A hora H

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O arroz corre atrás do tempo perdido

Tempestade perfeita projeta novo patamar de mercado do arroz

Se a conjugação do comportamento do dólar, a pandemia que causou uma corrida mundial aos alimentos, a redução dos estoques e áreas cultivadas no Mercosul, logo após uma quebra na colheita dos Estados Unidos de 2019 gerou uma “tempestade perfeita” para os preços do arroz em 2020, 2021 poderá ser o ano de consolidação deste novo patamar de valores ao longo da cadeia produtiva. Sinais de que o cereal não recuará aos níveis de preços dos últimos anos nesta temporada, são apontados pelos diversos elos.

Após uma década em que a média de preços superou apenas duas vezes o custo de produção, o setor entende que chegou a “hora H” da valorização. A cadeia produtiva aguarda cotações acima das médias anteriores à pandemia. Entre os rizicultores a expectativa é maior. “A conjuntura é favorável à permanência de preços mais elevados”, adianta Carlos Cogo, analista que fará palestra sobre tendências dos mercados de arroz e soja n a Abertura da Colheita do Arroz, em Capão do Leão (RS).

O segmento projeta cotações médias entre R$ 80,00 e R$ 100,00 para a saca de arroz em casca, no Rio Grande do Sul. Em 25 de janeiro, mesmo com queda 5,12% no mês, o indicador Esalq/Senar-RS estava em R$ 89,10, equivalente a US$ 16,17.

A tendência se percebe em várias frentes. Duas semanas antes da colheita abrir no RS, os preços firmaram ao redor dos R$ 90,00 e não houve interesse de venda. “Nunca, em 30 anos de lavoura, recebi dono de indústria na minha casa. Esta safra foram três”, revela um produtor da Depressão Central que negociará a soja na colheita e manterá o arroz para “mais tarde”.

Os preços internacionais se mantêm historicamente em torno de US$ 12 dólares, mas numa temporada comercial atípica, a moeda brasileira esteve entre as que mais desvalorizou no mundo. Aliado a isso, os preços reagiram e ajudaram a exportar. Soma-se a antecipação das compras pelo pânico no mercado doméstico, e se tem uma cotação recorde. Câmbio e relação de oferta e demanda determinarão os valores e o fluxo de negócios em 2021, que não apresentam nenhum indício de voltar aos níveis do início de 2020.

O teto será o que o mercado interno aceitar pagar e o piso será o referencial de exportação. Se o preço, com um câmbio acima de R$ 5,30 x US$ 1,00 se aproximar de R$ 80,00 dará impulso a negócios de grão em casca no porto para a América do Sul e Central, que já estão demandando, e quebrados para a África, que sofre com redução da oferta da Ásia. Isso limitará a queda.

Não surpreenderia, portanto, a ocorrência de alguns picos de valores superiores aos alcançados em 2020, pois há fatores importantes, como os mais baixos estoques da história recente do Mercosul, uma safra menor e uma imunização mais lenta do que o previsto nos países em desenvolvimento. Mas, é preciso ficar de olho na reação do consumo e o anunciado fim do auxílio social. No final das contas, para os produtores, resta uma certeza. Não será um ano – ou dois – de boas cotações que irá recuperar os prejuízos de uma década.

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