A indústria 4.0 vem aí

 A indústria 4.0 vem aí

A indústria do arroz moderniza estruturas, máquinas, canais de comercialização, produtos, mas num mercado globalizado e comandado pela tecnologia, em busca da máxima eficiência, os desafios são contínuos. Conversamos com o engenheiro agrícola especialista em Gestão e Comércio Exterior, JOÃO GERALDO TELIS, 47 anos, gerente comercial da Garten, líder em tecnologia de automação em processos de arroz. Ele prevê mudanças.

Planeta Arroz – Como surgiu a Garten?
João Telis – A Garten foi fundada pelo engenheiro eletricista Julio Carlos Baumgarten, em 1994, começando com instalações elétricas industriais. Em 1997, ele identifica a necessidade da indústria do arroz aperfeiçoar a qualidade em todas as fases de produção para reduzir custos do beneficiamento e padronizar o produto final. O desafio foi realizar a primeira automação em uma indústria de arroz no Rio Grande do Sul. Com o êxito do projeto, foi uma questão de tempo tornar-se referência na América Latina. Hoje, além da indústria do arroz, oferecemos soluções ao processamento de café, trigo, feijão, açúcar, amendoim, etc. A empresa fabrica equipamentos com tecnologia própria que auxiliam na automação industrial e completam o portfólio.

Planeta Arroz – Como avalia o status tecnológico das indústrias?
João Telis –
No Brasil, dependendo do setor, existe campo para evoluir. Há carência de tecnologia de industrialização no agronegócio.

Planeta Arroz – Quais os gargalos para a modernização em pequenas e médias processadoras?
João Telis –
Faltam incentivos do governo, seja facilitando o acesso a financiamentos de baixo custo ou com benefícios fiscais a quem deseja modernizar a indústria, deixando-a mais segura e competitiva perante as grandes. A automação traz processos controlados que garantem qualidade ao produto final e baixo custo.

Planeta Arroz – Quais as tendências do beneficiamento de arroz?
João Telis – A indústria caminha para a tecnologia 4.0, propondo processos de manufatura descentralizados, interconexão entre sistemas e maquinários, armazenamento na nuvem, acessos remotos, utilizando ainda a tecnologia IoT (internet of things / internet das coisas), que pode ajudar no controle da qualidade e fiscalização do trabalho do pessoal dentro da indústria, garantindo segurança em áreas de risco. Quem não aderir a essas tendências/mudanças perderá competitividade. O setor continuará a investir na modernização que passa por adquirir máquinas automatizadas, com facilidade de comunicação, baixo consumo de energia elétrica, maior qualidade e produção, baixa manutenção, alta eficiência e precisão no que entrega e a totalidade da informação do que ocorre no processo produtivo. Informação é poder. Sem ela, administrar de forma segura e eficiente é arriscado e tem alto custo.

Planeta Arroz – No arroz parboilizado há essa preocupação…
João Telis –
O Brasil possui sistemas de automação para unidades de parboilização projetados para isto, com o controle preciso das variáveis de operação como temperatura de encharcamento, pressão de autoclave, tempos de processo, umidade de grãos, índices de gelatinização, quantidade de toneladas de arroz e litros de água. O domínio de trabalhar todos esses dados com alta precisão e em tempo real faz diferença para que se obtenha um máximo de qualidade com um mínimo de perdas e uso de insumos. A tecnologia traz segurança, qualidade, menores perdas e maiores lucros, fazendo que cada quilo de produto custe o menos possível.

Planeta Arroz – O Brasil é referência no parboilizado?
João Telis –
Via de regra há muita qualidade na cadeia do arroz do Brasil. Investimos em centros de pesquisas de excelência para o aumento do conhecimento, difusão e melhoria da qualidade. Nisso se destacam a Embrapa, UFPel, Irga e outros. Há 30 anos era comum as visitas de industriais brasileiros a outros países em busca de tecnologia, e encontravam diferença abissal. Hoje estamos no mesmo patamar e somos exemplo em qualidade na parboilização.

Planeta Arroz – Que avanços aponta na indústria arrozeira?
João Telis –
A abertura nos anos 90 permitiu importar equipamentos e obrigou as empresas nacionais a evoluírem. Todos ganharam com isso. A indústria utilizava brilhadores de arroz com adição de glicose de milho e talco, substituídos por polimento com aspersão d’agua. É um exemplo de evolução. Os avanços decorreram da introdução maciça de tecnologia. Investimos em tecnologia própria para melhorar os processos, máquinas e a maneira de conduzir plantas de processamento de arroz, feijão, café, soja, milho. Com isso procuramos tornar a produção eficiente (sem perda de tempo), aumentar a qualidade (controle perfeito dos processos) e reduzir desperdício, o que se traduz em maior competitividade.

Planeta Arroz – Qual o futuro das indústrias arrozeiras?
João Telis –
Em 30 anos a indústria passou de sistema atrasado à tecnologia de ponta. O futuro reserva o nivelamento com as mais avançadas do mundo, com emprego de ferramentas de gestão baseadas em automação de processos, operação de máquinas com uso de medidores automáticos em fluxo de umidade de grãos, brancura de arroz, densidade de grãos, pressão e temperaturas de processo. O operador humano ficará com a avaliação fina de qualidade e características subjetivas do produto, além de passar ao sistema de automação as metas de produção e parametrização dos equipamentos. O homem fará o gerenciamento inteligente do processo e o sistema de automação garantirá o produto definido com centenas de leituras de sensores por segundo. O futuro na visão da Garten tem o homem na condução inteligente da produção e a máquina fazendo o serviço pesado, com qualidade e sem riscos às pessoas.

Planeta Arroz – O Brasil está em sintonia com as tendências globais?
João Telis –
Os fornecedores de tecnologia estão conscientes de para onde devemos caminhar, as grandes empresas do setor apostam no desenvolvimento de máquinas mais modernas, com pouca ou nenhuma ingerência do operador, mas há o que evoluir. Aquelas que continuarem nesse ritmo seguirão crescendo. São empresas preocupadas com as tendências que aplicam parte do faturamento em pesquisa e desenvolvimento, entregam o que prometem ao cliente e demonstram os resultados na prática, gerando rentabilidade.

Planeta Arroz – A indústria paraguaia é mais moderna?
João Telis –
O Brasil não perde em nada para a indústria do Paraguai. A tecnologia é a mesma. Logo, competimos em igualdade. Os diferenciais podem estar nos métodos de produção, manejo nas fazendas, assim como variedades, custos produtivos, logística, política comercial, etc. O momento do Paraguai é fruto de política industrial correta e ajustada ao mercado competitivo moderno, e investimentos em tecnologia de ponta em máquinas, equipamentos e processos da lavoura à indústria. Brasil, Argentina e Uruguai precisam acompanhar o ritmo de modernização para não perder competitividade.

Planeta Arroz – As indústrias brasileiras investem em modernização apesar da crise?
João Telis –
As empresas de ponta sabem que não podem parar, pois o mercado é competitivo. As pequenas e médias deveriam investir mais.

Planeta Arroz – Como a concentração industrial impacta no mercado de tecnologia?
João Telis –
Empresas com potencial maior de investimento são bem vistas pelos fabricantes de máquinas e fornecedores de soluções. Crescem e concentram mercado porque investem em tecnologia, pessoas, e até ao longo da cadeia produtiva, da produção até a distribuição. Geram demandas tecnológicas e fazem os fornecedores evoluir. O mercado é regulado pelo consumidor que quer produto de qualidade e baixo custo. A concentração se dá pelo investimento de tecnologia em qualidade dos produtos. Quem quer fidelizar clientes e aumentar as vendas busca os mecanismos.

Planeta Arroz – As arrozeiras estão comprometidas com o futuro?
João Telis – Vejo a cadeia do arroz comprometida com a melhoria de processos, preocupação com qualidade, aproveitamento dos recursos naturais, menor impacto ambiental e segurança aos colaboradores. Estamos em meio a uma crise econômica e política com impacto na sociedade, mas não se vê das autoridades o necessário apoio a produtores e industriais. Tem sido exigido da cadeia do arroz, particularmente, grandes investimentos na adequação às normas de segurança NR10, NR12 e outras. Seria saudável o apoio do governo com financiamentos em condições favoráveis e aproximação do Ministério do Trabalho para que as ações necessárias fossem aceleradas, com benefícios a todos os envolvidos.

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