bem atuais na forma de se tratar as pessoas dentro da organização. Para os principais processos de gestão de pessoas, a bibliografia nos aponta por meio de alguns autores definições que muito nos ajudarão a tecer considerações que se relacionarão com esses assuntos, tais como: recrutamento e seleção, treinamento e desenvolvimento, remuneração e valorização, retenção de pessoas e rotatividade.

A gestão de pessoas no agronegócio constitui-se numa ferramenta importante no que diz respeito à valorização, retenção e qualificação das pessoas, considerando que atualmente, nas propriedades rurais, o avanço tecnológico das máquinas, bem como as novas técnicas de plantio, exigem investimentos na formação de pessoas que atendam a demanda dessas empresas. De acordo com a FGV (2013), o turnover, ou seja, a alta rotatividade dos funcionários, é um grande problema para as empresas brasileiras. Uma pesquisa global da Robert Half, maior empresa de recrutamento especializada do mundo, realizada com 1.775 diretores de recursos humanos de 13 países, mostrou que o Brasil é o campeão mundial em turnover e esse índice aumentou em 82% nas empresas desde 2010, mais que o dobro da média mundial, que foi de 38%.

Considerando que vivemos num mundo globalizado, o crescimento das demandas dos mercados exige um constante aumento da produtividade e, por consequência, uma mão de obra cada vez mais especializada e qualificada. De modo geral, as empresas rurais ainda têm uma gestão bastante empírica em todos os processos, e isso inclui a gestão de pessoas. Nesse sentido, embora já existam empresas que praticam uma gestão de pessoas, ainda há muito espaço para se ampliar essas ações. Pelas colocações esboçadas, acreditamos que a gestão de pessoas no agronegócio será a grande mudança para o meio rural nas próximas décadas, com pessoas enraizadas e comprometidas, remuneração justa, valorização eficaz e treinamento e desenvolvimento constante na propriedade agrícola.

No mundo globalizado em que vivemos, as mudanças são cada vez mais radicais e investir na empresa rural já não significa simplesmente adquirir novas máquinas e equipamentos, mas buscar no ser humano e no seu intelecto o novo: talentos, habilidades, ideias novas e capacidades. Por isso é que se tem observado que tanto os proprietários como os gestores do meio rural estão confusos e necessitando rever seus paradigmas. No momento, a palavra de ordem é mudança de paradigma, e será necessário conviver com essas mudanças, pois o mundo está veloz.

O agronegócio brasileiro vem crescendo a passos largos, ou como se fala no linguajar gauchesco, a galope, porém a forma de gerir uma empresa rural continua gatinhando, uma vez que vivemos num mundo capitalista, onde tudo que se faz gira em torno do capital, da lucratividade e da produtividade. Esquece-se que quem faz tudo isso evoluir são as pessoas e são elas as que menos se busca valorizar. Muitas vezes o gestor rural deixa de escutar o que seus empregados têm para falar e muito menos lhes dá o feedback daquilo que foi trazido como forma de melhorar o trabalho agrícola. O gestor rural não realiza um brainstorming no intuito de buscar soluções para os impasses que surgem, com isso não deixa que potencialidades individuais apareçam de forma espontânea e contributiva, impedindo desta forma que as pessoas se envolvam mais com o trabalho. O trabalhador necessita envolver-se mais e melhor, para tanto, urge a necessidade de que a maneira de tratá-lo e valorizá-lo seja eficaz. Algumas ações precisam ser praticadas a fim de que o potencial criativo dos colaboradores seja aguçado e venha a ser utilizado para ajudar na solução de problemas, muitas vezes repetidos na empresa agrícola pela sua rotina diária.

Outro fator que deve ser atacado nas empresas rurais é a resistência às mudanças, buscando incentivar os colaboradores para que digam de suas expectativas e anseios, informações estas que facilitarão ao gestor tomar decisões que vão ao encontro de tais expectativas e anseios. O nível tecnológico das máquinas e equipamentos avança de forma vertical, tudo computadorizado, enquanto a mão de obra decai na mesma verticalidade, uma vez que a sua qualificação não evolui como deveria.

O trabalho rural, ou campesino, por si só é um trabalho bruto, que exige certa virilidade do homem, e a forma como a grande maioria dos proprietários rurais ainda enxerga a mão de obra agrícola é que colabora para que o êxodo não deixe de existir, pois uma grande parte dos campesinos, embora mais lento do que antes, já migrou para os centros urbanos em busca de melhores salários, condições mais dignas de trabalho, valorização, etc. Mas o repensar desses gestores fará a grande mudança deste processo, haja vista estarmos vivendo um processo de passagem onde os gestores mais velhos estão transferindo para os seus filhos (novos gestores) a responsabilidade de continuar a produção de alimentos nas suas propriedades. Diante desse fato novo, alguns produtores rurais, e mais precisamente empresas rurais, já começam a pensar diferente, onde a chave do processo começa a ser a pessoa (trabalhador).

Nesse sentido, vislumbra-se uma nova aurora para o meio rural: a utilização da mão de obra feminina começa a surgir com mais vigor. A mulher, por ser mais cuidadosa, mais atenta e mais amiúde nas atividades que realiza, trará grandes benefícios ao trabalho rural. Desta forma poderemos estar assistindo ao começo do retorno do homem ao campo, já que a mulher é a mola-mestre nesse processo do êxodo, pois é a partir dela que o homem cria suas raízes, seja no lugar que for. Ela vislumbra o sacrifício e não enxerga a valorização que seu companheiro (trabalhador rural) poderia receber. Agora, com o uso da sua própria mão de obra, agregando remuneração familiar e buscando realização pessoal e da família, ela poderá novamente fazer com que as raízes da família campesina voltem a se alastrar pelo meio rural. É por meio da mulher que, como falamos anteriormente, iniciará o êxodo invertido, mas será necessária a mudança dos gestores, e isso também começa a se revitalizar.

Frisamos que essa será a grande mudança para o meio rural nas próximas décadas: pessoas enraizadas e comprometidas, remuneração justa e valorização eficaz, treinamento e desenvolvimento constantes na propriedade agrícola e produção e produtividade cada vez mais elevadas. Isso porque acreditamos, a partir dos dados esboçados nesse trabalho, que o Brasil tem grande potencial para tudo isso acontecer, mas se a distribuição de renda for eficazmente implantada.

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